Um dos grandes desafios que
qualquer época coloca a um indivíduo é a responsabilidade por si mesmo. Por tal
expressão entendo a necessidade de um constante exame de consciência que nos
afaste, tanto do senso comum, quanto de qualquer adesão a conjuntos alternativos
de valores e definições de vida.
Superar o comportamento mimético,
fugir a multidão sem rosto, é assumir o risco de colocar-se a margem das
convenções, mas também de suas contestações mais corriqueiras, expurgando de
nossos discursos.
Reconhecer as contradições da
realidade não nos conduz automaticamente a defesa de qualquer “deveria –ser”.
Nos faz questionar como as coisas são, através justamente do que somos. Em
outros termos, não se pode questionar o mundo sem questionar a si mesmo. Apenas
entendendo a personagem que somos no teatro do mundo é que podemos sair do
espetáculo com responsabilidade, recusar a ilusão dos significados.
Ser responsável por si mesmo é
para a maioria assumir uma responsabilidade de consciência que resulte na dignidade
de responder pelos próprios atos. É basicamente
um gatilho moral e conservador que faz pesar sobre o individuo a “espada da justiça”,
a vontade de todos de forma coercitiva.
Mas aquilo que entendo por
responsabilidade sobre si mesmo é algo bem diverso. Em lugar de um
condicionamento do “eu” a lei ferrenha do “nós”, fazer de si mesmo objeto de
responsabilidade é, simplesmente, ser para si mesmo. E ser para si mesmo é descobrir, em todos os contextos vividos, um ponto de encontro entre os nossos tantos
impulsos e vontades mediante uma espécie de equilíbrio hedonista. A responsabilidade
deve ser uma forma de liberdade. Trata-se de fugir do mundo sendo
intensamente através das coisas.
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