A vida é apenas
Um acontecer imperfeito
De isolados fatos
Espalhados pelo tempo,
Desarticulados em biografias
Perdidas em ilegível de mundo...
A vida é o provisório
E inacabado movimento
Da existência
Em perecível natureza.
Tudo que existe
É a mera e doce imanência
De cada dia perdido
Em enigmas de risos
Entre amigos.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
CRONICA RELÂMPAGO LVII
Nada é mais enganoso em nossas rotinas do que o sentimento de que ela é determinada pelo invariável e o imutável da empiria do acontecer guiado pelos calendários e agendas... Como se o cotidiano fosse domesticável e maleável, como se pudéssemos saber, mesmo que limitadamente, ao amanhecer de cada dia, o acontecer das horas que nos esperam em ingênuo calculo de hábitos consolidados.
A existência contemporânea, entretanto, não pressupõe qualquer rotina que não implique em riscos, incertezas, repentinas e obscuras mudanças que nos quebrem rostos nas surpresas de nós mesmos diante de fatos e experiências...
A existência contemporânea, entretanto, não pressupõe qualquer rotina que não implique em riscos, incertezas, repentinas e obscuras mudanças que nos quebrem rostos nas surpresas de nós mesmos diante de fatos e experiências...
ANOITECER
O mundo gira
E se transforma lá fora
Enquanto aqui dentro
Tento preservar os rastros
De emoções perdidas
Em palavras espalhadas
Sob o léu dos fatos.
Provisoriamente sobrevivo
A mim mesmo
Saboreando o sonambulismo das horas
Desencontradas do desaparecer do dia
A espera do sem nome de algum sonho
Escondido...
E se transforma lá fora
Enquanto aqui dentro
Tento preservar os rastros
De emoções perdidas
Em palavras espalhadas
Sob o léu dos fatos.
Provisoriamente sobrevivo
A mim mesmo
Saboreando o sonambulismo das horas
Desencontradas do desaparecer do dia
A espera do sem nome de algum sonho
Escondido...
FREE TIME
Procuro plena e absolutamente
Viver o momento
Como se toda a vida
Existisse nele,
Como se o acontecer
Da soma de todas as coisas
Brilhasse neste instante
Ofuscando as cotidianas
Incertezas e insuficiências
De inacabamentos biográficos.
Respiro o tempo presente
Como se nada mais existisse
Alem da sensação
E quase certeza do aqui e agora
A me consumir em vontades,
Esperanças e apostas.
Viver o momento
Como se toda a vida
Existisse nele,
Como se o acontecer
Da soma de todas as coisas
Brilhasse neste instante
Ofuscando as cotidianas
Incertezas e insuficiências
De inacabamentos biográficos.
Respiro o tempo presente
Como se nada mais existisse
Alem da sensação
E quase certeza do aqui e agora
A me consumir em vontades,
Esperanças e apostas.
sábado, 27 de junho de 2009
Lennon Remembers
LEMBRANÇAS DE LENNON é a publicação, pela primeira vez na integra da longa entrevista concedida por John Lennon e Yoko Ono em dezembro de 1970 a Jeann S. Wernner para a Revista Rolling Stones. Trata-se da primeira entrevista de John após o conturbado fim dos Beatles. Não é de surpreender, portanto, a entonação por vezes colérica ou ressentida de algumas passagens.
De um modo geral, o texto nos revela um retrato nítido de John Lennon, seus contextos vividos e questões de inicio dos anos 70. A entrevista deve ser lida como a descrição de um momento bastante passional onde Lennon buscava se afirmar contra a sombra dos Beatles; ela não é mais do que isso, a cristalização de um instante biográfico do entrevistado.
Embora tenha sido concebida como estratégia de publicidade para o seu primeiro disco solo então recentemente lançado: JOHN LENNON/PLASTIC ONO BAND, com o passar dos anos esta entrevista converteu-se em um dos mais importantes documentos sobre a separação dos Beatles, mesmo que seja apenas a versão de John ainda sob o calor dos acontecimentos.
O fato é que os Beatles, enquanto personificação radical do mito vivo de toda uma época, é nesta entrevista pela primeira vez dissecado, dessacralizado, dando lugar a uma imagem mais humana e realista da Banda e dos dilemas e dificuldades vividos pelos seus membros ao longo da agitada carreira.
Ao mesmo tempo, quando visitamos este texto neste inicio de milênio, o mais pertinente é o natural questionamento sobre a contemporaneidade de Lennon e seu legado. Pode-se dizer que a luta contra o mito de si mesmo e a afirmação de sua singularidade humana foi a principal lição que ele nos legou através de sua música. Esta busca de uma vida simples e autentica voltada para a contemporaneidade de si mesmo, apesar de todo o caos de mundo que nos rodeia é na verdade um desafio de todos nós e não apenas um desafio de Lennon.
Ao longo da leitura desta entrevista ecoava em meus pensamentos a musica "God" que me parece traduzir o compromisso vital que devemos a nós mesmos ou as potencialidades de nossa individualidade acima das tantas duvidosas e coletivas verdades espalhadas por ai e circunstâncias de social existência...
Em poucas palavras, acho que Lennon contribuiu para manter aquele realismo autêntico e intenso que faz do rock and roll uma realidade viva em nossas vidas...
“ ... O rock’n’roll? Por que é primitivo e não tem embromação... as melhores coisas. E mexe com a pessoa. É a batida. Vá para floresta e eles tem o ritmo, no mundo inteiro. Você leva o som, todo mundo entra junto. Eu li que Malcolm X, Eldridge Cleaver ou sei lá quem disse que, com o rock, os negros permitiram que os brancos de classe média usufluíssem de seu corpo novamente, colocaram o corpo e a mente ali. É mais ou menos isso. Mexe com a pessoa. Comigo, mexeu. De todas as coisas que estavam acontecendo quando eu tinha quinze anos, foi a única que conseguiu mexer comigo. O rock era real. Tudo o mais parecia ilusório. O lance do rock, do bom rock’n’roll- o que quer que “bom” signifique etc., ah-ah, e toda essa merda- é que é real. E o realismo mexe com a gente, quer queira quer não. A pessoa reconhece a autenticidade ali, como em toda a arte de verdade. O que quer que seja a arte, caros leitores.É isso.Se é autêntico, geralmente é simples.E se é simples, verdadeiro. Mais ou menos isso.”
De um modo geral, o texto nos revela um retrato nítido de John Lennon, seus contextos vividos e questões de inicio dos anos 70. A entrevista deve ser lida como a descrição de um momento bastante passional onde Lennon buscava se afirmar contra a sombra dos Beatles; ela não é mais do que isso, a cristalização de um instante biográfico do entrevistado.
