O envolvimento amoroso de House com sua eterna amada Cuddy, que inicialmente dá o tom da sétima temporada da série, nos coloca interessantes questões sobre a natureza do chamado amor romântico.
Um House enamorado pode parecer um contra senso devido ao seu característico comportamento anti social e seu franco pessimismo em relação ao gênero humana. Mas a leitura do ensaio AMOR; O ÚNICO RISCO QUE HOUSE NÃO CORRE by Sara Protasi, que integra a coletânea HOUSE E A FILOSOFIA, sugere sobre o assunto alguns temas interessantes.
Contrariando o senso comum, a autora descarta a imagem estereotipada do amor como uma emoção irracional cujo efeito sofremos passivamente, propondo-o como um estado volitivo e intencional. Seu ensaio norteia-se pelo malfadado flerte entre Cameron e House ocorrido na primeira temporada da série e sua tentativa de reaproximação de Stacy, sua ex mulher ao longo da segunda temporada. Em ambos os casos, o amor revela-se na perspectiva de House como um estado (mental) a respeito de alguma coisa, ou mais propriamente, de um desejo, um desejo de segunda ordem. Através do amor sempre pretendemos alguma coisa...
Por outro lado, Potasi identifica em House uma certa fragilidade no que diz respeito ao desafio de um relacionamento.
Em suas próprias palavras:
“Wilson frequentemente diz a House que ele quer ser infeliz, por isso afasta as pessoas. Mas Wilson, mais que qualquer outro, sabe por que House prefere a solidão: porque é frágil demais e incapaz de aceitar o risco envolvido nos relacionamentos humanos em geral, e no amor erótico, em particular. É por isso que ele alerta Cameron e Stacy para não o magoá. As duas ficam surpresas, e na verdade todos as vêem como a contraparte fraca. Mas elas acabam ficando respectivamente, com Chase e Mark. Elas são capazes de amar, se magoar, correr riscos, começar uma nova história, juntar de novo os pedaços. House não é. Ele acaba sozinho.
Toda espécie de amor envolve uma capacidade de confiar, uma abertura para se magoar e uma vulnerabilidade em relação a outra pessoa. É por isso que House tem dificuldade não só para amar uma mulher, mas também para ter amigos. Mesmo com Wilson, seu único amigo, ele está sempre na defensiva. A amizade dos dois baseia-se apenas na habilidade de Wilson em mantê-la viva, em sua capacidade para perdoar House e ser paciente. Sem duvida, House afeiçoa-se a Wilson, mas faz de tudo para domina-lo. Isso pode funcionar em um relacionamento entre amigos, que é menos rígido e exclusivo que um relacionamento romântico. Mas sua luta para controlar tudo não pode dar certo no contexto de Eros, para o qual uma espécie peculiar de intimidade confiável é fundamental.”
(Sara Protasi. Amor o único risco que House não corre , in House e a Filosofia: Todo mundo mente/ coordenação de William Irwin; coletânea de Henry Jacoby/ tradução Marcos Malvezzi; SP Madras, 2009, p. 168)
Ao contrario do proposto pela autora, penso que a opção pela solidão por House não esta exatamente relacionada à sua fragilidade afetiva ou aos riscos emocionais inerentes a dinâmica de qualquer relacionamento. É, sim, sua incapacidade de sujeitar-se a rotina mecânica de uma vida convencional que o afasta, ou afastou durante muito tempo, da possibilidade de um compromisso amoroso.
Afinal, o enlace amoroso não passa de um intercambio entre egoístas que se jamais terão tudo aquilo que esperam ou querem um do outro...
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