segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMPO ÍNTIMO

Habito um passado
Onde apenas eu existo,
Que jamais foi partilhado
Com aqueles que são parte
Do meu tempo vivido.
Pois cada um existe
Em seu próprio mundo
E intima memoria das coisas.
Cada um  porta solitariamente

O registro de sua  existência.

domingo, 26 de junho de 2016

O MÍNIMO DA EXISTÊNCIA

Minha vida mudou tanto nos últimos anos, que já não me reconheço nela. Quem eu sou ficou no passado. E o tempo presente é apenas o agora dos cacos de vontades, de afetos e especulações existenciais que habitam a orbita de algumas incertezas e acasos. 

Tudo que sei é que sou este corpo, cada vez mais desgastado, no aqui e agora. Nada mais do que isso.
Talvez a existência seja uma mera ilusão da consciência.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

SOBRE O EU LÍRICO CONTEMPORÂNEO

O transitório, o efêmero e o contingente são hoje em dia lugares comuns para definir nossa condição humana nos cenários definidos pela cultura e sensibilidades contemporâneas.  Eternidade e permanência, referenciais negativos da modernidade de um eu lírico em crise foram, ao contrário,  superados .

Diferente da modernidade, a contemporaneidade não tem como questão a crise do sujeito, mas, simplesmente, seu deslocamento e desaparecimento como lugar de produção de um discurso articulado a partir do hiato estabelecido entre o passado e o presente.

O passado e o presente foram nivelados a simulacro, e, enquanto referencias de articulação de eu discursivo, reduzidos a imagens de evasão e negação.

O eu lírico contemporâneo é um desenraizado de si mesmo que persegue o quebra cabeça  que é sua própria condição de existente vindo de um passado que hoje assombra o onírico e um presente estático e vazio de significados.


O fragmento, o nonsense, o silêncio e até mesmo a imagem crua são sua forma de expressão. Para ele tudo que resta são as ruinas da literatura e o cadáver do futuro.  

UM POUCO DE POESIA


Gostaria de um pouco de poesia,
Deste inútil artificio de desencantados
Para suportar a rotina,
Os gritos do sentir mais fundo.
Preciso de alguns versos
Para lidar com  esta desesperada necessidade
De ir contra tudo e todos.
Sei que o ser não tem consistência,
O quão frágil é a palavra
E o significado das coisas
Que me sustentam.
É transitando entre o nada
E o nada
Que constantemente me reinvento.



quinta-feira, 23 de junho de 2016

SOBRE A PERCEPÇÃO DAS COISAS

O eu esta no objeto que a nós se apresenta como realidade do mundo.
A consciência é sempre um acontecer fora, uma ausência de si mesmo através da percepção. Por isso não há como chegar a qualquer conclusão sobre a experiência humana da realidade. Pois nunca conseguiremos concebe-la “de fora”. Só é possível dizer que a percepção não é mimese, não apresenta a realidade a partir de sua objetividade, mas de acordo com nossa forma de perceber as coisas. Em outros termos, o corpo é a condição do pensamento.  O intelecto é um acontecimento físico e não um vago e indeterminado processo metafisico. Estamos o tempo todo através do espaço inventando e reinventando a realidade. Só que não nos damos conta disso. Mas a constância é ilusória. A descontinuidade é uma premissa da percepção, por mais que nos confrontemos o tempo todo com um mundo de experiências que se repetem.


SOBRE A INCERTEZA DE SI MESMO

Meu sentimento das coisas não cabem em qualquer sentimento de mundo. Pressupõe uma percepção irracional do que é o vivido, que não se conforma a qualquer configuração biográfica e racional que imponha significados ao meu efêmero instante.

 Chego mesmo a duvidar da linearidade do desenvolvimento da vida e da existência continua do "eu" que  julgo ser.

Afinal, tal singularidade é demarcada exclusivamente pelo corpo. 

Não é no desejo ou na busca pelo prazer  que se define o eu, mas em sua indeterminação e incerteza ontológica.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO

O “eu” é um conjunto de estados mentais e não uma totalidade concreta e definível. Se enquanto sujeitos somos  a pré- condição dos objetos,  existimos não em nós mesmos , mas através do mundo. Assim, ao estabelecer o mundo como representação e linguagem, nos realizamos como  sujeitos na exata medida em que silenciamos sobre nós mesmos através do dizer das coisas.

Esta premissa solipsista , estabelece as representações mentais como fundamento de qualquer possibilidade de realidade tal como concebida em termos humanos.  O sujeito é como um não lugar que define todos os lugares. Sua condição é sua própria indeterminação.


terça-feira, 14 de junho de 2016

O DIZER PÓS MODERNO

As condições exteriores de construção de um discurso, sua hermenêutica, substitui a correspondência entre os discursos e os fatos. A verdade já não é digna de considerações. A fundamentação do dito  é o próprio dizer. A capacidade de pensar é idêntica ao do dizer que, fechado em si mesmo, configura a consciência das coisas.

A gramatica é mais importante do que a  verdade.


A FELICIDADE É SEMPRE DISTANTE

A felicidade é sempre o passado que a gente encontra no futuro, uma redescoberta do que passou e ficou no permanente da memoria.
Somos feitos  do vivido que ganha mais realidade quando desfeito.
Tudo o que importa é o que sobrevive ao presente como memória afetiva,
Como testemunho do próprio eu.

A felicidade é sempre distante...

ENTRE AS COISAS

Levo comigo um pouco de dor e medo
Além de sonhos antigos
Que já não valem mais grande coisa.
Aposentei a esperança
E reinventei evasões
Na descoberta da estranha arte
De ser apenas um eu

Decomposto entre as coisas.