Embora tenha sido concebida como estratégia de publicidade para o seu primeiro disco solo então recentemente lançado: JOHN LENNON/PLASTIC ONO BAND, com o passar dos anos esta entrevista converteu-se em um dos mais importantes documentos sobre a separação dos Beatles, mesmo que seja apenas a versão de John ainda sob o calor dos acontecimentos.
O fato é que os Beatles, enquanto personificação radical do mito vivo de toda uma época, é nesta entrevista pela primeira vez dissecado, dessacralizado, dando lugar a uma imagem mais humana e realista da Banda e dos dilemas e dificuldades vividos pelos seus membros ao longo da agitada carreira.
Ao mesmo tempo, quando visitamos este texto neste inicio de milênio, o mais pertinente é o natural questionamento sobre a contemporaneidade de Lennon e seu legado. Pode-se dizer que a luta contra o mito de si mesmo e a afirmação de sua singularidade humana foi a principal lição que ele nos legou através de sua música. Esta busca de uma vida simples e autentica voltada para a contemporaneidade de si mesmo, apesar de todo o caos de mundo que nos rodeia é na verdade um desafio de todos nós e não apenas um desafio de Lennon.
Ao longo da leitura desta entrevista ecoava em meus pensamentos a musica "God" que me parece traduzir o compromisso vital que devemos a nós mesmos ou as potencialidades de nossa individualidade acima das tantas duvidosas e coletivas verdades espalhadas por ai e circunstâncias de social existência...
Em poucas palavras, acho que Lennon contribuiu para manter aquele realismo autêntico e intenso que faz do rock and roll uma realidade viva em nossas vidas...
“ ... O rock’n’roll? Por que é primitivo e não tem embromação... as melhores coisas. E mexe com a pessoa. É a batida. Vá para floresta e eles tem o ritmo, no mundo inteiro. Você leva o som, todo mundo entra junto. Eu li que Malcolm X, Eldridge Cleaver ou sei lá quem disse que, com o rock, os negros permitiram que os brancos de classe média usufluíssem de seu corpo novamente, colocaram o corpo e a mente ali. É mais ou menos isso. Mexe com a pessoa. Comigo, mexeu. De todas as coisas que estavam acontecendo quando eu tinha quinze anos, foi a única que conseguiu mexer comigo. O rock era real. Tudo o mais parecia ilusório. O lance do rock, do bom rock’n’roll- o que quer que “bom” signifique etc., ah-ah, e toda essa merda- é que é real. E o realismo mexe com a gente, quer queira quer não. A pessoa reconhece a autenticidade ali, como em toda a arte de verdade. O que quer que seja a arte, caros leitores.É isso.Se é autêntico, geralmente é simples.E se é simples, verdadeiro. Mais ou menos isso.”
(John Lennon. Lembranças de Lennon. Entrevista de Jann S. Wenner/tradução de Marcio Glilo. SP: Conrad Editora do Brasil, 2001, p. 84-85 )
FILOSOFIA DE VIDA....
Eu amo a simplicidade de ser em cada grito vago de momento apenas o que sou na simplicidade das coisas sem a mediação de idéias e pensamentos, comer o nada dos fatos inventando e criando na economia dos atos o pouco que me define na imensidão do mundo. Quase nada tenho a dizer alem da minha ignorância de animal humano perdido no tempo e no finito em busca de inércias de prazer e desejo realizados. Nada me leva a nada alem disso...
ACROSS THE UNIVERSE
As letras perdem
Seu poder sobre as coisas.
Palavras escapam
Em repentina ausência
De espírito e significações.
Nada parece dizível,
Como se o mundo
Ficasse mudo
E fechado
No vazio da voz.
Misturo-me com o invisível
Da matéria em movimento
Perdendo-me no estado bruto
Da vida de todos os dias ,
no sumo do próprio universo...
No acontecer nervoso
De tudo que existe
Dentro de mim
Como equações de matemáticas
Jamais pensadas....
e musica de estatico momento...
ACROSS THE UNIVERSE...
Seu poder sobre as coisas.
Palavras escapam
Em repentina ausência
De espírito e significações.
Nada parece dizível,
Como se o mundo
Ficasse mudo
E fechado
No vazio da voz.
Misturo-me com o invisível
Da matéria em movimento
Perdendo-me no estado bruto
Da vida de todos os dias ,
no sumo do próprio universo...
No acontecer nervoso
De tudo que existe
Dentro de mim
Como equações de matemáticas
Jamais pensadas....
e musica de estatico momento...
ACROSS THE UNIVERSE...
quarta-feira, 24 de junho de 2009
BAD RELIGION
Um outro observa-me
Em segredo
Por traz das ilusões
Da realidade.
Desfaz valores,
Morais
E mentiras
No cadáver de religiões
Em mãos de morte.
Posso saber o mundo
Ouvindo apenas
Meu próprio querer
Em estéticas de existência
E filosofias de imanências
Apenas viver
No raso de cada dia
É tudo que me importa.
Em segredo
Por traz das ilusões
Da realidade.
Desfaz valores,
Morais
E mentiras
No cadáver de religiões
Em mãos de morte.
Posso saber o mundo
Ouvindo apenas
Meu próprio querer
Em estéticas de existência
E filosofias de imanências
Apenas viver
No raso de cada dia
É tudo que me importa.
LITERATURA INGLESA XLV
“Tragado para dentro do som, tragado para dentro do mar, um mar balançante, bum, shhh, bum, shh, buuum... pam, pam, pam, pam, pam, pam, pam, para dentro e para fora, para dentro e para fora, sim, não, sim, não, sim, não. Preto e branco, vindo e indo, fora e dentro, para cima e para fora, para dentro e para fora, sim, não, sim, não, sim, não. Preto e branco, vindo e indo, fora e dentro, para cima e para baixo, não, sim, não, sim, não sim, um, dois, um, dois, um, dois, e o três sou eu, o três sou eu, O TRÊS SOU EU Eu no escuro. Eu no escuro vibrante, agachado, eu agarrado, segurando bem, buuuum, shhh, balançando, balançando, algum lugar por trás do portão, algum lugar diante da porta, e uma luz vermelha-escuro empastada e pressão e dor e depois para FORA numa luz branca e plana onde as formas se movem e as coisas faíscam e reluzem.”
DORIS Lessing. Roteiro para um passeio ao Inferno
A obra de Doris Lessing é demasiadamente extensa e plural em seu modernismo meta realista. Impossível definir seu vasto universo ficcional em poucas palavras. Assim, me parece mais fecundo falar de sua literatura através da eleição de uma obra especifica em lugar de diagnosticar suas diferentes fases e temáticas chaves. Mas não sem antes defini-la como uma da mais profundas vozes femininas do século XX.
