Um dos aspectos mais incômodos da
cultura contemporânea é a instabilidade
de nossas referências de realidade. Os padrões de representação de mundo se
modificam a curto prazo, graças as novas sensibilidades e linguagens
engendradas pela digitalização da vida cotidiana.
Já não somos os construtores do
real, do tempo presente, mas instrumentos de produção espontânea de um passado
que não para de crescer.
A mudança e a transformação, entretanto, não conduz ao novo, mas a inovação do sempre
igual como falsa meta da cultura e da própria vida. É como se o horizonte
houvesse desaparecido do caminho.
A
vida individual como introjeção absoluta e reprodução vazia da vida
social e coletiva se transformou em um pesadelo que reduziu a experiência do
indivíduo a um apêndice da sociedade.
Torna-se cada vez mais difícil ser diferente em tempos de padronização
comportamental como princípio da própria possibilidade de expressão.
Os que ousam o descaminho da
contramão da sociedade, tendem ao isolamento, a invisibilidade privada, em
tempos em que a própria privacidade se torna cada vez mais pública.
Tudo aquilo que somos e fazemos
já nasce como passado, como algo despido de realidade e a margem de todo tempo
presente.