sexta-feira, 15 de abril de 2016

ESCREVA CONTRA O MUNDO...

O mundo vem se tornando cada vez mais monocromático, previsível e tedioso.

Nos esgotamos em nossas rotinas padronizadas, em nossos pensamentos domesticados de realidade. A singularidade humana, o espaço da privacidade e da construção permanente da singularidade, já não é uma questão com a qual a maioria se importe. Estamos nos esquecendo de ser... O mundo já não é mais habitado por indivíduos. Talvez nunca tenha sido.


Só resta a estratégia de uma  expressividade narrativa , de uma conversão de si mesmo em linguagem, na invenção de um universo abstrato de reflexões que nos  sirva de exílio do próprio real. Por isso escrever ainda faz sentido. 

terça-feira, 12 de abril de 2016

AQUELE RETRATO

Ainda guardo no bolso
Aquele retrato
De dias melhores,
De circunstâncias perdidas
Que nada mais comunicam
Ao aqui e agora.
Em nossos
Descaminhos de existência
Alimentamos passados
Para suportar o presente.
O futuro já não cabe
Em nossas vidas.
Apenas o imediato,
O agora e o fato.
Aquele retrato

Já não diz quem somos.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

DESVIO

A ordem das coisas, a ordem das aparências, não pode mais ser confiada a qualquer matéria de saber. O pensamento,  eu o quero paradoxal, sedutor- com a condição, evidentemente, de não tomar por sedução a manipulação aduladora, e sim como um desvio de identidade, um desvio de ser.”
JEAN BAUDRILLARD in SENHAS

O conhecimento hoje em dia  tornou-se antes de tudo objeto de si mesmo. Ele é seu próprio questionamento, um ato de desvio e duvida corrosiva sobre o sentido e significado das coisas. O conhecimento deve ser reduzido a sua premissa subjetiva e, como tal, declinar do seu valor de verdade objetiva. Tudo que fazemos  através da reflexão abstrata, afinal, é estabelecer e reinventar as bases das codificações humanas daquilo que conhecemos como realidade.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

NARRATIVAS BIOGRAFICAS E FANTASIA IDENTITÁRIA

Não sou capaz de falar sobre  o que para mim permaneceu invisível ao longo do acontecer da existência. Sou incapaz de qualquer releitura significativa das coisas que transcenda a simples auto percepção ou reivindique alguma “objetividade” ou simples distanciamento dos fatos.

Não posso me saber de um ponto externo ao meu peculiar sentimento de mundo. A existência particular é um dado irracional e aleatório que, apesar de todas seus condicionantes objetivos, escapa ao calculo e a avaliação racional. Por isso sou cético com relação a biografias.

Uma narrativa biográfica é uma fantasia pessoal onde são impostos significados e propósitos íntimos a acontecimentos e fatos artificialmente reconstruídos e contextualizados dentro de um dizer de mundo peculiar subjetivo.


 Mas há um profundo condicionante psíquico para tal esforço de balanço existencial que, na maioria dos casos, não é levado em consideração.  O silencio e o invisível de nossas ruinas ontológicas não se presta a teleologia vazia da unilateralidade de uma racionalidade  egóica.  Nossas representações são sempre fantasiosas e é justamente a reinvenção do real, e não sua objetivação , que torna a narrativa biográfica interessante.

terça-feira, 5 de abril de 2016

EM CASO DE DÚVIDA VIDE SCHOPENHAUER


Pensar é transcender a vontade como coisa em si e a necessidade de mundo como um imperativo biológico. Em caso de duvida, vide Schopenhauer...  Só sei que já estou farto da imbecibilidade cotidiana e dos lugares comuns da vida  da espécie. Já não suporto a necessidade como condição perversa da construção da minha ainda possível subjetividade. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O VAZIO DA EXISTÊNCIA

“Se deixarmos de contemplar o curso do mundo como um todo e, em particular, a efêmera e cômica existência de homens enquanto sucedem um ao outro rapidamente para observar a vida em seus pequenos detalhes: quão ridícula é a visão!

Impressiona-nos do mesmo modo como uma gota d’água, uma simples gota fervilhando de infusoria, é vista por um microscópio, ou um pedaço de queijo cheio de carunchos invisíveis a olho nu. Sua atividade e luta uns contra os outros em um espaço tão pequeno nos entretém grandemente. Acontece o mesmo no pequeno lapso da vida – uma grande e séria atividade produz um efeito irrisório.”