Dentre os vários livros que já li desta autora, um que me chama particularmente atenção e visito constantemente é Roteiro para um passeio no inferno. O que há de tão especial nessa delicada e discretamente filosófica brochura literária pode ser intuído na classificação feita pela autora em sua folha de rosto:
“Categoria: Ficção do espaço interior. Pois o melhor lugar para onde se ir é para dentro de nós mesmos.”
Trata-se neste romance das desventuras de um indivíduo anônimo encontrado certa madrugada andando a ermo e delirante pelo Embankment, próximo de Wartello Bridge ( Londres).
De inicio nada sabemos sobre sua identidade e acompanhamos curiosos seus longos dias de paciente no Hospital Central de Internamento; seu difícil trato com os médicos, as enfermeiras e outros enfermos, como por exemplo, o impasse com relação a sua submissão ao tratamento com eletro-choques, e, principalmente, seus densos devaneios de desmemoriado onde o mar e seus mistérios, surge como alegoria central do secreto correr da mais individual e pessoal profundeza da condição humana.
Pouco muda descobrirmos em determinado ponto da narrativa que nosso misterioso protagonista chama-se Charles Watkins professor de Línguas Clássicas na Universidade de Cambridge. 50 anos, casado, pai de dois filhos... apesar de sua relutância em lembrar-se de sua própria vida. É possível tomá-lo por um Ulysses contemporâneo cuja odisséia é a recusa à retornar ao lar em prol da aventura de desconcertantes auto descobertas pelos domínios de suas próprias profundezas.
A própria personagem nos sugere isso como, por exemplo, na seguinte passagem onde o contruír-se de uma biografia humana nos é apresentado como uma mera questão de cronometragem :
“- Mas suponhamos que eu me lembre das coisas de que quero lembrar-me? Eles tem certeza de que me lembrarei daquilo que querem que eu recorde. E é muito urgente que eu me lembre, isso eu sei. É tudo uma cronometragem , sabe. Também sei disso. São as estrelas em seus rumos, o tempo e o lugar. Eu estava pensando e pensando... Fiquei deitado , acordado, a noite passada e a outra antes dessa e a outra ainda... eu estava resolvendo alguma coisa. Porque tenho essa sensação de urgência? È conhecida. Não é coisa que eu só tenha desde que perdi a memória. Não. Já a tive antes. Agora acho que sei o que é. E não apenas isso. Há uma porção de coisas em nossa vida de todo o dia que são sombras. Como coincidências, ou sonhos, o tipo de coisas que não se coadunam com a vida comum, está me entendendo Violet?
(...)
- O meu sentido de urgência é muito simples- disse o professor.- Lembrei-me disso, pelo menos. O que preciso recordar tem a ver com o tempo se expirando. E isso é a ansiedade, em muita gente. Elas sabem que tem de fazer alguma coisa, deviam estar fazendo outra coisa, não apenas vivendo o dia a dia, pintando o rosto e decorando suas cavernas e pregando peças maldosas em seus competidores. Não. Sabem que tem de fazer alguma outra coisa antes de morrerem... e assim os hospícios estão cheios e os farmacêuticos prósperos.”
(Doris Lesing. Roteiro para um passeio ao Inferno/traduçãoLuzia Machado da Costa. SP: Record/Atalaya (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea), s/d, p.215)
Mas nada disso é suficiente para apresentar esse interessante livro sem mencionar certa passagem do Apenso que acompanha a narrativa. Neste a autora nos fala de sua experiência com um script que certa vez elaborou para um filme que não saiu do papel. Afinal, seu argumento pode ser tomado como o mesmo deste livro:
(...) Blake pergunta:
Como sabes se cada pássaro que corta a
Estrada aérea
Não é um imenso mundo de prazer fechado por seus
Cinco sentidos?
Conhecer muito bem e por muito tempo uma pessoa que sente tudo de modo diferente das pessoas “normais” encerra a mesma pergunta.
O argumento desse filme era a que a percepção e sensibilidade extra do herói ou protagonista devia ser uma desvantagem numa sociedade organizada como a nossa, que favorece os conformados, os medíocres, os obedientes.”
( idem, p. 219)
Trata-se neste romance das desventuras de um indivíduo anônimo encontrado certa madrugada andando a ermo e delirante pelo Embankment, próximo de Wartello Bridge ( Londres).
De inicio nada sabemos sobre sua identidade e acompanhamos curiosos seus longos dias de paciente no Hospital Central de Internamento; seu difícil trato com os médicos, as enfermeiras e outros enfermos, como por exemplo, o impasse com relação a sua submissão ao tratamento com eletro-choques, e, principalmente, seus densos devaneios de desmemoriado onde o mar e seus mistérios, surge como alegoria central do secreto correr da mais individual e pessoal profundeza da condição humana.
Pouco muda descobrirmos em determinado ponto da narrativa que nosso misterioso protagonista chama-se Charles Watkins professor de Línguas Clássicas na Universidade de Cambridge. 50 anos, casado, pai de dois filhos... apesar de sua relutância em lembrar-se de sua própria vida. É possível tomá-lo por um Ulysses contemporâneo cuja odisséia é a recusa à retornar ao lar em prol da aventura de desconcertantes auto descobertas pelos domínios de suas próprias profundezas.
A própria personagem nos sugere isso como, por exemplo, na seguinte passagem onde o contruír-se de uma biografia humana nos é apresentado como uma mera questão de cronometragem :
“- Mas suponhamos que eu me lembre das coisas de que quero lembrar-me? Eles tem certeza de que me lembrarei daquilo que querem que eu recorde. E é muito urgente que eu me lembre, isso eu sei. É tudo uma cronometragem , sabe. Também sei disso. São as estrelas em seus rumos, o tempo e o lugar. Eu estava pensando e pensando... Fiquei deitado , acordado, a noite passada e a outra antes dessa e a outra ainda... eu estava resolvendo alguma coisa. Porque tenho essa sensação de urgência? È conhecida. Não é coisa que eu só tenha desde que perdi a memória. Não. Já a tive antes. Agora acho que sei o que é. E não apenas isso. Há uma porção de coisas em nossa vida de todo o dia que são sombras. Como coincidências, ou sonhos, o tipo de coisas que não se coadunam com a vida comum, está me entendendo Violet?
(...)
- O meu sentido de urgência é muito simples- disse o professor.- Lembrei-me disso, pelo menos. O que preciso recordar tem a ver com o tempo se expirando. E isso é a ansiedade, em muita gente. Elas sabem que tem de fazer alguma coisa, deviam estar fazendo outra coisa, não apenas vivendo o dia a dia, pintando o rosto e decorando suas cavernas e pregando peças maldosas em seus competidores. Não. Sabem que tem de fazer alguma outra coisa antes de morrerem... e assim os hospícios estão cheios e os farmacêuticos prósperos.”
