“Com efeito, em uma perspectiva
estoica, é inútil querer juntar crença à objetividade, à radicalidade do
acontecimento! A crença é um valor fraco. Coloco a hipótese de que , por detrás
do sistema de crença com os quais
fabulamos um real e lhe damos um sentido, existe em todos ( e não se trata de
uma questão de inteligência ou de consciência) um empirismo radical que faz com
que, no fundo, ninguém acredite nesta
ideia de realidade. Cada um tem um limiar de radicalidade que lhe dá uma visão
do mundo fora de suas ideologias e de suas crenças. Não se deve juntar ao
desejo o pathos do desejo. Não se deve juntar à crença o pathos da crença. Não
se deve juntar à esperança a esperança. Todos estes valores nos afastam do
pensamento. Os estóicos sabiam disso. O importante é encontrar a distancia e o
despojamento. Tentar varrer esta proliferação ideológica, subjetiva ou
coletiva.”
Jean Baudillardm in O Paradoxista
Indiferente: entrevistas com Philippe Petit. RJ: Editora Pazulin, 1999, p.48
Somos pensados por algum sistema
de crenças que convertemos
em gramatica da realidade. As ideias nos pensam... Mas podemos duvidar de nossas convicções e
tentar perceber a realidade sem filtros ideológicos. É para isso que serve a
reflexão filosófica, esta estranha estratégia da consciência para questionar a
si mesma e a tudo aquilo que tomamos como verdade. No fundo nenhum de nós
encontra-se inteiramente adaptado ou convencido da realidade convencionalmente
estabelecida.
Muitas vezes me surpreendo
distante de minhas próprias certezas e vazio de mundo. Sou frequentemente
acometido por uma duvida radical sobre o sentido das coisas e o valor de
qualquer gramatica de mundo.