A soma das horas
Da minha vida
Jamais definirão
O que fui e sou
Entre o céu, a terra
E o devir.
Quantos de mim mesmo,
Afinal,
Posso sonhar, ser
E saber
Na matéria bruta dos fatos?
Nenhum retrato diz meu rosto
Nos dias,
Nenhum pensamento esclarece
O movimento da carne d’alma
Dentro do tempo.
Tudo que sei é que passo
Em atos de liberdade
No finito de cada passo.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
O CANTO DE MARLENE DIETRICH
Ouvia agora a pouco uma coletânea de Marlene Dietrich. Dei-me conta, na aventura da musica decorando a noite, do quanto, mesmo como cantora ou one woman show, ela representa o mais enigmático, ambíguo e misterioso símbolo feminino de sexualidade já construído pela mítica e irracional linguagem do cinema da primeira metade do século XX.
Interpretando peças musicais, Marlene é uma realmente singular... uma musa profunda e expressiva que parece, com a ambigüidade de uma esfinge desafiar-nos com a sóbria interpretação quase masculina de canções tão preciosas como Lili Marlene, Simphonie, Black Market ou You Go To My Head.
Segundo Charles Higman, autor de uma biografia sobre Marlene, citando seu regente dos anos 50, William Blezard, ela desenvolveu e popularizou o sprechstimme, a arte de falar como se estivesse cantando na inventividade única de seu canto.
As Performances de Dietrich são como um seqüestro de vida de alguma elegante plenitude de mundo que nos revela o máximo limite e apoteose da experiência humana.
Interpretando peças musicais, Marlene é uma realmente singular... uma musa profunda e expressiva que parece, com a ambigüidade de uma esfinge desafiar-nos com a sóbria interpretação quase masculina de canções tão preciosas como Lili Marlene, Simphonie, Black Market ou You Go To My Head.
Segundo Charles Higman, autor de uma biografia sobre Marlene, citando seu regente dos anos 50, William Blezard, ela desenvolveu e popularizou o sprechstimme, a arte de falar como se estivesse cantando na inventividade única de seu canto.
As Performances de Dietrich são como um seqüestro de vida de alguma elegante plenitude de mundo que nos revela o máximo limite e apoteose da experiência humana.
LIVROS, LEITURAS E FRAGMENTO
Não conheço maneira mais apropriada para se ler um livro do que cortar-lhe a abstrata carne rasgando-lhe em fragmentos que, de algum modo subjetivo, nos revelam o cerne de seu corpo, de sua aparentemente homogênea narrativa.
Não se pode negar que a experiência da leitura faz-se normalmente pelo impacto de alguns parágrafos ou frases que nos seduzem, dar-se através de retalhos, de retratos em closes, ou ainda, através da surpresa reveladora de determinadas passagens onde nos reconhecemos provisoriamente.
Por tudo isso, escolher citações em um livro é um modo de dizer o que realmente nos interessa singularmente neles, aquilo de que nos apropriamos na aventura da leitura.
ILUSSIONS
Preciso vestir-me de luto
Para cantar e beber a alegria
De viver desfeito e mendigo
Em meus cinco sentidos.
O corpo faz dançar pensamentos,
Vontades explodem
Em mil direções e delírios.
Tudo existe
Em alucinante ritmo
De sentir em cores
Todo abismo que me faz
De algum modo emoção selvagem.
Mas me esqueço,
Apesar de tudo,
Na paisagem da mesa feita e previsível
De um jantar em família.
Leões e tigres
Esperam, porem, no quintal noturno
A soturna hora de um sonho
Que nunca chega a provar
O gosto de realidades.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
ENTRE OS DEUSES E OS HOMENS:O SIGNIFICADO DOS DAIMONS SEGUNDO MARIE LOUISE VON FRANZ
Uma das mais pertinentes reminiscências pagãs presentes no imaginário estabelecido pela mitologia cristã é a imagem do gênio pessoal, de um campo intermediário entre a realidade dos deuses e dos homens. Para a maioria das pessoas sua familialidade enquanto experiência psicológica, dar-se através da ingênua fantasia do anjo da guarda.