(Doris Lesing. Roteiro para um passeio ao Inferno/traduçãoLuzia Machado da Costa. SP: Record/Atalaya (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea), s/d, p.215)
Mas nada disso é suficiente para apresentar esse interessante livro sem mencionar certa passagem do Apenso que acompanha a narrativa. Neste a autora nos fala de sua experiência com um script que certa vez elaborou para um filme que não saiu do papel. Afinal, seu argumento pode ser tomado como o mesmo deste livro:
(...) Blake pergunta:
Como sabes se cada pássaro que corta a
Estrada aérea
Não é um imenso mundo de prazer fechado por seus
Cinco sentidos?
Conhecer muito bem e por muito tempo uma pessoa que sente tudo de modo diferente das pessoas “normais” encerra a mesma pergunta.
O argumento desse filme era a que a percepção e sensibilidade extra do herói ou protagonista devia ser uma desvantagem numa sociedade organizada como a nossa, que favorece os conformados, os medíocres, os obedientes.”
( idem, p. 219)
FREE NIGHT
segunda-feira, 22 de junho de 2009
ON THE ROAD
A margem da rua,
Dentro do meu silêncio,
Percorro o mundo
Mudo e em segredo.
As pessoas são como coisas
Em movimento
Entre objetos e cores,
Carros e prédios.
Tudo existe
Como involuntária imaginação
Na bagunça dos meus pensamentos.
Dentro do meu silêncio,
Percorro o mundo
Mudo e em segredo.
As pessoas são como coisas
Em movimento
Entre objetos e cores,
Carros e prédios.
Tudo existe
Como involuntária imaginação
Na bagunça dos meus pensamentos.
domingo, 21 de junho de 2009
POS MODERNIDADE E SENTIMENTO DE TEMPO
A partir da segunda metade do século XX o “espírito epocal” gradativamente reduziu-se ao misero recorte cronológico de uma década. Não se trata de uma simples aceleração de nossa sensibilidade para realizar ou perceber as mudanças e transformações continuamente em curso nas tantas conjunturas culturais e históricas. O que me parece decisivo é a emergência de um tipo novo de percepção do passar do tempo condicionada a sua fragmentação e a nossa libertação do passado como tradição, o que estabelecia o costume como premissa da organização social do cotidianamente vivido através de ritos e regras que deveriam perpetuar-se indefinidamente no fluxo de gerações .
Essa liberdade relativamente recentemente adquirida com relação ao passado nos conduziu a um “presentismo contemporâneo” que parece rearticular nossas representações do passado e do futuro em um continum atemporal de uma pluralidade de estratégias de construção de imanências.
Definitivamente não vivemos mais no mesmo mundo de nossos avós ou de nossos pais, nem mesmo no da nossa infância. Ele também, com certeza, não será o de nossa velhice.
Tal fenômeno, que levaria ao desespero nossos antepassados, não nos perturba significativamente, pois nos habituamos a um eterno presente ontológico pós histórico onde a novidade é uma regra básica. O novo do sempre igual é o que define nossa contemporânea percepção do passar das coisas, a teleologia do imediato.
É impreciso falar de um “fim da história” como se propôs a algumas décadas. Foi a própria idéia de “evolução”, da história como um processo direcionada por metas e objetivos civilizacionais, que felizmente se perdeu na poeira do tempo. Neste ponto, sem sombra de duvida, superamos as ofuscações iluministas.
MUNDO ONIRICO
quarta-feira, 17 de junho de 2009
POETICA DEFINIÇÃO DA IMANÊNCIA
Minha vontade é correr o mundo em direções múltiplas de discursos desarticulados, perdidos, em palavras e frases de vento; provar o mundo em colorido pensamento de não dizer as coisas, sentindo-as em ativo verbo. Descobrir o nada como o segredo dos significados que nos sustentam verdades provisórias, desvelando o vazio em um riso de imaginação criativa e duradoura da realidade como estética, como sensível idéia inventada em meus atos na realização do corpo em macro e micro fisico movimento.
terça-feira, 16 de junho de 2009
MIRCEA ELIADE E A PROBLEMATICA DO SOGRADO COMO LINGUÁGEM
No prefácio que faz a ORIGENS, uma coletânea de seus ensaios publicada em 1969, Mircea Eliade define a experiência do sagrado não como a fé ou crença em deus, deuses ou adesão emocional a princípios e dogmas metafísicos, mas como a experiência de uma realidade significativa que é a própria condição do homem no mundo, ou ainda, como a uma estrutura inerente a fenomenologia da consciência.
Desta forma, considerando a crise da religiosidade contemporânea, que é em grande parte um desgaste dos modelos religiosos definidos pela tradição, é interessante observar como Eliade que, no conturbado contexto de fins dos anos 60 afirmava simplesmente que,
“... O que eu digo é que num período de crise religiosa não se podem prever as respostas criativas e, como tal, provavelmente irreconhecíveis, dadas a semelhante crise. Além do que não é possível prever as expressões de uma experiência do sagrado potencialmente nova. O ‘homem total” nunca é completamente dessacralizado, e é de duvidar até que tal seja possível. A secularização é altamente bem sucedida ao nível da vida consciente: as velhas idéias teológicas, dogmas, crenças, rituais, instituições, etc. são progressivamente expurgados de sentido. Mas nenhum homem normal vivo pode ser reduzido à sua atividade racional consciente, pois o homem moderno continua a sonhar, a apaixonar-se, a ouvir música, a ir ao teatro, a ver filmes, a ler livros – em resumo, a viver não só em um mundo histórico e natural, mas também num mundo existencial privado e num Universo imaginário. É, em primeiro lugar, o historiador das religiões quem é capaz de reconhecer e decifrar as estruturas e sentidos “religiosos” destes mundos privados ou Universos imaginários.”
( Mircea Eliade. Prefácio in Origens: História e Sentido na Religião / tradução de Tereza Louro Perez. Lisboia: Edições 70, s/d, p.12 )
Cabe complementar tal reflexão com os primeiros parágrafos do citado prefácio onde o autor, ao apresentar seus próprios textos, contrapõe os conceitos de “religião” e “sagrado” de modo realmente interessante e sugestivo:
“ É lamentável não termos a nossa disposição uma palavra mais precisa que ‘religião’ para designar a experiência do sagrado. Este termo traz consigo uma história longa, se bem que culturalmente bastante limitada. Fica a pensar-se como é possível aplicá-lo indiscriminadamente ao Próximo Oriente antigo, ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islamismo, ou ao Hinduismo, Budismo e Confucionismo bem como aos chamados povos primitivos. Mas talvez seja demasiado tarde para procurar outra palavra e “religião” pode continuar a ser um termo útil desde que não nos esqueçamos de que ela não implica necessariamente a crença em Deus, deuses ou fantasmas, mas que se refere à experiência do sagrado e, consequentemente, se encontra relacionada com as idéias de ser, sentido e verdade.
