quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O SER VIVENTE


O ser vivente definido pela biologia,
Pela mente que se faz mundo,
Que se dilui em palavra
E desaparece nas coisas
Através da experiência,
É um comporto entre um dentro e um fora.
É um apêndice da existência onde somos todas as coisas.
O que vive persiste em indeterminado  movimento.

AS MARGENS DO ÚLTIMO HOMEM

A nudez do vivente como experiência limite, como transbordamento do imediato,  como necessidade ferida, afeto distópico.

A existência transcende o tempo  e traça a geografia de nossa cotidiana fragilidade como novo paradigma ontológico.

Existimos em estado de necessidade, em deriva biológica. O orgânico transcende a forma homem.

O corpo é tudo que nos resta do mundo em tempos em a mente  experimenta vertigens históricas.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A RECUSA DO TEMPO PRESENTE

No combate ao tempo presente, ensaiamos devires, potencializando à vida em cada ensaio de imaginação.

Abandonarmos arquivos, já não queremos saber. Nosso rosto  não passa de um retrato antigo. Buscamos silêncios diante de um mundo mudo. Perseguimos à nudez das coisas.

O intempestivo nos ensina o futuro e aprendemos a  realidade como um relâmpago.

Reduzidos à condição de viventes, reinventado nossos corpos nômades em meio a desertos de existências tomadas.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

PENSAR E EXISTIR



De algum modo, desejo que essa escrita, que transborda para fragmentos de outras materialidades, descreve o próprio movimento de uma procura, procura que liga pensamento e existência em uma experiência fundamental, sendo essa procura a de uma andança.

Maurice Blanchot

Escrever é sentir, tocar, aprender, explorar, expressar... mas nunca é palavra morta jogada na folha.  Nunca é o sentido, o proposito, o arquivo, que de antemão determina o que pode ser dito. O caminho só existe através dos passos. Afinal, o que faz de andar algo mais do que um ato é o  encontro entre o chão e o corpo. Existir é isso: compor e costurar existires, existências. O mundo é uma serie ilimitada de combinações possíveis de arranjos.

Escrever liga pensar e existir na experiência de um movimento que não se move.

Tenha sempre letras dentro da pele!


FORMA E CONTEÚDO


Tudo que existe possui uma aparência e, portanto, uma fisionomia. Podemos conceituar fisionomia como aparência externa ou superfície epidérmica.

Contrariando o convencional, entendo a silhueta física e não apenas o rosto como fisionomia. A impressão física que comunica a presença de uma pessoa é o que aqui entendo como fisionomia.  Pressuponho que o rosto não gera uma impressão dissociada dos demais sinais corporais. Um rosto bonito não define atração física.  Não é preciso argumentar muito sobre isso.

Estamos aqui falando exclusivamente sobre forma e não sobre conteúdo. Principalmente porque a forma nos define mais do que o conteúdo. Através deste ultimo podemos ser reduzidos a equivalências e mimetismos socioculturais que nos afastam de qualquer experiência de singularidade. O mesmo não acontece com a forma que, não é exagerado dizer, nos apresenta uns aos outros como um ente especifico.

Nossa configuração física já é em si uma forma de relação e expressão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

INFLAÇÃO E SEDUÇÃO

Que sedução ainda pode encantar um texto diante do ilegível que define a mais bruta existência cotidiana? A vida nua é impenetrável para qualquer discurso. Ela resiste e se debate em apetites e afetos selvagens como um animal que explora uma paisagem virgem. A vida foge o tempo todo a domesticação da linguagem afirmando o corpo, a sinfonia de justos através da qual nos apropriados do mundo. 

O texto apela a consciência, ao artifício da cultura. Mas o que nos inspira é a exterior idade da imagem que alimenta a fantasia, o jogo, que aponta sempre para o indizível que transborda em nós como experiência.

O mundo vívido só é pleno quando é impreciso, quando nos arranca a identidade.

Que sedução ainda pode encantar um texto quando estamos saturados de signos ?

As palavras ardem agora em vertigem queimando dentro de algum livro fechado que nos contempla na mudez da estante.
Onde, ainda, afinal, o pensamento respira?

sábado, 3 de novembro de 2018

A PALAVRA NÃO DIZ O QUE É.

Tento me encolher dentro de uma palavra até que sua sonoridade se torne quase musical. Até que eu possa sentir seu gosto, despi-la da coisa que ela tenta dizer e transcender o falso jogo da representação. 

