terça-feira, 26 de julho de 2016

SHOPENHAUER E O FRAGMENTO COMO PREMISSA DO PENSAR FILOSOFICO

Até onde eu sei o aforismo foi introduzido na filosofia por Arthur  Shopenhauer  em franca oposição aos enunciados dedutivos dos sistemas filosóficos como o de seu eterno desafeto Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Assim, podemos atribuir-lhe um modo novo de exercitar o pensamento filosófico que encontrou e Friedrich Wilhelm Nietzsche um dos mais fecundos herdeiros.
Não se trata apenas de uma questão de estilo, mas de uma consideração do particular, do fragmento, como uma estratégia discursiva que busca fugir a gaiola dourada dos conceitos e da narrativa monolítica de uma racionalidade estreita.
O fragmento se faz através de um “dizer aberto” onde o todo não é a soma das partes e se realiza no pressuposto de seus inacabamentos e silêncios.
As mais fecundas narrativas são como complexas tapeçarias artesanal e pacientemente tecidas em imaginações de caleidoscópio. Afinal, nossa própria condição de seres viventes é fragmentada, multifacetada e aberta a possibilidades quase infinitas de interpretações e reelaborações.


Em resumo, as lacunas de uma narrativa são tão necessárias quanto a sua intencionalidade. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

SOBRE VERDADE E VERACIDADE

A veracidade de um argumento não o faz verdadeiro. Tudo depende da qualidade de suas premissas. Uma boa argumentação pode se sobrepor a verdade mediante a persuasão de seus enunciados. Por isso, mesmo quando impotentes contra um bom argumento, não somos convencidos a aderir a ele e replica-lo.


Entendo aqui verdade não como uma correspondência entre as palavras e as coisas. O que só pode ser concebível em um plano ideal. A verdade não passa de um sentimento quanto a qualidade de determinado enunciado cuja validade nos parece evidente. Por isso não se deve concebe-la em termos absolutos. Há sempre enunciados paralelos e concorrentes sobre determinado assunto igualmente aptos a condição de verdade. Mas quando estamos certos de determinada coisa, não consideramos nossa parcialidade como premissa da convicção. Sempre julgamos nossa subjetividade um ato de objetividade.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

CONVITE A HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

A História do tempo presente nos desafia a reflexão sobre quem somos e sobre o que estamos vivendo. Toma para si a responsabilidade do agora na problematização dos seus impasses e possibilidades.

Cabe aqui considerar a seguinte ponderação a fim de inspirar uma consideração do tema:

 “Sobre os motivos que teriam levado ao desabrochar deste campo historiográfico, comentam Agnès Chauveau e Philippe Tétart que seriam a história renovada do político, o impacto de geração e o fenômeno concomitante de demanda social.4 Para estes dois autores, esta modalidade historiográfica seria tributária dos anos 1950, quando a sociedade demandava esclarecimentos a respeito dos traumas que vivera. Essa produção histórica, simétrica à demanda social, teria como raízes ainda o “aumento e a aceleração da comunicação, a renovação progressiva da imprensa e da edição, a elevação do nível de estudo e a força dos engajamentos ideológicos, morais, dos anos 50-60”.5 Agnès Chauveau e Philippe Tétart comentam que este campo se ampara no pressuposto metodológico de que a história não é somente o estudo do passado, mas também, “com um menor recuo e métodos particulares, o estudo do presente.”6 Meu objetivo aqui é identificar algumas medidas metodológicas para uma possibilidade – apenas uma dentre outras tantas – de um fazer histórico deste campo.”


Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho. Para uma História do Tempo Presente: o ensaio de nós mesmos. For a Present Time History: the essay of ourselves. In Fronteiras: Revista Catarinense de História, Florianópolis, n.17, 2009 p.137

quarta-feira, 20 de julho de 2016

PARMÊNIDES: A RAZÃO COMO PATHOS

Segundo Parmênides de Eleia, apenas o ser (positivo) é digno do pensamento. Pois o não ser (negativo), na medida em que não é, não pode ser pensado. Parmênides ignora o mundo sensível onde impera o devir e a contingência e estabelece o ser como uno e imutável.  

Para Parmênides  só o ser é e o não-ser não é”. Através de uma cosmologia abstrata ele afirma o primado do pensamento sobre a existência, estabelecendo a razão como caminho da verdade em termos metafísicos.

