Em seu ensaio sobre a tagarelice Plutarco ( 45-120 DC) realiza um interessante elogio ao silêncio e uma critica ao falar desmedido e a conseqüente incapacidade de ouvir . Mas é interessante assinalar que este pequeno escrito Helênico ecoa sobre a contemporaneidade de um modo desconcertante.
Afinal, em nenhuma outra época histórica o abuso do exercício da fala foi tão socialmente recorrente a ponto de tornar-se uma premissa de sociabilidade.
Incomoda-nos a tal ponto o silêncio na presença dos outros que preenchemos o cotidiano com o discurso fácil e descartável inspirado pela linguagem instantânea do jornal matutino. Nos comunicamos de modo tão automático que pouco nos importamos com o que realmente ouvimos ou dizemos.
O delator vazio do silêncio, que apenas nos lembra de que já não temos absolutamente nada mais de importante a compartilhar uns com os outros, é a premissa de toda verbalogia contemporânea.
Para nós, as seguintes palavras inicias de Plutarco no ensaio em referência causam uma curiosa estranheza:
“É delicado e difícil para a filosofia empreender a cura da tagarelice. Pois seu remédio, a palavra, é feito para aqueles que ouvem, e os tagarelas não ouvem ninguém, já que estão sempre falando. Eis o primeiro mal contido na incapacidade de se calar: a incapacidade de ouvir. É uma surdez voluntária, de homens que, suponho, censuram a natureza o fato de terem apenas uma língua, embora tenha duas orelhas.”
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