quinta-feira, 3 de março de 2016

TRANSVALORAÇÃO

Falta a palavra agora
a possibilidade da novidade,
a capacidade de redizer o mundo
através de uma única frase
antes que o cotidiano
definitivamente nos mate.
Talvez seja tarde
para dizer o que transcende
a verdade.


terça-feira, 1 de março de 2016

EU E OS OUTROS

Não importa o que eu faça,
minha existência apenas acontece
sob o olhar dos outros.
Os outros tem sempre a palavra,
a realidade na ponta da língua
enquanto o  mundo me aperta a cabeça
no dizer do meu próprio pensamento.
Preciso ir embora,
fechar a porta e abrir a janela.
Nada será diferente depois de amanhã.
Só preciso dormir um pouco

na contramão dos outros.

REALIDADE ILEGIVEL

Todos os discursos me parecem vazios e limitados
no opaco de todo significado e possibilidades de enunciados.
Estamos saturados de palavras,
afogados em frases feitas, conceitos, valores
e filosofias.
Já estamos fartos de  verdades.
O que ainda pode ser escrito,
fazer sentido e não ser banal?
As palavras não mudam o mundo,
não transformam a vida.

Nada esta acontecendo agora...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

VIVER PARA SI MESMO

A personalidade consciente é uma espécie de satélite da consciência coletiva personificado pelo arquetípico da persona. O ego, entretanto, pode romper a tendência a identificar-se com ela na medida em que se conecta a conteúdos de fantasia que sob certas circunstancias emergem do inconsciente e, contrariando as formatações culturais e sociais em que se inscreve determinado indivíduo,  joga luz sobre possibilidades novas  e afetivas que transformam a consciência que ele tem de si mesmo. Assim, individuar-se é um viver  “para- si” diante de todas as imposições do gênero humano.


LEMBRANÇAS DE VIDA

Minha memória pessoal  extrapola acontecimentos através da experiência radical dos objetos midiáticos. Assim, minha sensibilidade, a  lembrança de determinada época,  confunde-se com a experiência de series televisivas, consoles de vídeo games, musicas e toda sorte de impessoalidade artificial. Quase já não lembro mais de mim mesmo.

Nossa existência é rala, como provam os lugares de nossa memória pessoal.  Não vivemos em uma cultura  na qual a lembrança é de fato valorizada enquanto estratégia de individuação.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O TEXTO ABERTO

O texto aberto,
sem fim ou começo
cresce em direção ao horizonte.
Não diz nada de importante,
apenas cresce a cada palavra,
a cada equivoco, angustia
e duvida.
O texto aberto lê minha existência,
contempla minha falência
e de ante mão sabe

que eu não existo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

NOTA SOBRE O SISTEMA DOS OBJETOS DE JEAN BAUDRILLARD

Para Baudrillard o consumo é o fundamento de todo sistema cultural, um modo ativo de relação, a totalidade virtual de todos os objetos e mensagens, uma atividade de manipulação sistemática de signos,  o consumo é a própria relação. Neste sentido,  quando  pensamos o mundo moderno e contemporâneo,

“Vemos que tipo novo de habitante se propõe como modelo: O “homem de arranjo” nem é proprietário nem simplesmente usuário e sim um informante ativo da ambiência. Dispõe do espaço como de uma estrutura de repartição e através do controle deste espaço detém todas as possibilidades de relações recíprocas e portanto a totalidade de papeis que os objetos podem assumir.”( Ele mesmo dever ser portanto ‘funcional’, homogêneo como este espaço caso queira que as mensagens do arranjo possam partir dele e para ele voltar.). Não é nem a posse nem a satisfação  e sim a responsabilidade que lhe importa no sentido próprio em que arranja a possibilidade permanente de ‘respostas’. Sua  práxis é exterioridade completa. O habitante moderno não ‘consome’ seus objetos. (...) Ele os domina, os controla, os ordena. Encontra-se dentro da manipulação e do equilíbrio tático de um sistema.”

(Jean Baudrillard. O sistema dos Objetos. SP: Editora Perspectiva, 2002, p.32)

O consumo,em sua dimensão simbólica,confunde-se com o próprio mundo como devir infinito de intercâmbios e possibilidades, como arranjo quase infinito de possibilidades, como movimento e fluxo constante de coisas.


Mas tal reflexão corresponde a um momento da obra de Baudrillard anterior as suas  formulações  sobre as “Estrategias Fatais"  e a “troca impossível" ...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A INDIVIDUALIDADE COMO UM ACONTECER ESTÉTICO

O dizer e o fazer da individualidade alimenta-se essencialmente da fantasia, das associações livres de significações e sentidos que conduzem a uma auto imagem imprecisa e afetiva de si mesmo.

Sou onde já não estou. Naquilo que foi vivido e reduzido ao lembrado. Toda a minha importância se esgota com a minha morte. O que eu vivi é o que sou em minha finitude e excentricidade ontológica.


A existência singular é acima de tudo um prazer estético....

ESTRATEGIAS DE SINGULARIZAÇÃO E IDENTIDADE COLETIVA

A dimensão afetiva da memoria relaciona-se em parte a invenção do eu através do outro. Esta banalidade ontológica torna-se, entretanto, interessante quando associamos a construção da individualidade com uma estratégica de contraposição ao coletivo e aos valores socialmente aceitos.  O individuo torna-se complexo e autônomo na medida em que escolhe o isolamento, o questionamento como via de auto - descoberta constante e desafio aos lugares comuns dos intercâmbios societários.  Desta forma, pouco importa a gênese social da individualidade. São suas escolhas e tendências introspectivas que condicionam sua maior ou menor importância enquanto personificação privilegiada da experiência humana.


Lamentavelmente, o que se descreve aqui não é uma tendência. Pelo contrário, o indivíduo contemporâneo tende a buscar segurança em uma identidade coletiva, a abrigar-se no grupo e não em investir em si mesmo como singularidade. A memoria torna-se compartilhamento com o outro da experiência indiferenciada do mundo.

INDIVIDUALIDADE COMO HISTÓRIA DE VIDA

A submersão do vivido no esquecimento é uma experiência que nos acontece o tempo todo contra a capacidade de lembrar. Não temos plena ou absoluta ciência da totalidade de nossas vivências ao longo dos anos. Isso é humanamente impossível.

Estes silêncios pessoalmente incomodam. Temos  a necessidade de nos  representar no tempo socialmente vivido , de saber o devir através do filtro do  nosso pequeno e insignificante eu.

 Não falo apenas da necessidade de ter um passado, de rememorar.  Falo, antes de tudo, da necessidade de pertencer a uma história de vida, ser moldado por ela na medida em que a tomamos como uma experiência singular que jamais será experimentada por qualquer outra pessoa. Isso não passa de uma construção subjetiva, mas é o modo como codificamos nossa individualidade, como a convertemos em uma  história de vida e critério de distinção entre o eu e os outros.