Sua filosofia afirma a unidade eterna de um ser absoluto. O que nos permite identifica-lo como o fundador da “metafísica”, precursor da afirmação da unilateraridade do intelecto diante do corpo e da experiência sensível. Em outras palavras, sua filosofia estabelece a razão como pathos do intelecto.



terça-feira, 19 de julho de 2016

INDIVÍDUO E PERCEPÇÃO

Percebemos o mundo de modo limitado. Não somos capaz de captar todos eventos e fenômenos ao mesmo tempo. A equação entre sensação, percepção e pensamento é complexa.

Para inicio de conversa é preciso que se diga que percepção é diferente de realidade e que não podemos reduzir o real a nossa codificação da experiência de mundo. Justamente por isso, pode-se dizer que a consciência humana tem  uma história, não é algo dado, e que através do contexto social e  cultural na qual existimos  estabelecemos formatações da realidade condicionadas as ferramentas cognitivas disponíveis.

Desde Kant sabemos que a percepção não é um fenômeno passivo ou um simples acontecer de experiências sensoriais fisiologicamente estabelecidas, mas uma estruturação do real através de significados e codificações simbólicas.


Por isso a percepção é essencialmente um fenômeno empírico e individual . Cada um formata o mundo compartilhado a partir de uma configuração específica.  

segunda-feira, 18 de julho de 2016

NOTA SOBRE O EU , OS OUTROS E O MUNDO

O acumulo de vivências é o que faz de cada personalidade um quebra cabeça, um arranjo irracional de afetos, sentimentos e convicções, definem o modo próprio de cada um apreender o mundo situando-se no lugar comum do acontecer dos outros.


Isso estabelece uma presentificação da existência singular em um dado contexto social ou impessoal. Existimos como um corpo que se auto representa e assim requalifica suas ações no plano das representações de sua própria existência. Neste contexto, consciência deve ser entendida como intencionalidade voltada para  o aqui e agora de uma totalidade inscrita na dualidade do eu e do mundo.

INDIVIDUALIDADE E SOCIEDADE DE MASSAS

A incapacidade de se autodeterminar frente o outro e a realidade, de ser plenamente um eu no mundo, é o grande pathos da consciência diferenciada do indivíduo contemporâneo.

Tendemos a um estado de inautenticidade coletiva, a experiência da multidão onde a singularidade é reduzida a um dado estatístico definido pela homogeneização crescente das sensibilidades e  praticas comportamentais. A esfera da intimidade e da privacidade, premissa do acontecer da singularidade humana, torna-se cada vez mais uma questão pública, um acontecer socialmente estabelecido e descaracterizado como estratégia de construção de subjetividade. 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

QUASE UM SONHO

Gosto de dias vastos,
De manhãs que parecem deslocadas do tempo
Amanhecendo para o estático
De qualquer eternidade.

É como se o agora fosse sempre
E vitoriosa minha esperança de vida e constância.
Nada de perdas, danos e barganhas com o futuro.
Apenas a vida radiante e serena

Dançando no horizonte do efêmero.

terça-feira, 12 de julho de 2016

NOTA SOBRE HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

O tempo onde concretamente nos inserimos como indivíduos, não é um amalgama informe destinado ao domínio das circunstâncias e da opinião. Pode, ao contrario, fomentar reflexões e analises através do qual nos beneficiamos de nosso próprio testemunho para caracterizar e entender uma determinada época histórica. É uma premissa tola supor que a historiografia pressupõe distanciamento e que o vivido só pode se reduzir a fórmulas efêmeras de analise.


O testemunho ocular e a reflexão critica permitem, ao contrario, uma consideração mais apurada dos fatos que, longe de conduzir a construção de verdades, busca uma tomada de posição diante das circunstancias inspirada por uma apropriação não superficial dos fatos, seus desdobramentos e efeitos sobre as sensibilidades e sociabilidades individuais e  coletivas.  

IMPROVISO

Estou habituado a viver
De improvisos,
De piruetas e peripécias.
Não levo a sério o mundo,
As pessoas e as certezas cotidianas.

Tenho um universo inteiro
A ser inventado
Entre os abismos e imensidões
De mim mesmo.

Não me perguntem o que penso
Sobre qualquer tema,
Pois minha reflexão é livre
E incerta.

Amanhã não acordarei novamente
Para o hoje,
Mas sempre para o improvável
De um passado redescoberto.