A decadência das emoções não é de modo algum um sinônimo de objetividade e racionalidade no trato das coisas cotidianas, ao contrário do que crê o senso comum. Não significa ausência de passionalidade, mas sim sua onipresença e banalização até o ponto em que, de tão saturada de si mesma, a afetividade torna-se esvaziada de qualquer significação consistente. Hoje em dia as emoções não são menos descartáveis do que qualquer crônica mal feita que nos chama momentaneamente a atenção nas páginas do jornal de domingo ou em qualquer janela aberta na web. Ser possuído por uma emoção deixou de ser uma experiência humanamente concebível em termos de representação subjetiva da realidade para se converter em um passageiro desarranjo fisiológico e nada mais do que isso...
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
domingo, 13 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
POENTE
Deixem-me ir agora.
Lá fora o vento passa
Sob um céu despedaçado.
Já não tenho nada a dizer...
Apenas me deixem ir agora
Enquanto o tempo
Ainda me veste nos fatos
E posso brincar com meus medos.
Deixem-me ir agora,
Pura e simplesmente,
Visitar o sol poente
E me render ao horizonte...
quarta-feira, 9 de março de 2011
PLUTARCO,TAGARELICE E CONTEMPORANEIDADE
Em seu ensaio sobre a tagarelice Plutarco ( 45-120 DC) realiza um interessante elogio ao silêncio e uma critica ao falar desmedido e a conseqüente incapacidade de ouvir . Mas é interessante assinalar que este pequeno escrito Helênico ecoa sobre a contemporaneidade de um modo desconcertante.
Afinal, em nenhuma outra época histórica o abuso do exercício da fala foi tão socialmente recorrente a ponto de tornar-se uma premissa de sociabilidade.
Incomoda-nos a tal ponto o silêncio na presença dos outros que preenchemos o cotidiano com o discurso fácil e descartável inspirado pela linguagem instantânea do jornal matutino. Nos comunicamos de modo tão automático que pouco nos importamos com o que realmente ouvimos ou dizemos.
O delator vazio do silêncio, que apenas nos lembra de que já não temos absolutamente nada mais de importante a compartilhar uns com os outros, é a premissa de toda verbalogia contemporânea.
Para nós, as seguintes palavras inicias de Plutarco no ensaio em referência causam uma curiosa estranheza:
“É delicado e difícil para a filosofia empreender a cura da tagarelice. Pois seu remédio, a palavra, é feito para aqueles que ouvem, e os tagarelas não ouvem ninguém, já que estão sempre falando. Eis o primeiro mal contido na incapacidade de se calar: a incapacidade de ouvir. É uma surdez voluntária, de homens que, suponho, censuram a natureza o fato de terem apenas uma língua, embora tenha duas orelhas.”
segunda-feira, 7 de março de 2011
EM TORNO DE UM AFORISMA DA MINIMA MORALIA by THEODOR ADORNO
O 19º aforisma da primeira parte da Minima Moralia de T. Adorno é uma minunciosa descrição da micro geografia dos gestos cotidianos reconfigurados pela racionalidade técnica,pela ausência do tato como função perceptiva,no novo tipo de homem que emerge da modernidade tardia da pós sociedade ocidental.
Escrito no distante ano de 1944 durante seu exílio nos USA, este pequeno fragmento ainda nos arrasta para vertigem dos nossos contemporâneos desertos de danificada realidade vivida ...