Com efeito, é difícil imaginar como poderia funcionar a mente humana sem a convicção de que existe algo de irredutivelmente real no mundo, e é impossível imaginar como poderia ter surgido a consciência sem conferir sentido aos impulsos e experiências do Homem. A consciência de um mundo real e com um sentido está intimamente relacionada com a descoberta do sagrado. Através da experiência do sagrado, a mente humana aprendeu a diferença entre aquilo que se revela como real, poderoso, rico e significativo e aquilo que não se revela como tal- isto é, o caótico e perigoso fluxo das coisas, os seus aparecimentos e desaparecimentos fortuitos e sem sentido.”
( Idem p. 9)
Parafraseando Eliade a experiência do sagrado, ao desvelar o ser, o sentido e a verdade no confronto com um mundo desconhecido, caótico e temível, preparou o caminho para o pensamento sistemático. Não é, portanto, de todo inútil nos ocuparmos dele dado que o estudo dos diversos mitos e símbolos construídos ao longo da história da humanidade, nos levam a confrontar e explorar situações existências fundamentais e elementares inerentes a experiência humana em sua linguagem arquétipa e pré-reflexiva.
Desta forma, considerando a crise da religiosidade contemporânea, que é em grande parte um desgaste dos modelos religiosos definidos pela tradição, é interessante observar como Eliade que, no conturbado contexto de fins dos anos 60 afirmava simplesmente que,
“... O que eu digo é que num período de crise religiosa não se podem prever as respostas criativas e, como tal, provavelmente irreconhecíveis, dadas a semelhante crise. Além do que não é possível prever as expressões de uma experiência do sagrado potencialmente nova. O ‘homem total” nunca é completamente dessacralizado, e é de duvidar até que tal seja possível. A secularização é altamente bem sucedida ao nível da vida consciente: as velhas idéias teológicas, dogmas, crenças, rituais, instituições, etc. são progressivamente expurgados de sentido. Mas nenhum homem normal vivo pode ser reduzido à sua atividade racional consciente, pois o homem moderno continua a sonhar, a apaixonar-se, a ouvir música, a ir ao teatro, a ver filmes, a ler livros – em resumo, a viver não só em um mundo histórico e natural, mas também num mundo existencial privado e num Universo imaginário. É, em primeiro lugar, o historiador das religiões quem é capaz de reconhecer e decifrar as estruturas e sentidos “religiosos” destes mundos privados ou Universos imaginários.”
( Mircea Eliade. Prefácio in Origens: História e Sentido na Religião / tradução de Tereza Louro Perez. Lisboia: Edições 70, s/d, p.12 )
Cabe complementar tal reflexão com os primeiros parágrafos do citado prefácio onde o autor, ao apresentar seus próprios textos, contrapõe os conceitos de “religião” e “sagrado” de modo realmente interessante e sugestivo:
“ É lamentável não termos a nossa disposição uma palavra mais precisa que ‘religião’ para designar a experiência do sagrado. Este termo traz consigo uma história longa, se bem que culturalmente bastante limitada. Fica a pensar-se como é possível aplicá-lo indiscriminadamente ao Próximo Oriente antigo, ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islamismo, ou ao Hinduismo, Budismo e Confucionismo bem como aos chamados povos primitivos. Mas talvez seja demasiado tarde para procurar outra palavra e “religião” pode continuar a ser um termo útil desde que não nos esqueçamos de que ela não implica necessariamente a crença em Deus, deuses ou fantasmas, mas que se refere à experiência do sagrado e, consequentemente, se encontra relacionada com as idéias de ser, sentido e verdade.
Com efeito, é difícil imaginar como poderia funcionar a mente humana sem a convicção de que existe algo de irredutivelmente real no mundo, e é impossível imaginar como poderia ter surgido a consciência sem conferir sentido aos impulsos e experiências do Homem. A consciência de um mundo real e com um sentido está intimamente relacionada com a descoberta do sagrado. Através da experiência do sagrado, a mente humana aprendeu a diferença entre aquilo que se revela como real, poderoso, rico e significativo e aquilo que não se revela como tal- isto é, o caótico e perigoso fluxo das coisas, os seus aparecimentos e desaparecimentos fortuitos e sem sentido.”
( Idem p. 9)
Parafraseando Eliade a experiência do sagrado, ao desvelar o ser, o sentido e a verdade no confronto com um mundo desconhecido, caótico e temível, preparou o caminho para o pensamento sistemático. Não é, portanto, de todo inútil nos ocuparmos dele dado que o estudo dos diversos mitos e símbolos construídos ao longo da história da humanidade, nos levam a confrontar e explorar situações existências fundamentais e elementares inerentes a experiência humana em sua linguagem arquétipa e pré-reflexiva.
LOST MEMORY
CRÔNICA RELÂMPAGO LVI
Talvez uma parcela de nossos rotineiros hábitos de existência possa ser classificada, na falta de melhores palavras, como vícios de dia a dia. Refiro-me aquele insignificante conjunto de hábitos e gestos concretos que diariamente reproduzimos irrefletidamente em nossa intimidade e constituem o núcleo de nossas rotinas.
Assistir a um dado programa de TV diariamente, freqüentar determinados lugares públicos ou pessoas, possuir esta ou aquela dieta alimentar e até mesmo usar certas gírias ou expressões vazias para se expressar, convencionalmente, diz muito sobre quem somos. Penso, entretanto, que, longe disso, tais “manias adquiridas” não passam de superficialidade pragmática, independente do quanto somos moldados por elas.
Definitivamente não é como vivemos que define o que há de mais singular em nossa singularidade e individualidade. Nisso só encontramos duvidosas explicações de como nos adaptamos melhor ou pior as experiências vividas ao longo do acumulo de tempo no mundo.É em como gostaríamos de viver que surge nossas potencialidades básicas e bem ou mal realizadas através de nossas escolhas e configurações de existência. Somos sempre um esboço de tudo aquilo que poderíamos ser, um pálido retrato de nossas anciãs, desejos e inclinações mais básicas.
Afinal, quantos sonhos guardamos no bolso enquanto sofremos o peso de nossas personas sociais? O quanto guardamos de nós mesmos ao longo do acontecer da vida?