Buscando pensar o sentido mais profundo desta imagem arquetipica valho-me aqui de um fragmento de Marie Louise von Franz extraído de uma das palestras que compõem o livro Reflexões da alma: Projeção e Recolhimento Interior na Psicologia de C.G. Jung. Remeto-me assim ao arcaico conceito de daiomai e daimon onde encontramos uma simetria significativa com o conceito de complexos autônomos formulado por Jung e de vital importância para a compreensão de suas formulações. Interessante observar que a obra aqui em questão de Marie Louise von Franz é, antes de tudo, um estudo sobre o fenômeno da transferência e sua retirada, fenômeno que parece caracterizar o desenvolvimento da consciência humana através de mitos e símbolos ao longo de séculos.
“No contexto estrito da alma humana, muitos demônios cananeus e judaicos antigos tornaram-se “espíritos sopro”, que penetrando nos homens podiam produzir sensações, impulsos misteriosos, reações repentinas, etc., mas também uma postura ou uma orientação moral; no Velho Testamento fala-se de um espírito dos desejos ou do ciúme, mas também de um espírito da compreensão e do entendimento. Mesmo funções, como o olfato, a linguagem, o sono, a sexualidade, tem o seu “espírito”.
Na Grécia pré-helenica, os demônios formavam também um coletivo anônimo. A palavra daimon vem de daiomai, que significa algo como “repartir” e designava originalmente uma intervenção divina perceptível por momentos e da qual se ignorava o Deus que a teria praticado, por exemplo, afugentar os cavalos, falhar no trabalho, doenças, loucura, pavor de certos lugares na natureza virgem. Mesmo certas atividades enquanto tais são algo parecido a um daimon. Por volta de 700 a.C., na época de Hesíodo, surge pela primeira vez a concepção, bastante difundida no século III, de um daimon escoltando constantemente o indivíduo. No século IV; ele causa a infelicidade ou no infortúnio do indivíduo. No século IV começou-se a fazer oferendas a um daimon bom (aghathos) enquanto espírito domestico.
Platão utiliza a palavra de maneira ambígua, quase sempre como sinônimo de theos( Deus), agregando-lhe as vezes a nuance de um ser bem “próximo ao homem”. Assim, Diotima, como sabemos, afirma em O Banquete, que Eros era um grande daimon, “pois tudo o que é demoníaco- (pan to daimonion) está entre Deus e o mortal”, e à pergunta de Sócrates a respeito de qual era sua função, ela responde: “ a de interpretar e transmitir aos deuses o que é dos homens, e aos homens o que vem dos deuses: àqueles, orações e oferendas e a estes, ordens e recompensas pelas oferendas. No meio, portanto, está a conexão,de modo que o todo (topan) esta ligado em si mesmo. E também todas as profecias e esconjuros e toda a adivinhação e magia perpassam o demônio, pois Deus não se dirige aos homens, visto que todo o contato ou relação entre deuses e homens se dá através dele, tanto na vigília, quanto no sono... Existem muitos destes demônios e espíritos das mais variadas espécies, e Eros também é um deles.
No Estoicismo e no Platonismo, a sutil distinção entre deuses e homens tornou-se mais nítida: os deuses são poderes universais imensos, superiores, distantes dos homens e consideravelmente longe dos sofrimentos e das paixões humanas.Os daimons, ao contrário, povoam o reino intermediário entre o Olimpo e os homens, sobretudo a esfera do ar e o mundo sublunar, e reúnem-se ali com os espíritos da natureza,das fontes, plantas e animais. Esta concepção do final do Platonismo foi formulada por Apuleio de Madaura da seguinte maneira: os poetas teriam erroniamente atribuído aos deuses o que valia para os demônios: “Eles elevam e favorecem os homens, outros eles oprimem e humilham. Eles sentem portanto compaixão, indignação, felicidade e medo e todos os sentimentos da natureza humana...todas as tempestades distantes da tranqüilidade dos deuses do Céu. É que todos os deuses permanecem sempre no mesmo estado espiritual... pois nada é mais perfeito do que um Deus... Mas todas estas disposições, ao contrário, ajustam-se à natureza inferior dos demônios que tem em comum com os de cima a imortalidade e com os de baixo, as paixões... por isso denominei-os “passivos” por estarem submetidos às mesmas desordens anímicas que nós”. Num certo sentido, o espírito do homem, o seu “genius” e o seu “espírito bom” ( como o Daimonion de Sócatres) são também “daimons”, assim como os outros espíritos habitantes do ar. Depois da morte, eles se tornam Lêmures ou Lares ( deuses domésticos)ou, se eram maus, larvas (Spuks ruins).
