A distinção entre o sensível e o inteligível é um equívoco da razão representativa, do falso jogo do Ser e do devir. A experiência da existência é diluir-se entre coisas e processos múltiplos e simultâneos, em micro e macro processos e experiências de ver e dizer. Mas é através do nada de nossas praticas discursivas que toda a realidade é inventada como consciência e significado, como o acontecer de um sentido que nos consome e ultrapassa. Cada um de nós é incapaz de dar conta da experiência do mundo, das diversas manifestações do nada que preenche de existência tudo que se faz possível como realidade vívida.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
terça-feira, 7 de agosto de 2018
O QUE É LIBERDADE?
A liberdade não é um fundamento ontológico da condição humana. Em nossa relação com o mundo somos definidos pela necessidade.
A liberdade é uma construção, um artificio, que se confunde com uma ética e uma estética de vida. Desta forma ela modifica o modo como interiorizamos o mundo como acontecimento, como fluxo constante de experiências diversas.
Liberdade é elevar a imaginação e a arte a condição de afeto mediante diversas estratégias de des subjetivação
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
O QUE SOMOS NÓS? SOBRE FOUCUALT E A HERMENEUTICA DO PENSAMENTO
Uma passagem de Paul Vayne em
Foucault: O Pensamento, A Pessoa, nos instiga a pensar as formações históricas
e as práticas discursivas que circulam e configuram uma época e sociedade:
“ Em cada época, os contemporâneos encontram-se assim fechados em
discursos como em aquários falsamente transparentes, ignoram quais são e até
que existe um aquário. As falsas generalidades e os discursos variam através do
tempo; mas, em cada época, passam por verdadeiros. De tal modo que a verdade é
reduzida a dizer a verdade, a falar conforme o que se admite ser verdadeiro e
que fará sorrir um século mais tarde.”
A originalidade da pesquisa
foucaultiana está em trabalhar sobre a verdade no tempo sem, entretanto, cair
em qualquer forma de relativismo. O sujeito do conhecimento não é soberano, já
o sabemos desde Freud e Nietzsche, tal premissa inspira em Foucault uma hermenêutica
das práticas discursivas ou estabelece o domínio de uma espécie de “inconsciente do saber”
no além dos universais antropológicos.
O discurso se impõe como um a
priori histórico configurado por dispositivos de saber/poder, estabelece um
regime de verdade que define, em todos os níveis das praticas cotidianas, o
verdadeiro e o falso, o possível e o impossível. A ontologia diferencial de nós
próprios torna-se neste contexto, parafraseando Paul Vayne, uma exegese histórica
de nossos limites, nos permite ousar pensar diferente, em vez de legitimar
aquilo que já se sabe.
Trata-se aqui de pensar a atualidade
da Filosofia como um trabalho critico do pensamento sobre si mesmo, como uma
critica permanente da precariedade de nosso ser histórico.
Afinal, o que somos nós?
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA VONTADE: UMA RELEITURA
“A filosofia da vontade, segundo Nietzsche, deve substituir a antiga
metafísica: ela a destrói e a ultrapassa. Nietzsche acredita ter feito a
primeira filosofia da vontade; todas as outras eram metafísica. Tal como a
concebe, a filosofia da vontade tem dois princípios que formam a alegria da mensagem:
querer = criar, vontade = alegria.”
Guilles Deleuze in Nietzsche e a
Filosofia
A crítica contemporânea ao saber
e seus territórios disciplinares é uma critica não apenas as relações
institucionais de poder que ele engendra. É também uma recusa de suas técnicas do
dizer/verdade ou, mais especificamente, da teoria da representação. É através
dela que se estabelecem os assujeitamentos, a adequação dos indivíduos a práticas
discursivas que materializam uma normatização da vida e configuração artificial
da realidade, que nos são impostas meta narrativas que funcionam como um
conjunto de forças, como um dispositivo. Atribuir sentido, interpretar signos e
símbolos, desta forma,tem se confundido desde o Platonismo, com o esforço
social de engendrar modos de vida e valores que nos conformam ao rebanho. O
conhecimento é visto como o dizer verdadeiro e, por isso, ungido a condição de
norma e arbitro de relações de poder ou de controle pelo seu valor de verdade,
pela capacidade de organizar a sociedade, a partir do critério do verdadeiro e
do falso.
Uma filosofia da vontade, tal
como proposta por Nietzsche, destina-se, ao contrário, a criar vida, a
elevar-se ao poder do falso, da arte, da criação de novos valores, que
estabelecem o devir ativo como identidade criadora do poder e do querer que
apontam para novas formas de vida.
