A obra tardia de Foucault
inaugurou o horizonte de uma ontologia histórica quando nos dois últimos volumes
de sua História da Sexualidade e ao longo dos seus últimos cursos no Colege de
France, ocupou-se do modo como nos tornamos sujeitos através das praticas
discursivas (saber) e de poder que constituem o cuidado de si na cultura
ocidental.
Mas são as implicações contemporâneas
de suas pesquisas que aqui me interessam. As estratégias de subjetivação estão
condicionadas as formações históricas, a dispositivos historicamente construídos
para produção de sentido em cada sociedade. Mas na contemporaneidade a
subjetivação já não mais se confunde com o assujeitamento, com a constituição
de identidades. Subjetivação pressupõe
hoje uma diferenciação ilimitada, aponta para desterritoriarizações, linhas de
fuga e reterritoriarizações que passam pela vertigem do estranhamento, por uma
diferenciação radical dos códigos sociais vigentes e a busca por novas “formas
de vida” ou intuições de outra existência possível. Há na contemporaneidade
novas potências condicionando a relação de cada um de nós consigo mesmo que
apontam para uma condição de indeterminação. O que se perdeu foi a identidade
entre sujeito e verdade permitindo a subjetivação instituir-se como um campo aberto de experiências e experimentações.
Mas como podemos ser livres e
praticar liberdade em uma sociedade onde aflora uma verdadeira anarquia simbólica, onde não há mais a referência de um sujeito soberano e unioversal?
Como podemos ainda dizer o que é liberdade quando já não partimos mais da
referencia moderna de um eu abstrato capaz de produzir o mundo a sua imagem e
semelhança, como um espelho que configura sua auto imagem? Já não há jogos de
verdade, qualquer enquadramento moral, que defina as práticas e técnicas de si.
Há um sentimento de inquietação, uma compulsão a se expressar contra um mundo
cada vez mais hostil e ilegível a consciência diferenciada. O que pode ser dito
com alguma segurança é que o que estamos buscando em meio a tudo isso ainda não
tem nome.... Talvez, passe por uma releitura do conceito de individuação
desenvolvido por Jung e que pressupõe uma coincidência entre o sentido e o não
sentido, entre o ser e o extra ser da experiência arquetípica. É a forma-homem
que nos parece ultrapassada no sentimento de exterioridades, de um lado de fora.