Assistir a um dado programa de TV diariamente, freqüentar determinados lugares públicos ou pessoas, possuir esta ou aquela dieta alimentar e até mesmo usar certas gírias ou expressões vazias para se expressar, convencionalmente, diz muito sobre quem somos. Penso, entretanto, que, longe disso, tais “manias adquiridas” não passam de superficialidade pragmática, independente do quanto somos moldados por elas.
Definitivamente não é como vivemos que define o que há de mais singular em nossa singularidade e individualidade. Nisso só encontramos duvidosas explicações de como nos adaptamos melhor ou pior as experiências vividas ao longo do acumulo de tempo no mundo.É em como gostaríamos de viver que surge nossas potencialidades básicas e bem ou mal realizadas através de nossas escolhas e configurações de existência. Somos sempre um esboço de tudo aquilo que poderíamos ser, um pálido retrato de nossas anciãs, desejos e inclinações mais básicas.
Afinal, quantos sonhos guardamos no bolso enquanto sofremos o peso de nossas personas sociais? O quanto guardamos de nós mesmos ao longo do acontecer da vida?
sábado, 13 de junho de 2009
PRESENT
Tudo passa e se perde
Em um segundo de certeza
Esboçado em pensamento.
O caos e o mundo
Deitam sobre mim
Em um sonho de dias perdidos.
Vivo imanentemente o agora
Mergulhado no efêmero
Do acontecer de um instante.
Em um segundo de certeza
Esboçado em pensamento.
O caos e o mundo
Deitam sobre mim
Em um sonho de dias perdidos.
Vivo imanentemente o agora
Mergulhado no efêmero
Do acontecer de um instante.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
HAWKING E OS BURACOS NEGROS
Publicado originalmente no Reino Unido em 1997, a coleção “Em 90 Minutos” de autoria do professor de filosofia e matemática da Universidade de Kingston, Paul Stratheen, oferece ao público leigo, breves e panorâmicos ensaios sobre a vida e obra de filósofos e cientistas de relevante impacto sobre o pensamento contemporâneo.
Um dos volumes mais interessantes da coleção é HAWKING AND BLACK HOLES, dedicado a Stephen W. Hawking, considerado o mais brilhante físico teórico desde Einstein que, muito apropriadamente , ocupa a cadeira de professor lucasiano de Matemática em Cambridge que já fora ocupada um dia por Newton.
Conhecido do grande público desde a publicação em 1997 de “Uma breve História do Tempo”, Hawking é reapresentado aos leigos através deste pequeno manual através de um interessante recorte biográfico que, indiretamente, nos aproxima do complexo conjunto de problemas e hipóteses que o brilhante cientista generosamente nos oferece.
Creio que o mérito desta pequena brochura é justamente a de permitir uma leitura menos abstrata do autor e das implicações de sua obra nos convidando a refletir sobre ela e sobre o lugar que a ciência especulativa, ou a cosmologia ocupa em nosso imaginário contemporâneo.
Tudo que sei é que uma bela e inspiradora descrição de Hawking, enquanto mito vivo do pensamento cientifico e das potencialidades da mente humana, pode ser encontrada ao final do ensaio de Stratheen:
“ Não é por acaso que Hawking trabalha no Departamento de Matemática Aplicada de Física Teórica. Se seu trabalho. Se seu trabalho fosse provado, poderia se tornar prático e ele perder seu gabinete. Foi nesse gabinete que Hawking levou a cabo boa parte de suas mais profundas reflexõesm ( como o aviso de “Silêncio, por favor, o chefe esta dormindo” pendurado em sua porta). Talvez seja esta a melhor maneira de descrevê-lo. Uma figura pequena, enterrada em uma cadeira de rodas motorizada, com sua rede de computador, seu espelho, fios complexos e cliques dos engenhos mecânicos. Hawking em silêncio combina pequenos cálculos com vastas teorias. Sobre a mesa em frente, outra tela de computador e pilhas de papel. Mais além, o grande pôster de Marilyn Monroe olha para baixo, com ternura, para seu protegido intelectual. Perdido nesse hambiente, Hawking confronta sua mente com os limites do universo. De vez em quanto, um assistente ou uma enfermeira entra e sai, silenciosamente, sem ser notado.
Às quatro horas em ponto, todos os dias, encena-se um ritual . A hora do chá. Hawking é levado em sua cadeira até o salão comum, onde fotografias de antigos Lucasian Professors revestem as paredes. Nesse local, trocas vigorosas acontecem entre os jovens pesquisadores reunidos. A aparência desse grupo já foi comparada a “uma banda de rock em um mau dia” e sua linguagem é igualmente incompreensível aos seres humanos normais. A figura central desse grupo se senta em sua cadeira de rodas usando um babador. Uma enfermeira segura seu copo e mantém uma das mãos em sua testa, controlando sua cabeça para que ele possa beber. Seus óculos deslizam pelo nariz e seus lábios frouxos sugam ruidosamente o chá, enquanto vozes jovens discutem calorosamente em torno dele. Algumas vezes a conversa se interrompe e um componente do grupo escreve uma formula matemática no tampo de fórmica da mesa. !”Quando queremos conversar alguma coisa, tiramos xérox da mesa”, disse Hawking certa vez a um visitante.)
De vez em quanto, o grupo se volta para a pequena figura na cadeira de rodas, e ele digita uma resposta que ressoa na voz debilitada do sintetizador. Alguém faz um comentário de mau gosto, típico dos estudantes, e a figura na cadeira de rodas irradia seu famoso sorriso largo. Ele está em seu elemento: o centro de seu próprio universo matemático, já matéria de lenda.”
Um dos volumes mais interessantes da coleção é HAWKING AND BLACK HOLES, dedicado a Stephen W. Hawking, considerado o mais brilhante físico teórico desde Einstein que, muito apropriadamente , ocupa a cadeira de professor lucasiano de Matemática em Cambridge que já fora ocupada um dia por Newton.
Conhecido do grande público desde a publicação em 1997 de “Uma breve História do Tempo”, Hawking é reapresentado aos leigos através deste pequeno manual através de um interessante recorte biográfico que, indiretamente, nos aproxima do complexo conjunto de problemas e hipóteses que o brilhante cientista generosamente nos oferece.
Creio que o mérito desta pequena brochura é justamente a de permitir uma leitura menos abstrata do autor e das implicações de sua obra nos convidando a refletir sobre ela e sobre o lugar que a ciência especulativa, ou a cosmologia ocupa em nosso imaginário contemporâneo.
