quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O HORIZONTE DO ALÉM DO HUMANO

Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizestes para superá-lo?” – Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, p. 13

Aprendemos com Nietzsche sobre a impossibilidade da morte de deus sem a superação da forma homem. Este estranho campo de batalha entre apetites diversos que agora se desfaz vitima da violência de seu próprio devir.

Superar ideias fechadas, os conceitos-prisões que definem os humanismos e o orgulho das conquistas da civilização. O pensar racional e conformista é feito de enunciados abstratos que estabelecem a ilusão de domínio sobre a realidade. Tudo que é compreensível e explicável é domesticado. Reduzimos a complexidade dos fenômenos a formulas simples e, assim, tomamos por resolvido o problema que é o mundo. Triste ilusão. Pois nos escapa a própria vertigem e absurdo de nossa condição humana e apenas inventamos uma realidade antropomórfica.

Mas o que nos espera além de toda consciência legada pela civilização? Talvez a reinvenção do corpo e dos sentido sem o peso do pensar metafisico baseado na  verdade objetiva que nos divorcia da concretude de nossa existência  finita em nome da ideia, dos conceitos, do contra-natural. É preciso que nossa ideia de realidade seja de algum modo mortalmente abalada para que este animal malfeito que é homem seja finalmente transcendido.

Sabemos que o humanismo é um conceito recente e demasiadamente moderno e, portanto, perecível.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

DEBATE

Como último recurso
Tentei responder a todas as suas perguntas
Calando minhas próprias dúvidas.
Desesperadamente busquei lhe explicar o nada.
Mas fomos envolvidos pela vertigem de nossas ocas palavras
E encontramos em um tumultuado silêncio
A melhor solução.

DENTRO DE UM MINUTO

Dentro de um minuto
No eterno passado do mundo
Direi provisoriamente meu sentimento das coisas.
Dentro dele existo indeterminado
No fluxo impreciso da consciência.
Sou nas sensações e gostos que definem o corpo.
Banal e inútil me desfaço no insignificante.
A vida é superficial,
É insípida como a água  em seu modo de ser essencial.
O significante transborda o significado.

E tudo acontece dentro de um minuto.

domingo, 11 de dezembro de 2016

AFORISMO SOBRE NOSSOS TEMPOS DE PÓS VERDADES

Em tempos de cacofonia de discursos conflitantes que se edificam sobre o cadáver do real, o significante espanca o significado na esquizofrenia dos enunciados.

Ultrapassamos a realidade no império efêmero das opiniões e overdose da razão.
Assim teve início a era da pós verdade.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O INDIVIDUALISMO COMO FUNDAMENTO DO ACONTECER SOCIAL

A vida social é  cotidianamente definida pela tensão e  conflito entre indivíduos. A pluralidade de interesses, perspectivas e sensibilidades que caracterizam os integrantes de um grupo ou sociedade é um dado elementar que verificamos a tomo momento e em toda parte. Muitos leitores, por exemplo, terão criticas a fazer a este texto, enquanto outros tomarão seu partido total ou parcialmente. O fato é que estamos sempre envolvidos em desacordos. Seria mais correto falar de uma federação complexa de indivíduos do que propriamente de sociedade.  A menos, é claro, que tomemos como séria a fantasia republicana fundada no abstrato princípio de soberania popular.

Estamos tão ocupados em reproduzir o que nos ensinaram sobre a realidade, mimetizar comportamentos sociais, que raramente nos ocorre a possibilidade de um estranhamento radical de todos os contextos sócio culturais nos quais estamos involuntariamente inseridos. Fomos induzidos a domesticar nossa singularidade em nome de abstrações racionais que atribuem demasiado valor ao social e suas instituições.


O cotidiano mais imediato de nossos tantos intercâmbios intersubjetivos evidenciam que, mesmo que a cooperação e o compartilhamento de uma série de referencias simbólicos definam os indivíduos inscritos em determinada cultura, ele não elimina as variáveis introduzidas pela peculiaridade das configurações de cada um.  No calculo social, o individuo é uma fator irracional apenas parcialmente controlável. Um enunciado elaborado por um único individuo pode contaminar certa quantidade de seus pares e ser replicado a ponto de constituir uma contra tendência as normatizações até então consensualmente estabelecidas e, em certas circunstâncias, impor-se como normativa emergente. A possibilidade do novo origina-se da iniciativa individual.   Isso não deve ser negligenciado. Pois, se os indivíduos integrantes de qualquer coletivo estão sempre vivenciando algum  tipo de  desconforto em relação as normativas sociais, quando um determinado individuo, elabora uma resposta para seu próprio contexto que também lhes atende, tal reposta não perde seu caráter singular, não se torna “coletiva”, pois, ao mesmo  tempo que se faz objeto de adesões,  também  sofre reelaborações e adaptações. Assim, mesmo uma formulação individual que se torna coletiva por suas consequências sociais, não perde nunca  sua singularidade.

