segunda-feira, 23 de julho de 2018

LINGUAGEM E ESCRITA



“O saber humano se espalha por todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido.”
Arthur Schopenhauer

Escrever não é um ato tão naturalizado como o falar. Exige uma postura que pressupõe um esforço para sistematização de um saber previamente articulado. Desta forma, o autor nunca é livre no ato de escrever. Ele não é o agente da escrita.  Ele replica o eco de vozes coletivas em seu fazer discursivo através de suas referencias. É o ler que permite o escrever, encadeando aleatoriamente discursos que se duplicam, que se dobram sobre si mesmos.

Escrever é sempre replicar um determinado saber. Mas longe de ser definido pela perícia com que se reelabora um dado saber eleito, o que realmente define um texto são os seus silêncios. Aquilo que é ignorado, paradoxalmente, torna um discurso viável. Eis o segredo de sua coerência na pretensão a um dizer verdadeiro.

Se o saber é múltiplo e diverso, irredutível a qualquer enunciado, todo discurso é parcial e introduz uma instabilidade em nossa codificação coletiva da realidade. Cada texto é como uma ferida aberta na gramatica do real, na multiplicidade das possibilidades do dizível.  Todo texto realmente significativo  deve anunciar seu próprio desaparecimento, sua superação. Ele é a experiência de um abismo, de um desassossego que nos afeta através das palavras. Escrever pressupõe um inacabamento da possibilidade do dito, um confronto com o indeterminado de um devir que é a própria linguagem.   


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