Tudo que sei é que uma bela e inspiradora descrição de Hawking, enquanto mito vivo do pensamento cientifico e das potencialidades da mente humana, pode ser encontrada ao final do ensaio de Stratheen:
“ Não é por acaso que Hawking trabalha no Departamento de Matemática Aplicada de Física Teórica. Se seu trabalho. Se seu trabalho fosse provado, poderia se tornar prático e ele perder seu gabinete. Foi nesse gabinete que Hawking levou a cabo boa parte de suas mais profundas reflexõesm ( como o aviso de “Silêncio, por favor, o chefe esta dormindo” pendurado em sua porta). Talvez seja esta a melhor maneira de descrevê-lo. Uma figura pequena, enterrada em uma cadeira de rodas motorizada, com sua rede de computador, seu espelho, fios complexos e cliques dos engenhos mecânicos. Hawking em silêncio combina pequenos cálculos com vastas teorias. Sobre a mesa em frente, outra tela de computador e pilhas de papel. Mais além, o grande pôster de Marilyn Monroe olha para baixo, com ternura, para seu protegido intelectual. Perdido nesse hambiente, Hawking confronta sua mente com os limites do universo. De vez em quanto, um assistente ou uma enfermeira entra e sai, silenciosamente, sem ser notado.
Às quatro horas em ponto, todos os dias, encena-se um ritual . A hora do chá. Hawking é levado em sua cadeira até o salão comum, onde fotografias de antigos Lucasian Professors revestem as paredes. Nesse local, trocas vigorosas acontecem entre os jovens pesquisadores reunidos. A aparência desse grupo já foi comparada a “uma banda de rock em um mau dia” e sua linguagem é igualmente incompreensível aos seres humanos normais. A figura central desse grupo se senta em sua cadeira de rodas usando um babador. Uma enfermeira segura seu copo e mantém uma das mãos em sua testa, controlando sua cabeça para que ele possa beber. Seus óculos deslizam pelo nariz e seus lábios frouxos sugam ruidosamente o chá, enquanto vozes jovens discutem calorosamente em torno dele. Algumas vezes a conversa se interrompe e um componente do grupo escreve uma formula matemática no tampo de fórmica da mesa. !”Quando queremos conversar alguma coisa, tiramos xérox da mesa”, disse Hawking certa vez a um visitante.)
De vez em quanto, o grupo se volta para a pequena figura na cadeira de rodas, e ele digita uma resposta que ressoa na voz debilitada do sintetizador. Alguém faz um comentário de mau gosto, típico dos estudantes, e a figura na cadeira de rodas irradia seu famoso sorriso largo. Ele está em seu elemento: o centro de seu próprio universo matemático, já matéria de lenda.”
( Paul Strarthern. Hawling e os Buracos Negros em 90 minutos/tradução de Maria Helena Geordane, consultoria Carla Fonseca-Barbatti. RJ: Jorge Zahar,1998, p. 79-80 )
ASTROLOGIA
Quero ser como o vento
Que vai e vem
ao sabor
do aleatório momento
de seus acasos,
Pensar silêncios
Adivinhando a escrita
Dos astros
Em meus destinos abertos
E hábitos.
Sei que sobre um céu vazio
Estrelas adivinham meus passos
E possibilidades.
Que vai e vem
ao sabor
do aleatório momento
de seus acasos,
Pensar silêncios
Adivinhando a escrita
Dos astros
Em meus destinos abertos
E hábitos.
Sei que sobre um céu vazio
Estrelas adivinham meus passos
E possibilidades.
domingo, 7 de junho de 2009
STEPHEN HAWKING E UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO
“O progresso da raça humana em compreender o universo estabeleceu uma pequena área de ordem num universo crescentemente desordenado.”
Stephen W. Hawking
Quando li pela primeira vez UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO do já lendário físico de Cambridge Stephen W Hawking, no inicio dos anos 90, tinha um pouco mais de 18 anos e apenas começava a definir meus interesses de estudo e eleger caminhos possíveis de vida e pensamento.
O tema pouco acessível, somado a popularidade do livro, que então já havia se convertido em um dos grandes best sellers de fins dos anos 80 e inicio dos 90, aguçou minha curiosidade. Através dele acabei, então, realizando meu primeiro contato com o denso universo da ciência contemporânea, sua linguagem e imagens vivas de significação de mundo. Posso hoje em retrospecto classificar como decisiva tal experiência em meus anos de formação como indivíduo. Pois esta foi uma das vivencias bibliográficas que alimentaram meu senso critico e radicais questionamentos em um momento de profundo questionamento das seguranças de fé e certezas metafísicas que o senso comum ingenuamente me oferecia.
É bem verdade que o livro em questão era ( e ainda é em grande parte) ilegível para o leigo no assunto que sou, mesmo que, como prudente obra de vulgarização não contenha aquelas cansativas e complicadas formulas matemáticas inerentes ao raciocínio de um físico teórico. Em que pesem meus limites de leigo, entretanto, creio que fiz na ocasião através dessa singular e ainda hoje clássica brochura uma descoberta deveras importante. Descobri o conhecimento humano como um processo, uma construção e desconstrução constante de teorias que confirmam e renovam em cada nova imagem de mundo que criam as potencialidades quase infinitas do intelecto humano. Em contra partida também aprendi que em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo mesmo nos beneficiando na vida diária cada vez mais dos produtos do avanço do desenvolvimento técnico-científico.
O fato é que ainda hoje a idéia de um universo em expansão, a teoria dos buracos negros, a teoria da corda e a utopia de uma teoria unificada me fascinam como testemunho do esforço humano de traduzir o universo em linguagem e superar seus mais arraigados limites.
Uma das grandes questões especulativas do livro de Hawking é justamente a busca de uma teoria unificada cuja implicações ele assim esclarece:
“ O que significaria se atualmente se descobrisse a teoria definitiva do universo? Como foi explicado no Capitulo 1, jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas. Mas se fosse matematicamente consistente e sempre fornecesse previsões que concordassem com observações, poder-se-ia ter razoável certeza de que seria a teoria correta. Colocaria um final no longo e glorioso capítulo da luta intelectual da história da humanidade para entender o universo. Mas também revolucionaria a compreensão comum que se tem das leis que governam o universo. No tempo de Newton era possível para uma pessoa culta abarcar todo o conhecimento humano, pelo menos em linhas gerais. Mas desde então, o ritmo do desenvolvimento da ciência tornou esse saber impossível. Dado que as teorias estão sempre sendo mudadas para dar conta de novas observações, não são nunca adequadamente digeridas ou simplificadas para que os leigos possam compreende-las. É necessário ser especialista, e mesmo assim pode-se esperar dominar apenas uma pequena proporção das teorias científicas. Além disso, a razão do progresso é tão acelerada que o que se aprende nas escolas e universidades já é sempre um pouco ultrapassado. Poucas pessoas podem fazer face às fronteiras do conhecimento que avançam rapidamente e é necessário devoção integral e se especializar numa pequena área. O restante da população tem apenas uma vaga idéia dos avanços que estão sendo feitos ou da excitação que eles estão gerando. Setenta anos atrás, acreditando-se em Eddington, apenas duas pessoas compreendiam a tória geral da relatividade. Atualmente cada dez em cem universitários graduados o fazem, e muitos milhões de pessoas tem pelo menos alguma familiaridade com a idéia. Se uma teoria completa unificada fosse descoberta, seria apenas uma questão de tempo até que ela fosse digerida e simplificada da mesma forma e ensinada nas escolas, pelo menos em linhas gerais. Seriamos então todos capazes de ter alguma compreensão das leis que governam o universo sendo responsáveis por nossa existência.”