UMA FILOSOFIA DO IMPOSSÍVEL

Sonho possível uma filosofia de questões insolúveis orientada para reproblematização de todas as respostas e soluções até agora imaginadas. Tal filosofia teria por vocação uma narrativa sem qualquer pretensão ou valor , dedicada  a exercícios de imaginação fadados a inconclusão e ao inacabamento. Falo de um exercício de reflexão perpetuamente aberto, indeciso e avesso a qualquer forma de instrumentalização.


Pensar deve ser um exercício lúdico a desafiar nossa ordinária consciência das coisas e mais arraigadas premissas cognitivas.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

FATO E MEMÓRIA

Observo os círculos que uma gota inventa na superfície serena do lago como se fosse o tempo acontecendo em torno do fato do meu nascimento.

O tempo é eterno retorno e esquecimento, enquanto experiência concreta da existência, não uma linha de fatos encadeados em direção ao nada como passamos a imagina-lo depois do seculo XVIII.

O tempo é a medida do inconsciente e se define na sucessão de gerações pelo esquecimento. A seletividade do que é lembrado não depende apenas do vestígio, mas da intensidade de nossas vivencias, de seu impacto passional, impessoal. É ele que define sua conversão a memoria e apropriação consciente como fato histórico.
O passado só é lembrado quando se torna uma presença que nos diz algo sobre o presente.


CORPO E SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO


“A palavra não é desprovida de sentido, já que atrás dela existe uma operação categorial, mas ela não tem esse sentido, não o possui, é o pensamento que tem um sentido, e a palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é apenas um acompanhamento exterior do pensamento” 
(Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção)


 A objetificação da realidade tornou-se o ponto fraco da modernidade ao estabelecer a ilusão dicotômica entre sujeito e objeto, ignorando a dimensão projetiva da consciência, a indeterminação das fronteiras entre o eu e o mundo. Mais do que isso, ignorou o corpo como lugar da significação das coisas e dimensão intuitiva e instintiva de toda representação do real.

Não existe intencionalidade desvinculada da dimensão irracional inerente ao próprio acontecer humano. Toda percepção do mundo é um estar no mundo e, portanto, experiência e subjetividade. O corpo que somos nós incarna o drama do mundo em nós através da consciência.

A autonomia da linguagem sobre a própria vida e sobre o próprio mundo, seu fechar sobre si mesma, define a ambiguidade do pensamento enquanto fato gramatical e experiência fenomenológica. Existe uma dimensão silenciosa da significação que esta sujeita ao arbítrio do inconsciente enquanto fonte de da própria consciência. O que é dito pressupõe sempre o não dito de nossas compulsões. O próprio conhecimento é um ato instintivo, uma compulsão que formata nossa adaptabilidade ao mundo vivido e experimentado.



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

MEMÓRIA, HISTÓRIA E "PRESENTISMO"

Tal como o excesso de informação, o excesso de memória nos torna passivos e indolentes através da banalização, do divorcio entre vivificação e cultura, entre mundo e experiência. Já não somos capazes de verificar os rastros do passado dentro do nosso presente. Nem mesmo nos interessamos mais por nossa própria historicidade. Pelo menos do ponto de vista de uma história racional e teleologicamente orientada para o progresso da humanidade. Sob as ruínas da modernidade dilaceramos o mito da razão triunfante e abandonamos as velhas meta narrativas para brincar entre os cacos de seus enunciados.

Somos agora uma pluralidade de forças e tendências em perpetuo devir e a deriva em um tempo presente cada vez mais elástico.

DESCONSTRUINDO CERTEZAS

É preciso lutar contra a arrogância das convicções antes que elas destruam nossas incertezas. O despotismo da verdade é nosso maior inimigo e, ao mesmo tempo, nossa sede, nossa fome. Precisamos lutar também, muitas vezes, contra nós mesmos, contra nossa compulsão a verdade, nossa vocação doentia ao universal e contra a ilusão de que somos plenos senhores de todas as nossas decisões. O decantado  triunfo da razão foi apenas um equivoco triunfante. Não passamos de animais miseráveis, de voluntários prisioneiros nos castelos da boa consciência edificado sobre solidas ilusões. Resta apenas nos refugiar nos subterrâneos das contradições inegáveis para vivermos  algumas noites de danação.