“Não Bata a Porta- A tecnificação torna, entrementes, precisos e rudes os gestos, e com isso os homens. Ela expulsa das maneiras toda hesitação, toda ponderação, toda civilidade, subordinando-as às exigências intransigentes e como que a-historicas das coisas. Desse modo, desaprende-se a fechar uma porta de maneira silenciosa, cuidadosa e, no entanto, firme. As portas dos carros e das geladeiras são para serem batidas, outras tem a tendência a fechar-se por si mesmas, incentivando naqueles que entram o mau costume de não olhar para trás, de ignorar o interior da casa que os acolhe. Não se faz justiça ao novo tipo de homem se não se tem consciência daquilo a que esta incessantemente exposto pelas coisas do mundo ao seu redor, até em suas mais secretas intenções. O que significa para o sujeito que não existam mais janelas que se abram como asas, mas somente vidraças de correr para serem bruscamente impelidas? Que não existam mais trincos de porta, e sim maçanetas giratórias, que não existam mais vestíbulos, nem soleiras dando para rua, nem muros ao redor do jardim? E qual o motorista que já não foi tentado pela potência do motor de seu veiculo a atropelar a piolhada da rua, pedestres, crianças e ciclistas? Nos movimentos que as maquinas exigem daqueles que delas se servem localizam-se já a violência, os espancamentos, a incessante progressão aos solavancos das brutalidades facistas. No desaparecimento da experiência, um fato possui uma considerável responsabilidade: que as coisas sob a lei de sua pura funcionalidade, adquirem uma forma que restringe o trato delas a um mero manejo, sem tolerar um só excedente- seja em termos de liberdade de comportamento, seja de independência da coisa- que subsista como núcleo da experiência porque não é consumido pelo instante da ação”
Theodor Adorno in Minima Moralia/ tradução de Luis Eduardo Bicca
sexta-feira, 4 de março de 2011
DELIRIO ATEMPORAL
Houve um tempo
Em que eu sonhava
Com claras manhãs
De tédio e infinito,
Onde infâncias
Brincavam de roda
No lado avesso do céu.
E a vida era
Então
Mais simples
Do que o sem rosto
De qualquer palavra.
Houve um tempo
Em que
Eu quase não enxergava o mundo,
O absurdo passar de todas as coisas...
Em que eu sonhava
Com claras manhãs
De tédio e infinito,
Onde infâncias
Brincavam de roda
No lado avesso do céu.
E a vida era
Então
Mais simples
Do que o sem rosto
De qualquer palavra.
Houve um tempo
Em que
Eu quase não enxergava o mundo,
O absurdo passar de todas as coisas...
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
PARA UMA CONCEITUAÇÃO DO DESEJO
“o desejo é o apetite acompanhado da consciência de si mesmo”.
Spinosa
Existir é constantemente estar- em- movimento-para-alguma - coisa, o que nos transforma em receptáculos de desejos ou escravos das necessidades que essencialmente nos movem.
Mas o desejo é também um modo de auto consciência,e, como tal, serve de corpo a fantasia e a imaginação das coisas, fonte de toda codificação do real.
O desejo é a ausência, a falta ontológica, a branda angustia que se confunde com o ato de existir...
O desejo é o não lugar que nos define em relação a tudo que existe.
O DESEJO COMO PRINCIPIO
Desejos
Escrevem vontades
Em meu pensamento
Colorindo o mundo
Com as intensas cores
De um querer profundo.
A vida grita
Em meu corpo
Como um ato vivo
De universo
transformando
Cada passo de futuro
na realização e na busca
de um pequeno sonho
de transfigurado cotidiano...
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
HOUSE E A FILOSOFIA IV
O envolvimento amoroso de House com sua eterna amada Cuddy, que inicialmente dá o tom da sétima temporada da série, nos coloca interessantes questões sobre a natureza do chamado amor romântico.
Um House enamorado pode parecer um contra senso devido ao seu característico comportamento anti social e seu franco pessimismo em relação ao gênero humana. Mas a leitura do ensaio AMOR; O ÚNICO RISCO QUE HOUSE NÃO CORRE by Sara Protasi, que integra a coletânea HOUSE E A FILOSOFIA, sugere sobre o assunto alguns temas interessantes.
Contrariando o senso comum, a autora descarta a imagem estereotipada do amor como uma emoção irracional cujo efeito sofremos passivamente, propondo-o como um estado volitivo e intencional. Seu ensaio norteia-se pelo malfadado flerte entre Cameron e House ocorrido na primeira temporada da série e sua tentativa de reaproximação de Stacy, sua ex mulher ao longo da segunda temporada. Em ambos os casos, o amor revela-se na perspectiva de House como um estado (mental) a respeito de alguma coisa, ou mais propriamente, de um desejo, um desejo de segunda ordem. Através do amor sempre pretendemos alguma coisa...
