segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O NÃO SENTIDO DA HISTORIA

Como diziam os antigos, a História é como um grande teatro onde a Sorte (Fortuna) se diverte em atrapalhar nossos planos, nossas teleologias cotidianas ou sublimes idealizações éticas e intencionais. Dai a importância do não factual, pois a construção da realidade é um desafio diário ao qual cada indivíduo em sua privacidade ou no espaço publico da coexistência  responde com as possibilidades oferecidas por sua imaginação. No plano social nossas codificações e imagéticas cognitivas estão sempre em processo de construção e reconstrução ou, simplesmente, adaptação e readaptação as circunstancias.

Em termos históricos o social não está condicionado ao horizonte da previsibilidade, pois os desdobramentos de determinado evento não é prefigurado por suas supostas causas, como erroneamente pode sugerir a visão retrospectiva, mas pelas variáveis que interferem em seus desdobramentos produzindo novos contextos e conjunturas que contrariam sua natural tendência a inercia a permanência simples de uma situação ou condição anterior de dado estado de coisas.
O que se diz aqui é que a História não faz sentido, não é dotada de um proposito, como , por exemplo, o progresso da humanidade ou qualquer coisa que o valha. Não existe um processo histórico dotado de uma racionalidade intrínseca ou um “fim da história”.


A aleatoriedade dos acontecimentos e as sincronicidades estabelecidas entre diversos eventos em um determinado contexto é o que nos leva  socialmente a situações novas e mais imprevisíveis do que gostaríamos que fossem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PENSAMENTO NÔMADE






Vivemos o desafio de uma filosofia antiteoretica onde o conhecimento revela-se um jogo, um envolvimento cada vez mais profundo com a ilusão de verdade. As palavras precisam trair ao seu próprio significado, ser transfiguradas em cada frase. O intelecto mascara-se, inventa disfarces, na busca pela afirmação de seu dizer o mundo. Tudo por mera vaidade ou simples necessidade de “saber”. Mas já não há mais  verossimilhança que nos atraia para o dizer da razão ou ao conformismo da estreiteza dos dogmas científicos. Somos cotidianamente confrontados com o nonsense, com os limites de todos os discursos.

Isso é o mesmo que dizer que a existência já não é passível de leituras serenas, que já não podemos nos abrigar a sombra de nenhuma verdade gnosiológica e nos conformar as interdições das convenções. Temos fome de novidades, justamente agora que todas as possibilidades de mudança parecem diluídas pelas metamorfoses do sempre igual epstemológico.
   
O pensamento tornou-se nômade...


terça-feira, 27 de setembro de 2016

SOBRE LEMBRAR E ESQUECER

Atualmente o viver coletivo ou compartilhado entre outros indivíduos é feito mais de esquecimentos do que de lembranças. A informação ultrapassa nossa capacidade de fixar memórias de longo prazo. Precisamos de uma arqueologia das coisas perdidas. Não para resgata-las, mas para compreender o esquecimento como modalidade de significação. Por outro lado, nem sempre o mais importante é o que foi lembrado. Não escolhemos nossas memorias. Ela nos serve como um filtro que seleciona arbitrariamente aquilo que se perpetua.

O ACONTECIMENTO E O FATO

O essencial da representação ficcional esta na impossibilidade do momento. Mas tal impossibilidade pode acontecer não apenas em função de sua condição de não acontecimento, mas também por sua conversão a memória e a vestígio.


Quanto mais distante um acontecimento se faz na linealidade cronológica da modernidade, mais nítido ele se torna enquanto ocorrência  imagética, um re-vivenciar daquilo que jamais foi vivido, mas permanece no caminho de todos nós como uma pegada. É preciso mostrar aquilo  que não vimos, reinventa-lo como experiência  presente. O que só é possível mediante a transcendência do fato bruto.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

NOTA SOBRE A SIGNIFICAÇÃO DA REALIDADE

Broquear o sujeito como fluxo de expressão e instancia de significação. Eis um objetivo no mínimo inusitado, mas urgente do ponto de vista de uma experiência mais crua do ato de cognição e codificação do mundo pela consciência/autoconsciência.

Existir é viver do significado das coisas menos do que de sua experiência imediata. Sabemos ou inventamos a realidade através do filtro de dada configuração cultural específica, o que significa que não compartilhamos a mesma imagem de mundo, mas existimos naquela que nos foi possível dentro daquele lugar especifico onde vivemos.