(...)
No final da Antiguidade, a distinção entre deuses, longe dos sofrimentos terrenos, e demônios, sujeitos a todas as paixões humanas, me parece muito importante: os daimons estão mais próximos do homem do ponto de vista subjetivo-psicológico, do que os deuses. Cícero designava-os até como “mentes” ou “animi”, isto é, “almas”. Outros autores denominam-nos “potestates”, isto é, poderes. Encontramos esta designação de “alma” em muitos autores, mesmo os antigos, especialmente no Estoicismo, em Poseidônios, Fílon, Plutarco, Clemente de Alexandria e outros. A luz da psicologia junguiana, a antiga distinção entre deuses e homens significa o seguinte: os deuses representam antes as estruturas básicas arquetípicas da psique afastadas da consciência, e os demônios, ao contrário, configuram os mesmos arquétipos, só que de uma forma mais próxima da cosnciência e da vivência subjetivo-interior do homem. É como se um aspecto parcial dos arquétipos começasse a se aproximar do indivíduo, a se afeiçoar a ele, tornando-se uma “alma agregada”.”
(Marie Louise von Franz. Reflexões da Alma. Projeção e recolhimento Interior na Psicologia de C G Jung./ tradução de Erlon Jose Paschoal. SP: Cultrix/Pensamento, s/d, p.122-124)
THE MYSTERY OF UNIVERSE
O mundo convida-me
Ao espanto...
Talvez tudo que existe
não passe do sonho
de um pensamento
dentro de mim diurno;
Os pés provam
Um abismo aberto
Em explosão de fatos
E estilhaços de significados.
How Strange...
The mystery of universe.
Sou tudo o que posso
Em finitude e mundo
no pueril de cada certeza
espalhada pelo caminho.
Ao espanto...
Talvez tudo que existe
não passe do sonho
de um pensamento
dentro de mim diurno;
Os pés provam
Um abismo aberto
Em explosão de fatos
E estilhaços de significados.
How Strange...
The mystery of universe.
Sou tudo o que posso
Em finitude e mundo
no pueril de cada certeza
espalhada pelo caminho.
CRONICA RELÂMPAGO XXXI
Uma das coisas que mais me chamam atenção na condição humana é a capacidade de cada individuo para justificar seus atos mais tresloucados. Geralmente temos respostas e justificativas para os nossos maiores erros.
Não creio que interiorizamos a sociedade dentro de nós como uma instância impessoal de repressão em constante conflito com nossas mais profundas vocações pessoais. Creio, ao contrario, que em nossa cristalina, porem finita e limitada, consciência das coisas raramente nos abrimos para experiência da duvida radical, para descentralização “positiva” de nosso próprio rosto nessa infinidade de coisas concretas e abstratas estabelecida pela pluralidade viva que é o mundo.
Em cada cotidiana e extraordinária situação que a existência nos impõe, somos desafiados a fazer escolhas, a lidar com o absoluto outro de nós mesmos no interagir com o mundo ou a convencional realidade coletiva.
Na ausência de qualquer segurança, nos apegamos instintivamente aquilo que no plano do imediato melhor nos define, nossa própria consciência das coisas. Não consideramos, entretanto, suas imprecisões ou seu caráter fluido e instável. Afinal, o que nos parece certo hoje pode não nos parecer daqui a um ano e podemos perder boas experiências potenciais por não enxergarmos a complexidade de um determinado momento avaliando optando pelo mínimo que percebemos.
Voltando ao inicio desta divagação, é realmente curiosa nossa infantil necessidade de viver significados, inventar significantes, em um delirante jogo de verdades que, hipoteticamente, realiza apenas a miopia de nossas certezas de momento. Sejam elas admitidas ou não como tais...