Por outro lado, Potasi identifica em House uma certa fragilidade no que diz respeito ao desafio de um relacionamento.
Em suas próprias palavras:
“Wilson frequentemente diz a House que ele quer ser infeliz, por isso afasta as pessoas. Mas Wilson, mais que qualquer outro, sabe por que House prefere a solidão: porque é frágil demais e incapaz de aceitar o risco envolvido nos relacionamentos humanos em geral, e no amor erótico, em particular. É por isso que ele alerta Cameron e Stacy para não o magoá. As duas ficam surpresas, e na verdade todos as vêem como a contraparte fraca. Mas elas acabam ficando respectivamente, com Chase e Mark. Elas são capazes de amar, se magoar, correr riscos, começar uma nova história, juntar de novo os pedaços. House não é. Ele acaba sozinho.
Toda espécie de amor envolve uma capacidade de confiar, uma abertura para se magoar e uma vulnerabilidade em relação a outra pessoa. É por isso que House tem dificuldade não só para amar uma mulher, mas também para ter amigos. Mesmo com Wilson, seu único amigo, ele está sempre na defensiva. A amizade dos dois baseia-se apenas na habilidade de Wilson em mantê-la viva, em sua capacidade para perdoar House e ser paciente. Sem duvida, House afeiçoa-se a Wilson, mas faz de tudo para domina-lo. Isso pode funcionar em um relacionamento entre amigos, que é menos rígido e exclusivo que um relacionamento romântico. Mas sua luta para controlar tudo não pode dar certo no contexto de Eros, para o qual uma espécie peculiar de intimidade confiável é fundamental.”
(Sara Protasi. Amor o único risco que House não corre , in House e a Filosofia: Todo mundo mente/ coordenação de William Irwin; coletânea de Henry Jacoby/ tradução Marcos Malvezzi; SP Madras, 2009, p. 168)
Ao contrario do proposto pela autora, penso que a opção pela solidão por House não esta exatamente relacionada à sua fragilidade afetiva ou aos riscos emocionais inerentes a dinâmica de qualquer relacionamento. É, sim, sua incapacidade de sujeitar-se a rotina mecânica de uma vida convencional que o afasta, ou afastou durante muito tempo, da possibilidade de um compromisso amoroso.
Afinal, o enlace amoroso não passa de um intercambio entre egoístas que se jamais terão tudo aquilo que esperam ou querem um do outro...
INDIVIDUO E AUTENTICIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
As formatações contemporâneas da existência são francas adversárias do pensamento. Pois o cotidiano exige que nos deixemos levar o tempo todo pelo imediatismo dos fatos sem a aventura de grandes questionamentos ou reflexões.
Há sempre muito a se fazer e pouco para se pensar no mecânico e cotidiano acontecer do mundo em cada pessoa. Afinal, apenas alguns pedacinhos de impulso próprio ainda nos conduz a qualquer coisa que nos distingua nitidamente um dos outros, que nos configure como indivíduos singulares.
Na maior parte do tempo buscamos apenas a pequena felicidade pragmática do aqui e agora que igualmente motiva a todos.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
NOTA SOBRE A CULTURA CONTEMPORÂNEA
A primeira década do novo milênio, diferente do ocorrido no primeiro decênio dos últimos dois séculos, não foi marcada por um questionamento ou desconstrução significativa do cânone cultural estabelecido.
Apesar de toda inquietação e incerteza coletiva esvaziou-se na cultura contemporânea o impulso para o inédito, para busca de novas formas de codificação de mundo e de realidade. O impulso vanguardista foi substituído pela novidade do sempre igual de um mundo radicalmente formatado pela mediação tecnológica.
O cada vez mais radical hibridismo entre o humano e a técnica que cotidianamente transforma nossa percepção das coisas, ocupa o centro do novíssimo acontecer da condição humana. Cujas características vitais são o hedonismo e o pragmatismo.
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