Alteridade pressupõe que
existimos através dos contrastes que nos definem, um em relação aos outros. Sua essência é o plural e o híbrido.
Por isso podemos tomar a alteridade como o contrário de identidade, como um
alterar constante de si mesmo através do jogo social. A alteridade realiza o
paradoxo da Individualidade e da impessoalidade como um processo constante de
deslocamentos, como um jogo onde um eu e um outro se percebem como
reflexo do artificialismo de nossas codificações de mundo. O outro só pode
existir quando também se torna eu, quando as personas já não cabem no rosto..
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
UMA MADRUGADA QUALQUER DEPOIS DA TRAGÉDIA
Era um pouco tarde para ficar pensando
sobre as coisas. O mundo já extrapolava qualquer possibilidade de entendimento
naquela madrugada chuvosa onde toda a minha existência cabia no vazio daquele
quarto de hotel.
Tentava fazer planos para o dia
seguinte. Mas a rotina tinha seu próprio roteiro e sabia mais do que eu sobre a
minha vida. Não havia muito que planejar.Eu não tinha nenhuma chance.
Sabia apenas que o mundo andava de mal a pior e coletivamente banalizávamos o
caos. Já não havia muita realidade nos nossos tantos absurdos cotidianos que justificasse otimismos ou mobilizações.
Estávamos todos vazios de mundo e
tentando manter a aparência de normalidade. Não passávamos de caricaturas de
nós mesmos soterrados sobre toneladas de informações inúteis que desciam sobre
nós através da internet. As pessoas estavam cheias de opiniões e embriagadas
por conclusões.
Mas tudo que precisávamos era
admitir a perplexidade, a impotência e o espanto. O mundo estava se tornando um
lugar cada vez mais inseguro, incerto. Isso era tudo que deveríamos admitir.
Era muito cedo para ter respostas
e soluções. Mas a maioria não aceitava amargar um pouco de caos e confusão.
Precisavam ter as coisas sobre controle, mesmo que unicamente dentro de suas
cabeças.
Eu, ao contrário, estava apenas
cansado, desanimado e sem esperança. Não
via como poderia ser de outra forma. Eram tempos difíceis...
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
O FUTURO DO SUPOSTO NARCISISMO PÓS MODERNO
Se a autonomia do indivíduo nas
relações societárias contemporâneas se confunde com algum tipo de narcisismo,
ele pressupõe antes de tudo a busca por experiências emocionais marcantes, que
garantam auto estima e respondam ao vazio ontológico que atualmente define
nossa subjetividade.
A racionalização da vida interior
nos nivelou ao consumo, a exteriorização e
teatralização da interioridade, em uma realidade social que agora se
confunde com o fluxo de imagens e informações.
Já não somos senhores de nossas
identidades, nem nossas identidades nos definem. Elas acontecem através de nós,
nos deslocam de todo possível enraizamento cultural e afetivo. Narciso
revela-se agora como o mais novo anti herói trágico, representando o novo ethos,
o andarilho de um deserto cultural que ainda chamamos de mundo.
Não existe mais desenvolvimento pessoal possível na medida em
que perdemos a noção de continuidade histórica, que nos voltamos contra ao pertencimento ao mundo definido pelo
acumulo de ruínas de gerações e gerações. Tudo que temos hoje é um agora onde todas as
épocas são niveladas a superficialidade da citação não identidária. O passado
nunca foi tão distante de nós.
Mas esta ruptura de toda tradição
também pode transcender o narcisismo, pode nos conduzir a individuação,
tornando a instabilidade da consciência diferenciada que nos faz indivíduos psicológicos,
um ato de criação e reinvenção constante
de nossas intimas codificações do real.
Nunca fomos tão livres para nos
inventar no mundo sem o peso das tradições e, no entanto, só sabemos perambular atônicos em meio as ruínas
de todas as tradições. Não sofremos o
peso do futuro, mas não sabemos o que fazer com o presente e não precisamos
mais do passado como antigamente....
IMPULSO
Antes que o dia envelheça,
que não haja mais nada a ser dito,
quero semear no vento
toda a minha vontade
de voar,
acontecer sobre o sol a pino
e renascer em palavras
que não cabem na boca.
Quero gritar o silêncio
e amanhecer de
repente
no silêncio dos abismos.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
NÃO SEI SE VALHO UMA AUTOBIOGRAFIA
A ideia de fazer anotações biográficas sempre me pareceu
patética. Não porque não tinha alguma coisa a dizer sobre o meu cotidiano. Mas
porque tudo aquilo que poderia ser dito não passava de um lugar comum de merda.
Como fazer anotações biográficas quando a gente sente que
falta um pouco de realidade nos afazeres
banais do dia a dia?
Escrever sobre minhas angustia, meus desconfortos, medos e frustrações
?
Redizer, talvez, A NAUSEA do Sartre?
Sinceramente, não vale a pena. Não quero ser mais um palhaço
no teatro das letras.