Arthur Schopenhauer in O vazio da Existência


O VAZIO DA EXISTÊNCIA

O que ainda resta a fazer enquanto o tempo passa?
Talvez apenas escrever sobre a incerteza de ser,
sobre nossas faltas e silêncios,
até que a noite nos cubra para sempre.
Nunca enxergamos as imperfeições ,
o disfuncional e vexatório de nossas vidas.
O banal nos escapa.
Por isso é fácil seguir a favor dos fatos.
que cada vez mais carecem de significados.


sábado, 2 de abril de 2016

A FALACIA DO CONHECIMENTO DE SI MESMO SEGUNDO SCHOPENHAUER

Sobre a filosofia e seu método reúne ensaios de Schophenhauer originalmente editados sob o titulo Parerga e Pasraliponema ( ornatos e Complementos) que muitos consideram sua obra fundamental.

Quero aqui me deter sobre a relação entre vontade e intelecto, que muito esclarece sobre a peculiaridade de sua filosofia. 
Para o filosofo alemão o conhecimento de si mesmo, lugar comum do senso filosófico ocidental,  não passa de uma falácia na medida em que o sujeito do conhecimento não é algo autônomo e não possui uma existência independente da vontade, que constitui o fundamento do seu ser.
Em seus próprios termos,

"A vontade é certamente coisa-em-si, existente por si mesma, primária e autônoma, aquilo que se manifesta como fenômeno na apreensão espacial intuitiva do cérebro como organismo. Não obstante, também ela é  incapaz de auto conhecimento, pois ela  é em si e para si mesma algo que meramente quer, não algo que conhece. Pois ela, como tal, não conhece absolutamente nada, logo, também não a si mesma.. O conhecimento é uma função secundária e mediada que não pertence imediatamente a à primaria em sua própria essencialidade."

(Shopenhauer. Sobre a Filososofia e seu Método. Organizado e traduzido por Flamarion C. Ramos. SP: Hedra, 2010, po. 83)

Por isso o intelecto deve abandonar sua destinação natural a vontade e alcançar seu uso objetivo, base de toda filosofia poesia e, até mesmo ciência até agora possível. Deve-se eliminar todo interesse pessoal para realizar a reflexão livre das contigências de cada época e do curso atual do mundo. Tamanho distanciamento e indiferença a concretude do mundo é o que caracteriza o gênio para Schopenhauer.

quinta-feira, 31 de março de 2016

OS LIMITES CONTEMPORÂNEOS DO LÚDICO

A ludicidade é um dos traços mais marcantes da cultura contemporânea. Através das redes sociais, cinema, jogos digitais, dentre outros artifícios, dedicamos muito tempo a evasão e ao lúdico como forma de expressão e construção de nossa subjetividade.

Mas a ludicidade encontra-se ironicamente cada vez menos vinculado a  um sentimento de espontaneidade e liberdade. Nos exemplos aqui citados observamos a mera reprodução de um comportamento mimético, coletivamente induzido por um cultura de massas que tende a normatização e padronização comportamental. Nossa espontaneidade é cada vez menos espontânea. O que não deve surpreender, pois o  termo lúdico é um sinônimo de jogo, remete a um  sistema de regras e objetivos. Atividades que se esgotam em si mesmas e sem implicações pragmáticas no cotidiano social, embora convencionalmente associadas a prazer e diversão, pressupõe alguma disciplina e direcionamento.


A criatividade moldada pela massificação castra o desenvolvimento do indivíduo reduzindo-o a uma unidade replicante de praticas e referencias culturais impessoais que dispensam a criatividade e o irracional como principio do exercício  da ludicidade. 

O JOGO DA VIDA

Algumas mínimas certezas...
É tudo do que precisamos
para suportar o mundo
e inventar a vida
como um jogo de signos
e símbolos.
Procure a chave
que esclarece a porta
Enquanto a pergunta
inventa a resposta.
Todas as questões
já estão dadas.
Apenas leia os vazios
entre nossas existências.

terça-feira, 29 de março de 2016

INDIVIDUALIDADE

Sei que sou invisível ao mundo em minha individualidade convulsa. Não passo de mais um rosto afogado na multidão. Entretanto, considero apenas o fato de que o mundo não cabe nesta pouca coisa que sou. Isso é tudo que me importa na orquestração dos atos contra os fatos que me definem no  anonimato cotidiano das ruas.  Realizo através dos  meus tantos eus  minha  mais limitada e concreta finitude.