sexta-feira, 1 de julho de 2016

ALEGORIA E IMAGINAÇÃO

As palavras abrem caminho em direção ao paradoxo,
tentam dizer o que não pode ser dito sobre a verdade,
estão quase despidas de seu próprio significado,
prostituídas pela luxuria da alegoria.
Melhor não esperar muito de qualquer narrativa
E se render ao apelo afetivo da imagem
Que invade a consciência
Como um convite onírico.

A vida se reduz a um exercício de imaginação.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O SILÊNCIO DA HUMANIDADE

Em  algum ponto da terra
Pode ser que a humanidade inteira
Se cale,
Que não faça mais diferença
Os juízos, as conclusões e os fatos.
Em algum ponto da Terra
Pode ser que a vida persista
Sem o insano de tanta humanidade,

Princípios, regras e autoridades.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

NOTA SOBRE O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A individuação enquanto  processo arquetípico, tal como formulado por C.G.Jung, estabelece que cada indivíduo naturalmente tende em sua experiência subjetiva a alcançar a condição de self, a coincidência entre consciente e inconsciente, mediante a integração de conteúdos da psique objetiva. Trata-se evidentemente de uma meta que se confunde com o próprio caminho.

A personalidade em individuação revela a si mesma, paradoxalmente, a dimensão coletiva ou impessoal de sua condição fenomenológica de modo compensatório e peculiar considerando sua situação pessoal e cultural. A própria “condição-de-eu” conduz para além de si mesma através da elaboração de fantasias.


Assim, nossas mais caras convicções, positiva ou negativamente, longe de expressar um exercício independente do intelecto e da racionalidade, projetam em grande medida o dinamismo deste processo irracional e ontológico através do qual nossa condição humana se faz um verdadeiro quebra cabeça.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMPO ÍNTIMO

Habito um passado
Onde apenas eu existo,
Que jamais foi partilhado
Com aqueles que são parte
Do meu tempo vivido.
Pois cada um existe
Em seu próprio mundo
E intima memoria das coisas.
Cada um  porta solitariamente

O registro de sua  existência.

domingo, 26 de junho de 2016

O MÍNIMO DA EXISTÊNCIA

Minha vida mudou tanto nos últimos anos, que já não me reconheço nela. Quem eu sou ficou no passado. E o tempo presente é apenas o agora dos cacos de vontades, de afetos e especulações existenciais que habitam a orbita de algumas incertezas e acasos. 

Tudo que sei é que sou este corpo, cada vez mais desgastado, no aqui e agora. Nada mais do que isso.
Talvez a existência seja uma mera ilusão da consciência.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

SOBRE O EU LÍRICO CONTEMPORÂNEO

O transitório, o efêmero e o contingente são hoje em dia lugares comuns para definir nossa condição humana nos cenários definidos pela cultura e sensibilidades contemporâneas.  Eternidade e permanência, referenciais negativos da modernidade de um eu lírico em crise foram, ao contrário,  superados .

Diferente da modernidade, a contemporaneidade não tem como questão a crise do sujeito, mas, simplesmente, seu deslocamento e desaparecimento como lugar de produção de um discurso articulado a partir do hiato estabelecido entre o passado e o presente.

O passado e o presente foram nivelados a simulacro, e, enquanto referencias de articulação de eu discursivo, reduzidos a imagens de evasão e negação.

O eu lírico contemporâneo é um desenraizado de si mesmo que persegue o quebra cabeça  que é sua própria condição de existente vindo de um passado que hoje assombra o onírico e um presente estático e vazio de significados.


O fragmento, o nonsense, o silêncio e até mesmo a imagem crua são sua forma de expressão. Para ele tudo que resta são as ruinas da literatura e o cadáver do futuro.  

UM POUCO DE POESIA


Gostaria de um pouco de poesia,
Deste inútil artificio de desencantados
Para suportar a rotina,
Os gritos do sentir mais fundo.
Preciso de alguns versos
Para lidar com  esta desesperada necessidade
De ir contra tudo e todos.
Sei que o ser não tem consistência,
O quão frágil é a palavra
E o significado das coisas
Que me sustentam.
É transitando entre o nada
E o nada
Que constantemente me reinvento.



quinta-feira, 23 de junho de 2016

SOBRE A PERCEPÇÃO DAS COISAS

O eu esta no objeto que a nós se apresenta como realidade do mundo.
A consciência é sempre um acontecer fora, uma ausência de si mesmo através da percepção. Por isso não há como chegar a qualquer conclusão sobre a experiência humana da realidade. Pois nunca conseguiremos concebe-la “de fora”. Só é possível dizer que a percepção não é mimese, não apresenta a realidade a partir de sua objetividade, mas de acordo com nossa forma de perceber as coisas. Em outros termos, o corpo é a condição do pensamento.  O intelecto é um acontecimento físico e não um vago e indeterminado processo metafisico. Estamos o tempo todo através do espaço inventando e reinventando a realidade. Só que não nos damos conta disso. Mas a constância é ilusória. A descontinuidade é uma premissa da percepção, por mais que nos confrontemos o tempo todo com um mundo de experiências que se repetem.


SOBRE A INCERTEZA DE SI MESMO

Meu sentimento das coisas não cabem em qualquer sentimento de mundo. Pressupõe uma percepção irracional do que é o vivido, que não se conforma a qualquer configuração biográfica e racional que imponha significados ao meu efêmero instante.

 Chego mesmo a duvidar da linearidade do desenvolvimento da vida e da existência continua do "eu" que  julgo ser.

Afinal, tal singularidade é demarcada exclusivamente pelo corpo. 

Não é no desejo ou na busca pelo prazer  que se define o eu, mas em sua indeterminação e incerteza ontológica.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO

O “eu” é um conjunto de estados mentais e não uma totalidade concreta e definível. Se enquanto sujeitos somos  a pré- condição dos objetos,  existimos não em nós mesmos , mas através do mundo. Assim, ao estabelecer o mundo como representação e linguagem, nos realizamos como  sujeitos na exata medida em que silenciamos sobre nós mesmos através do dizer das coisas.

Esta premissa solipsista , estabelece as representações mentais como fundamento de qualquer possibilidade de realidade tal como concebida em termos humanos.  O sujeito é como um não lugar que define todos os lugares. Sua condição é sua própria indeterminação.