O real desafio é deixar a vida viver, conseguir acontecer
profundamente no raso da realidade até
perder o juízo e ter algo absurdo para decorar o papel com um mínimo de
dignindade.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
RETRATO DE UM ARTISTA SEM ROSTO
Você pode viver varias vidas em
algumas décadas e achar que sempre foi apenas este seu ego sujo e sem grandes
objetivos. As pessoas, de modo geral, se definem pela mediocridade dos genéricos propósitos impostos pela pauta
social. Seja bem sucedido, faça viagens, farte-se de boa comida e tenha
verdades limpas e decentes. Seja apenas o que esperam de você e isso definirá a
segurança infantil tão cara ao seu pequeno ego.
Mas a cultura e a civilização avançam
apenas quando temos por ai um bando de desajustados e perturbados buscando
alguma coisa nova que não cabe no ego ou nas massas. Mesmo em tempos como o de
hoje em que toda a novidade é enfadonha e tediante existem aqueles que se
perdem na busca de coisas que ainda não tem nome nem lugar na realidade coletivamente inventada dia após dia.
Eu poderia ficar por horas a fio
escrevendo sobre isso. Mas o que quero dizer é simples e pode ser resumido em
apenas uma frase:
O MUNDO É UM LIVRO ALUCINADO QUE
VAI MUDANDO O TEXTO NA MEDIDA EM VOCÊ O LÊ ENQUANTO VAI VIVENDO.
Talvez porque o leitor do
primeiro capítulo não seja o mesmo do
décimo, ou, quem sabe, o livro se faça através dos seus olhos, já que o ato de
olhar pressupõe mutação e movimento e o texto, de um modo muito estranho, está
dentro de você.
O livro pode ser apenas um
espelho...
O grande problema é que nunca
sabemos direito que livro é este que estamos lendo...
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
MARCAS DE INFÂNCIA
As marcas indiscretas da minha infância
são visíveis sobre a pele, em cada gesto,
em cada riso e modo imperfeito ,
que ainda hoje define meu modo de saber o mundo.
Guardo dentro de mim os primeiros sentimentos,
os primeiros sonhos e imaginações,
os anos em que eu era menos
do que um garoto
e a vida acontecia leve como a visão de um céu estrelado.
Mesmo que o mundo siga agora quebrado,
que muitos já estejam mortos,
que eu não tenha lugar ou chão,
ainda sonho como um simples menino.
OS LIMITES DO PENSAMENTO
Não podemos reduzir a
subjetividade ao ego psicológico. Somos complexos demais e o eu que pensa e se
auto representa é apenas parte do nosso acontecer enquanto micro universo da
condição humana.
A pergunta sobre o que significa
uma individualidade psicológica não tem resposta fácil e muito menos é um questionamento que possa
ser feito sobre as bases mais lúcidas, considerando que o eu que pensa tende a
reduzir a resposta a experiência de si mesmo.
O que aqui se coloca é a questão
dos limites do próprio pensamento, o que é aquilo que podemos saber e não saber?
Onde o pensamento se cala e a realidade deixa de ser inteligível Quais as consequências disso?
Seria ingênuo tentar aqui
responder a tais questões, pois, neste caso, aquilo que não é dito é mais importante do
que aquilo que foi escrito...
ENTRE OS NIILISTAS
Havia uma
estranha distância entre o muito que eu queria e o pouco que esperava. Havia
perdido o mau hábito de me levar por utopias e o bom senso de ser prudente com
os fatos.
Reescrevia minhas
ousadias e vontades em um silêncio explosivo que, de modo surpreendentemente
discreto, desafiava todas as ordens e representações do mundo.
Minha única arma
era a aventura do pensamento e a descrença nos tantos lugares comuns e carcomidas
certezas que ainda coletivamente nos sustentava qualquer ideal de vida.
Fui beber entre
os niilistas que estavam serenamente sentados a beira do abismo.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
PARA ALÉM DO HUMANISMO
A superação da forma-homem, a
dissolução do “saber”, a superação do moderno cenário epistêmico, proposto por FOUCAULT,
ainda é uma trama a ser resolvida em nossos contemporâneos tempos de meta
realidade...
A superação do geral que nos codifica
na ordem da infinitude é também é a consciência de que
“Antes do fim do século XVIII, o
homem não existia. [...] É uma criatura muito recente, que a demiurgia do saber
fabricou com suas mãos há menos de 200 anos”
As palavras e as coisas: uma
arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo:
Martins Fontes, 2002, 425
Assim sendo,
“Para despertar o pensamento de
tal sono – tão profundo que ele o experimenta paradoxalmente como vigilância,
de tal modo confunde a circularidade de um dogmatismo que se desdobra para
encontrar em si mesmo seu próprio apoio com a agilidade e a inquietude de um
pensamento radicalmente filosófico – para chamá-lo às suas mais matinais
possibilidades, não há outro meio senão destruir, até seus fundamentos, o
“quadrilátero” antropológico."
FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das
ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002,
P.472
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