Quando a significação leva em conta a experiência direta do devir dos fenômenos, sem prefigura-lo em demasia, de acordo com nosso arcabouço cultural, estranhamos o familiar e redimensionamos nossa percepção do real. 

SUJEITO INDETERMINADO

Ao longo de toda minha biografia, talvez tenha tido a oportunidade de conhecer e conviver com uma centena de pessoas ao longo dos vários períodos da minha existência. Certamente cada uma delas guarda uma imagem diferente de mim condicionada ao compartilhamento de um momento especifico da minha trajetória pessoal. O somatório destas impressões pessoais provavelmente não levaria a qualquer imagem muito precisa do ser humano que fui ao longo dos anos. Mas o que me causa mais estranhamento é o quanto hoje em dia me desconheço nas muitas versões de mim acumuladas nos anos. Sou um estranho entre meus eus espalhados pelo tempo. Esta indeterminação me define.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

POR UM NOVO ESPIRITO CIENTÍFICO

O caráter normativo e judicativo das ciências sociais, que hoje se mostra estéril e desgastado na construção de suas narrativas, precisa ser superado ou, pelo menos, confrontado por uma ontologia existencial ou fenomenologia que devolva a existência  ao acontecer das coisas. Falo de uma superação do raciocínio sistêmico e baseado em conceitos fechados. Proponho narrativas abertas que transcendam a superfície das formas de organização social e mergulhe nas entranhas da experiência do real, não pressupondo um observador isento, mas em comunhão simbólica. A construção do sentido e do significado pressupõe tal envolvimento.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

INDIVÍDUO E COMPORTAMENTO NA CONTEMPORÂNEIDADE


Ao individuo contemporâneo, reduzido a si mesmo, cabe promover a recusa do seu acontecer social formatado pela integração de personas, das mascaras impostas pelos padrões de sociabilidade e identidade cristalizados pela tradição.

Atualmente, cada um pode reaprender-se através de todas as lacunas de sua existência concreta, pelos devaneios do “poderia-ser”. Não se trata da reivindicação de qualquer egoísmo utópico ou idealista, mas da simples constatação de que todas as verdades coletivas deixaram de fazer pleno sentido.

 Já não existem respostas as nossas angustias e ansiedades privadas que não passe por uma reinvenção das sociabilidades. As formas tradicionais de estar entre os outros perderam a  hegemonia e  já não existe um roteiro social pré definido por um ethos universal.


 O comportamento do individual nunca foi tão livre para reconfigurar-se sem o peso de um dever ser. Os insondáveis meandros da liberdade de cada um  definir autonomamente suas estratégias de significação do mundo. A individuação está na ordem do dia do acontecer social. 

LEITURA E INTERPRETAÇÃO

O ato da leitura, tal como o da escrita, é uma atividade criativa. A interpretação de um texto literário, sua re codificação como experiência do leitor, é uma reinvenção ou recomposição daquilo que é lido e não a simples e passiva atividade assimilativa de uma narrativa.

 Um texto literário deve nos dizer algo tanto quanto nos permitir uma leitura de nós mesmos de uma perspectiva não ordinária. Ou seja, ele não é “informativo”, mas “simbólico”, no sentido em que nos revela alguma coisa que transcende o que é simplesmente dito.

Eis o que nos proporciona a interpretação: a possibilidade de redimensionar uma narrativa a ponto de incorpora-la  a nossa própria experiência vivida através de uma  projeção psicológica.

Quando uma obra nos provoca uma releitura de nossa própria experiência do real, quando nos identificamos com seu conteúdo simbólico e imagético a ponto de dramatiza-lo no plano de nossos dilemas e emoções intimas, ampliamos nosso campo de significações e codificações do real.

Assim sendo, a leitura tem, em certa medida, um efeito passional ou afetivo, e nos leva a experiência de imagens e ideias das quais já “participamos”. Diria que geralmente nos interessamos por autores que nos dizem algo que responde as nossas inquietudes. 


Ler é uma forma de evasão...                                                                                                      

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ESTRANHAMENTO

Ontem foi um dia banal.
Apenas lidei com o previsível dos fatos mornos,
Com o fardo do sempre igual.
O tempo passou miúdo e abstrato
Entre os meus vazios.
E eu quase me surpreendi outro
No estranhamento do meu próprio rosto.
No fundo é muito esquisito
Tudo aquilo que tomo

Como familiar.