quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

COMO SER LIVRE SEM LIBERDADE

Nunca soube a alegria da liberdade,
As horas soltas nos atos vazios de fatos.
Nunca me perdi na sombra em uma tarde ensolarada.
Nunca fui o primeiro da fila.

Jamais provei o devir de uma existência nômade.
Mesmo assim, guardo dentro de mim
O selvagem prazer das incertezas extremas.



VIDA E PENSAMENTO

Poderia uma dada forma abstrata de pensamento tornar-se um destino? Converter-se em ethos, em um modo de saber o mundo que apaga inteiramente a presença de quem o pensa? Responder negativamente a esta questão é afirmar que a vida não cabe no pensamento. É matéria dos atos e intuições, domínio do corpo e das sensações.

A vida é tudo aquilo que ultrapassa as fronteiras do pensamento. A vida é o que se inventa como obra de arte.


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

METAFÍSICA DO BELO

“Como já foi mencionado é uma marca distintiva da humanidade o fato de nela o carater da espécie e do indivíduo estarem em cena separadas, de maneira que cada homem, em certa medida, expõe uma ideia inteiramente própria.”
A.    Schopenhaur in  Metafísica do Belo

O que é a arte? Segundo Schopenhauer em sua Metafísica do Belo, ela é o modo de consideração das coisas de forma independente da razão como princípio, em oposição a ciência e a experiência.
A arte é o domínio do gênio, daquele que procede intuitivamente, que possui a capacidade de apreender nas coisas efetivas sua ideia.
O gênio vê um mundo mais belo e claro, onde a representação não é obscurecida pela vontade. Sua sensibilidade intuitiva dialoga com a loucura aos olhos do homem comum.  



quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

RESPONSABILIDADE COMO FORMA DE LIBERDADE

Um dos grandes desafios que qualquer época coloca a um indivíduo é a responsabilidade por si mesmo. Por tal expressão entendo a necessidade de um constante exame de consciência que nos afaste, tanto do senso comum, quanto de qualquer adesão a conjuntos alternativos de valores e definições de vida.

Superar o comportamento mimético, fugir a multidão sem rosto, é assumir o risco de colocar-se a margem das convenções, mas também de suas contestações mais corriqueiras, expurgando de nossos discursos.

Reconhecer as contradições da realidade não nos conduz automaticamente a defesa de qualquer “deveria –ser”. Nos faz questionar como as coisas são, através justamente do que somos. Em outros termos, não se pode questionar o mundo sem questionar a si mesmo. Apenas entendendo a personagem que somos no teatro do mundo é que podemos sair do espetáculo com responsabilidade, recusar a ilusão dos significados.

Ser responsável por si mesmo é para a maioria assumir uma responsabilidade de consciência que resulte na dignidade de  responder pelos próprios atos. É basicamente um gatilho moral e conservador que faz pesar sobre o individuo a “espada da justiça”, a vontade de todos de forma coercitiva.

Mas aquilo que entendo por responsabilidade sobre si mesmo é algo bem diverso. Em lugar de um condicionamento do “eu” a lei ferrenha do “nós”, fazer de si mesmo objeto de responsabilidade é, simplesmente, ser para si mesmo.  E ser para si mesmo é  descobrir, em todos os contextos vividos,  um ponto de encontro entre os nossos tantos impulsos e vontades mediante uma espécie de equilíbrio hedonista. A responsabilidade deve ser uma forma de liberdade. Trata-se de fugir do mundo sendo intensamente através das coisas.






quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O ENTENDIMENTO COMO DEVIR

Problematizar aquilo que se coloca como evidente, como norma ao conhecimento, é buscar o outro sempre renovado do entendimento. Pois, enquanto esclarecimento de si, entendimento é a apreensão do devir. Sempre nos empurra para além do ponto no qual nos encontramos oferecendo uma possibilidade nova de significação, de subjetivação.

A transversalidade da apreensão de um sentido é a experiência que condiciona o encadeamento dos  enunciados. Que o reduz a um delicado artesanato, labirinto, onde nos perdemos na medida em que nos encontramos. Nunca existe um ponto final, um intinerário linear e teleológicamente dado.



INTERIORES URBANOS

Quero a cidade fechada
Dos caminhos labirínticos e dos interiores,
Aquela que foge da nudez dos espaços.
Que prefere a discrição da vida privada
Aos eventos públicos.

Quero justo esta cidade que só existe
Em meus roteiros afetivos.
Que não tem vida,
Nem mesmo um corpo definido.

Que é o quarto e a sala,
Toda forma de isolamento
E abrigo.

Quero sempre estar nesta cidade
Onde a própria cidade não existe.


SOBRE A CRÍTICA DO TEMPO PRESENTE



A reflexão sobre o tempo presente pressupõe a critica de nossas praticas mais corriqueiras e banais, o identificar do que somos através do contraste com o que não somos; com nossas recusas conscientes e resistências inconscientes. Esta é a única forma de saber o que estamos nos tornando: desmitificando quem pensamos ser.

A reflexão sobre o presente é também uma recusa do mesmo. Pois sabemos que o momento de agora não passa de um lugar de transição entre o passado e o futuro, exigindo sempre redefinições. Contrariando o senso comum, o presente não define onde estamos ou nossas ações, ele é onde já não estamos, mas ainda não é passado.



terça-feira, 9 de janeiro de 2018

SOBRE A VERDADE COMO JOGO

Na prática, a noção de verdadeiro e falso é um dispositivo de regulamentação social das relações humanas. É um jogo de poder, de  validação deste ou daquele saber sobre outros. Há algo de perigoso em afirmar uma verdade. Trata-se de um ato deliberado de parcialidade. Qualquer verdade é também a afirmação de determinados valores. Por isso muitas pessoas possuem necessidade da verdade para validar seu próprio mundo vivido, sua visão de mundo. em contrapartida desqualificam suas concorrentes no jogo por simples afirmação de identidade. Tomam a adesão a certos enunciados com pretensão a verdade como uma espécie de revelação redentora.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O SENSO COMUM COMO PROSA DO MUNDO

Em toda sociedade vigora uma prosa do mundo que se opõe a cultura erudita (livresca) e as suas polêmicas e disputas em torno da questão da verdade como norma de vida. De um modo geral as pessoas não tomam como referência a sofisticação acadêmica em seus engajamentos cognitivos e convenções de verdade. Buscam, ao contrário, o conforto e o sedentarismo do senso comum, onde as palavras funcionam apenas como uma convenção útil e necessária ao convívio humano, onde é possível viver de pequenas e cotidianas certezas verbais.

O senso comum é uma forma de representação coletiva do mundo orientada pelo razoável e por certo pragmatismo. Não exige grande lapidação intelectual e nem se coloca questionamentos muito profundos. Prima apenas pelo equilíbrio e pelo bom senso, mas, não raramente, confronta com a pretensão a verdade dos eruditos e suas novidades, dado que é necessariamente conformista e baseado em generalizações amplas.

Fugir ao senso comum é  habitar seu próprio discurso indiferente a prosa do mundo e as conformações de uma época. É inventar-se através do aprendizado de dizer a si mesmo. Mas isso também significa fugir aos lugares comuns da erudição e exige muta experimentação.