quinta-feira, 2 de agosto de 2018

O PROBLEMA DA SUBJETIVAÇÃO NA CONTEMPORÂNEIDADE




A obra tardia de Foucault inaugurou o horizonte de uma ontologia histórica quando nos dois últimos volumes de sua História da Sexualidade e ao longo dos seus últimos cursos no Colege de France, ocupou-se do modo como nos tornamos sujeitos através das praticas discursivas (saber) e de poder que constituem o cuidado de si na cultura ocidental.

Mas são as implicações contemporâneas de suas pesquisas que aqui me interessam. As estratégias de subjetivação estão condicionadas as formações históricas, a dispositivos historicamente construídos para produção de sentido em cada sociedade. Mas na contemporaneidade a subjetivação já não mais se confunde com o assujeitamento, com a constituição de  identidades. Subjetivação pressupõe hoje uma diferenciação ilimitada, aponta para desterritoriarizações, linhas de fuga e reterritoriarizações que passam pela vertigem do estranhamento, por uma diferenciação radical dos códigos sociais vigentes e a busca por novas “formas de vida” ou intuições de outra existência possível. Há na contemporaneidade novas potências condicionando a relação de cada um de nós consigo mesmo que apontam para uma condição de indeterminação. O que se perdeu foi a identidade entre sujeito e verdade permitindo a subjetivação instituir-se como um campo aberto de experiências e experimentações. 

Mas como podemos ser livres e praticar liberdade em uma sociedade onde aflora uma verdadeira anarquia simbólica, onde não há mais a referência de um sujeito soberano e unioversal? Como podemos ainda dizer o que é liberdade quando já não partimos mais da referencia moderna de um eu abstrato capaz de produzir o mundo a sua imagem e semelhança, como um espelho que configura sua auto imagem? Já não há jogos de verdade, qualquer enquadramento moral, que defina as práticas e técnicas de si. Há um sentimento de inquietação, uma compulsão a se expressar contra um mundo cada vez mais hostil e ilegível a consciência diferenciada. O que pode ser dito com alguma segurança é que o que estamos buscando em meio a tudo isso ainda não tem nome.... Talvez, passe por uma releitura do conceito de individuação desenvolvido por Jung e que pressupõe uma coincidência entre o sentido e o não sentido, entre o ser e o extra ser da experiência arquetípica. É a forma-homem que nos parece ultrapassada no sentimento de exterioridades, de um lado de fora.



Nenhum comentário: