Não sou capaz de falar sobre o que para mim permaneceu invisível ao longo
do acontecer da existência. Sou incapaz de qualquer releitura significativa das
coisas que transcenda a simples auto percepção ou reivindique alguma “objetividade”
ou simples distanciamento dos fatos.
Não posso me saber de um ponto
externo ao meu peculiar sentimento de mundo. A existência particular é um dado
irracional e aleatório que, apesar de todas seus condicionantes objetivos, escapa
ao calculo e a avaliação racional. Por isso sou cético com relação a
biografias.
Uma narrativa biográfica é uma
fantasia pessoal onde são impostos significados e propósitos íntimos a
acontecimentos e fatos artificialmente reconstruídos e contextualizados dentro
de um dizer de mundo peculiar subjetivo.
Mas há um profundo condicionante psíquico para
tal esforço de balanço existencial que, na maioria dos casos, não é levado em
consideração. O silencio e o invisível de
nossas ruinas ontológicas não se presta a teleologia vazia da unilateralidade
de uma racionalidade egóica. Nossas representações são sempre fantasiosas e
é justamente a reinvenção do real, e não sua objetivação , que torna a
narrativa biográfica interessante.
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