Há uma abissal profundidade na abstrata superfície de uma palavra. Algo que nada comunica. A palavra é um fato em si mesma. Ela é simulacro da própria realidade que inventa ao impor um significado ao caos da percepção e da consciência. Nunca subestime uma palavra.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O ABISMO DA NARRATIVA

A narrativa fugidia e incerta se reinventa em suas descontinuidades. Ela é incapaz de reter um sentido. Já não significa qualquer coisa. Não é feita para o entendimento, mas para o cultivo de derivas. Ela é a escrita despida de si mesma. Não oferece aos olhos famintos qualquer alimento. Ela é um aprendizado de silêncios contra todos os textos que já foram escritos. Ela não pretende nada dizer. Não há mais um autor, qualquer sombra de humanidade. Há apenas um arremedo de comunicação. A narrativa fica a morte, desenha desaparecimento no entrelaçamento de palavras que inventam o sem fim de um pedaço qualquer de página.

O PROBLEMA DA LINGUAGEM E DE SUA INDETERMINAÇÃO



Não quero recorrer à erudição filosófica para falar sobre a linguagem e sua experiência concreta. Afinal, seja em qualquer perspectiva possível, falar sobre linguagem através da linguagem, é no mínimo uma espécie de paradoxo cognitivo. Mas infelizmente não existe um plano exterior a seu exercício ou analise. O ser da linguagem nos escapa, pois não se identifica com o conteúdo de qualquer texto ou narrativa possível que lhe tome como objeto. Não é algo representável. Sua própria significação como experiência de letramento, como exercício normatizado do uso de signos e símbolos que se entrelaçam em significados, que se afastam dos ritos e recursos da fala, não pode ser satisfatoriamente definido conceitualmente.

O ser da linguagem antecede o texto, problemática exaustivamente explorada por Foucault ao longo dos anos 60 do século passado. Retomar o tema é constatar que a experiência da linguagem é a interiorização de exterioridades, é a desconstrução de qualquer noção de sujeito ou de interioridade. Desta forma, nos afastamos do segundo Wittigenstein e seus jogos de linguagem. Não é seu funcionamento que nos interessa, que nos esclarece qualquer coisa. Também recusamos a linguística e qualquer psicologia da linguagem. Ela escapa ao campo de qualquer saber e, ao mesmo tempo, perpassa todos.

Nada de conclusivo é possível dizer sobre o tema. Seu exercício é uma busca, um labirinto, que remete a questão da imaterialidade e indeterminação do sentido que encanta qualquer enunciado.

O que podemos afastar, é a ideia de que a linguagem destina-se a comunicação. Ela não é um meio utilitário ou um instrumento mecânico. 

terça-feira, 30 de outubro de 2018

INDETERMINAÇÃO E AMBIENTAÇÃO: UMA ESPECULAÇÃO FILOSÓFICA


A interseção entre inteligência e sensibilidade define a terceira parte da Ética de Espinosa e sua teoria dos afetos. É o que confere a sua filosofia o estatuto, já apontado por Deleuze, de uma filosofia prática fundada na experiência. Mas afeto não deve ser aqui entendido como um sinônimo de paixão, mas como uma relação de composição, como um agenciamento entre “corpos”. Tomando corpo como uma singularidade dinâmica e paradoxalmente incorpórea, expressão imanente de uma mesma substância infinita que podemos identificar como a própria natureza.

As afecções remetem ao aumento ou a diminuição da capacidade de agir. Os afetos são potências em variação que engendram modos de existência imanentes, formas de composição com o ambiente, de adicionar realidade a própria vida. Inteligência e sensibilidade não possuem qualquer caráter transcendente.

Derivo desta leitura de Espinosa, de forma muito livre, um conceito de ambientação onde não cabe qualquer dualismo corpo e mente, mas a ideia de uma geografia existencial onde o dentro e o fora compõem um modo de vida, uma forma de habitar a realidade, de reduzir-se a coordenadas como componente de um processo complexo e multifacetado. Vislumbro aqui uma cartografia de nós mesmos como interseção de multiplicidades onde mente, natureza, corpo, signos e símbolos, orgânico e inorgânico, compõem a experiência singularizada da impessoalidade diversa que articula o acontecer de um indivíduo. Individuo que não passa de um campo de afetações, de um afetar e ser afetado, e caracteriza-se como uma indeterminação.

Se somos através de diversas trocas definidos por uma ambientação a determinado meio, qualquer ideia de sujeito torna-se ilusória, tão virtual como o próprio ego que, em uma visão junguiana, não passaria de um complexo entre outros complexos, como a sombra, a persona, anima, animus, na estruturação de uma personalidade. Existe, assim, um paradoxo entre determinação e indeterminação. Ambos são diferentes perspectivas de uma mesma experiência do real que não pode ser reduzida a qualquer definição unívoca. Tudo  que há é uma espécie de ecossistema. Estamos sempre contidos em algo maior, contendo algo menor e esta lógica se reproduz ao infinito.