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
O PROBLEMA DA SUBJETIVAÇÃO NA CONTEMPORÂNEIDADE
A obra tardia de Foucault
inaugurou o horizonte de uma ontologia histórica quando nos dois últimos volumes
de sua História da Sexualidade e ao longo dos seus últimos cursos no Colege de
France, ocupou-se do modo como nos tornamos sujeitos através das praticas
discursivas (saber) e de poder que constituem o cuidado de si na cultura
ocidental.
Mas são as implicações contemporâneas
de suas pesquisas que aqui me interessam. As estratégias de subjetivação estão
condicionadas as formações históricas, a dispositivos historicamente construídos
para produção de sentido em cada sociedade. Mas na contemporaneidade a
subjetivação já não mais se confunde com o assujeitamento, com a constituição
de identidades. Subjetivação pressupõe
hoje uma diferenciação ilimitada, aponta para desterritoriarizações, linhas de
fuga e reterritoriarizações que passam pela vertigem do estranhamento, por uma
diferenciação radical dos códigos sociais vigentes e a busca por novas “formas
de vida” ou intuições de outra existência possível. Há na contemporaneidade
novas potências condicionando a relação de cada um de nós consigo mesmo que
apontam para uma condição de indeterminação. O que se perdeu foi a identidade
entre sujeito e verdade permitindo a subjetivação instituir-se como um campo aberto de experiências e experimentações.
Mas como podemos ser livres e
praticar liberdade em uma sociedade onde aflora uma verdadeira anarquia simbólica, onde não há mais a referência de um sujeito soberano e unioversal?
Como podemos ainda dizer o que é liberdade quando já não partimos mais da
referencia moderna de um eu abstrato capaz de produzir o mundo a sua imagem e
semelhança, como um espelho que configura sua auto imagem? Já não há jogos de
verdade, qualquer enquadramento moral, que defina as práticas e técnicas de si.
Há um sentimento de inquietação, uma compulsão a se expressar contra um mundo
cada vez mais hostil e ilegível a consciência diferenciada. O que pode ser dito
com alguma segurança é que o que estamos buscando em meio a tudo isso ainda não
tem nome.... Talvez, passe por uma releitura do conceito de individuação
desenvolvido por Jung e que pressupõe uma coincidência entre o sentido e o não
sentido, entre o ser e o extra ser da experiência arquetípica. É a forma-homem
que nos parece ultrapassada no sentimento de exterioridades, de um lado de fora.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
O VAZIO DE NOSSAS PALAVRAS
A pragmática de nossas cotidianas práticas discursivas resume-se a tagarelice. Falamos demais; poluímos tudo com palavras, discursos. Estamos sempre explicando, representando, conceituando. O mundo é o discurso e não a experiência do corpo, corpo que ignoramos como fonte de imaginação das coisas. É sempre a partir da norma que definimos o real, o experimentável ou simplesmente o existente e o verdadeiro como, antes de tudo, um ato verbal. Desde o século XIX habitamos uma imagem demasiadamente empobrecida e desencantada das coisas. Tudo foi reduzido a normativa, suas empirias e utilitarismos, as afetações dos discursos e disciplinas.
IMPROVISO DELEUZEANO
A exuberância das incertezas, dos
desconfortos, da inadequação as cristalizações sedentárias e culturais, aos
modelos, é o que nos lança sempre e cada vez mais ao desafio de novos valores e
preceitos. O cultivo da veracidade, a vontade de verdade, já não nos assossega
ou seduz. Queremos a vida plena na transvaloração dos valores. Buscamos a superfície
dos acontecimentos, os efeitos incorporais da mistura dos corpos no limiar de
um devir-linguagem, de uma desteritoriarização verdejante. A nervura do real é
a dobra do lado de fora que constitui um dentro, que inventa esse vazio que é
aquilo que somos. A consciência discursiva de um pensar reverso de toda a história
da filosofia é o que nos resta contra o presente.
terça-feira, 31 de julho de 2018
A ARTE DE DECIFRAR
A arte de
decifrar confunde-se com a experiência da interpretação. Assim, combina
cumplicidade e imparcialidade na produção do sentido de um texto ou de uma
realidade. Mas não se trata de um exercício de dedução no melhor ou pior uso do
aparato caduco da tradição do pensamento. Trata-se de comprometimento, de
pensar onde não somos, de adentrar labirintos. A compreensão de qualquer coisa é
sempre interpretação e, portanto, pressupõe algo de falsificação, de reinvenção.
Não é a verdade das coisas que alcançamos, mas sua simulação. Não é o sujeito
fundante do Ser como pensamento que nos substitui no ato de decifrar. O enigma
inventa a si mesmo e já contem sua própria resposta. Desta forma, o sentido
possui sua soberania. Mas não remete a um significante ou a um significado, mas
a um revelar-se como exterioridade interiorizada, como um fora que se torna
dentro. Decifrar é movimento, é um estado e não um ato. Ele é o exercício de
uma mobilidade labiríntica.
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