META ALMA GEMEA
Pelo segredo do teu rosto
Deixaria escapar a alma
Em coloridas imagens
De espelhos e pensamentos.
Afogar-me-ia em teu corpo
Até esquecer meus lamentos
E metas
Buscaria algum outro de mim
Em teu retrato
Recriando o tempo
No gentil da primavera.
Pelo segredo do teu rosto
Talvez eu me perdesse
Entre enganos e sentimentos
das mais sagradas falhas certezas.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
MONARQIA BRITÂNICA E MULTICULTURALISMO
Uma das grandes peculiaridades da Grã Bretanha nesse inicio de século em um mundo cada vez mais globalizado, é a presença expressiva de várias comunidades imigrantes, seja de origem africana, caribenha ou asiática, a ponto de torná-la, muito provavelmente, o maior centro multicultural da Europa.
Mesmo após os atentados de julho de 2005 em Londres, a tolerância britânica com as diversas culturas que hoje transformam suas paisagens vividas, permanece muito maior do que a observada em outros centros culturais europeus como Paris e Berlim.
Pessoalmente acredito que tal integração de outras culturas a sua identidade territorial sem significativa resistência xenofóbica explica-se pela segurança identidária e cultural proporcionada pela instituição da monarquia enquanto símbolo e sustentáculo da soberania.
Embora assentada sobre valores em alguma medida arcaicos, como a teoria do direito divino, não há como negar certa contemporaneidade da Realeza enquanto personificação do self e da totalidade na cultura britânica.
Apesar das restrições da família real, é inegável o fato que a conversão de Lady Di em uma espécie de santa laica venerada por milhões de súditos provou a vitalidade da monarquia de um modo novo e contemporâneo. O fato é que em uma sociedade cada vez mais complexa e plural a monarquia tende a tornar-se um símbolo de integridade e alteridade.
LITERATURA INGLESA XXXIII
Edgar Alan Poe (1809-1849) é considerado até os dias de hoje um dos maiores escritores dos Estados Unidos e um grande nome das letras inglesas. Embora tenha escrito inúmeros poemas e novelas, Poe é mais intensamente lembrado pelos seus contos góticos e policiais. Influenciou significativamente autores como Baudelaire e Maupassant mesmo não gozando em sua época de merecida reputação dado o escândalo provocado pela recepção de sua obra entre seus contemporâneos.
Não é absolutamente meu objetivo aqui rabiscar qualquer resenha do tipo vida e obra do autor, mas sim definir seu lugar em minha imagem pessoal da rica e fecunda paisagem da literatura inglesa.
Neste sentido, gostaria de chamar atenção para a magistral habilidade de Poe para proporcionar uma profundidade psicológica extrema a seus personagens em excitantes situações de mistério articuladas por um abstrato e mágico principal personagem: O Medo... Poe é por excelência um escritor do medo, de sua psicologia. Basta passear os olhos sobre contos como a Carta Roubada, O gato preto, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo ou Berenice para se saber o quanto. Também figuram ao lado desta eterna temática do medo, a solidão e a morte.
Se o século XIX é o momento de consolidação de um dado modelo de racionalidade e modernidade de inspiração iluminista cristalizado pela sociedade industrial, Poe nos oferece de certa maneira, um vislumbre de sua sombra, as permanências dos aspectos irracionais e mais obscuros da condição humana, contrariando assim os otimismos e certezas de sua época.
Para ilustrar sua obra, ou enfeitar essa postagem, selecionei aqui apenas um fragmento daquele que é certamente seu poema mais conhecido: O Corvo, originalmente publicado em 1845, ocasião em que despertou grandes oposições no meio literário americano.
“Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary, Over many a quaint and curious volume of forgotten lore, While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping, As of some one gently rapping, rapping at my chamber door. "'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door- Only this, and nothing more."
Ah, distinctly I remember it was in the bleak December, And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor. Eagerly I wished the morrow;- vainly I had sought to borrow From my books surcease of sorrow- sorrow for the lost Lenore- For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore-
Nameless here for evermore.”
“Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto -
É só isto e nada mais."
Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.”
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