( Stephen W. Hawking. Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros/ tradução de Maria Helena Torres. RJ: Rocco, 19° ed, 1989, p. 229-230 )
Stephen W. Hawking
Quando li pela primeira vez UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO do já lendário físico de Cambridge Stephen W Hawking, no inicio dos anos 90, tinha um pouco mais de 18 anos e apenas começava a definir meus interesses de estudo e eleger caminhos possíveis de vida e pensamento.
O tema pouco acessível, somado a popularidade do livro, que então já havia se convertido em um dos grandes best sellers de fins dos anos 80 e inicio dos 90, aguçou minha curiosidade. Através dele acabei, então, realizando meu primeiro contato com o denso universo da ciência contemporânea, sua linguagem e imagens vivas de significação de mundo. Posso hoje em retrospecto classificar como decisiva tal experiência em meus anos de formação como indivíduo. Pois esta foi uma das vivencias bibliográficas que alimentaram meu senso critico e radicais questionamentos em um momento de profundo questionamento das seguranças de fé e certezas metafísicas que o senso comum ingenuamente me oferecia.
É bem verdade que o livro em questão era ( e ainda é em grande parte) ilegível para o leigo no assunto que sou, mesmo que, como prudente obra de vulgarização não contenha aquelas cansativas e complicadas formulas matemáticas inerentes ao raciocínio de um físico teórico. Em que pesem meus limites de leigo, entretanto, creio que fiz na ocasião através dessa singular e ainda hoje clássica brochura uma descoberta deveras importante. Descobri o conhecimento humano como um processo, uma construção e desconstrução constante de teorias que confirmam e renovam em cada nova imagem de mundo que criam as potencialidades quase infinitas do intelecto humano. Em contra partida também aprendi que em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo mesmo nos beneficiando na vida diária cada vez mais dos produtos do avanço do desenvolvimento técnico-científico.
O fato é que ainda hoje a idéia de um universo em expansão, a teoria dos buracos negros, a teoria da corda e a utopia de uma teoria unificada me fascinam como testemunho do esforço humano de traduzir o universo em linguagem e superar seus mais arraigados limites.
Uma das grandes questões especulativas do livro de Hawking é justamente a busca de uma teoria unificada cuja implicações ele assim esclarece:
“ O que significaria se atualmente se descobrisse a teoria definitiva do universo? Como foi explicado no Capitulo 1, jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas. Mas se fosse matematicamente consistente e sempre fornecesse previsões que concordassem com observações, poder-se-ia ter razoável certeza de que seria a teoria correta. Colocaria um final no longo e glorioso capítulo da luta intelectual da história da humanidade para entender o universo. Mas também revolucionaria a compreensão comum que se tem das leis que governam o universo. No tempo de Newton era possível para uma pessoa culta abarcar todo o conhecimento humano, pelo menos em linhas gerais. Mas desde então, o ritmo do desenvolvimento da ciência tornou esse saber impossível. Dado que as teorias estão sempre sendo mudadas para dar conta de novas observações, não são nunca adequadamente digeridas ou simplificadas para que os leigos possam compreende-las. É necessário ser especialista, e mesmo assim pode-se esperar dominar apenas uma pequena proporção das teorias científicas. Além disso, a razão do progresso é tão acelerada que o que se aprende nas escolas e universidades já é sempre um pouco ultrapassado. Poucas pessoas podem fazer face às fronteiras do conhecimento que avançam rapidamente e é necessário devoção integral e se especializar numa pequena área. O restante da população tem apenas uma vaga idéia dos avanços que estão sendo feitos ou da excitação que eles estão gerando. Setenta anos atrás, acreditando-se em Eddington, apenas duas pessoas compreendiam a tória geral da relatividade. Atualmente cada dez em cem universitários graduados o fazem, e muitos milhões de pessoas tem pelo menos alguma familiaridade com a idéia. Se uma teoria completa unificada fosse descoberta, seria apenas uma questão de tempo até que ela fosse digerida e simplificada da mesma forma e ensinada nas escolas, pelo menos em linhas gerais. Seriamos então todos capazes de ter alguma compreensão das leis que governam o universo sendo responsáveis por nossa existência.”
( Stephen W. Hawking. Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros/ tradução de Maria Helena Torres. RJ: Rocco, 19° ed, 1989, p. 229-230 )
VIDA E LINGUAGEM
Há em toda comunicação e diálogo algo de um intraduzível sentimento de mundo, uma involuntária sensação de estar aqui e agora a construir discursos contra os limites da própria linguagem.
Trata-se de uma imprecisa consciência de si mesmo que por trás das palavras escreve involuntários silêncios nas múltipla sensações de compartilhar a experiência de estar vivo...
Trata-se de uma imprecisa consciência de si mesmo que por trás das palavras escreve involuntários silêncios nas múltipla sensações de compartilhar a experiência de estar vivo...
BLACK HOLE
Vejo a existência espalhada
Na desordem do tempo
Sem qualquer margem
Ou limite,
Livre no inverso do pensamento.
A vida estática
E abastrata
No imaginário de um devaneio
Desloca-se das coisas
Impludindo infinitos
E desvelo
Meu intimo
Lugar nenhum.
Na desordem do tempo
Sem qualquer margem
Ou limite,
Livre no inverso do pensamento.
A vida estática
E abastrata
No imaginário de um devaneio
Desloca-se das coisas
Impludindo infinitos
E desvelo
Meu intimo
Lugar nenhum.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
ORIGENS DO ROCK AND ROLL
Não é uma tarefa muito fácil falar com alguma precisão ou rigor sobre os marcos de origem do velho rock and roll nos Estados Unidos do pós segunda grande guerra. É mais seguro tomá-lo, enquanto novo estilo musical, como uma construção coletiva da primeira e extremamente criativa geração de rockers. Dentre eles destacam-se nomes como o de Chuck Berry, Elvis Presley, Bill Halley, Litle Richard, Gene Vicent e Jerry Lee Lews, e tantos outros.
Segunda uma versão sacralizada o rock and roll teria sido “inventado” por Chuck Berry e sua certidão de nascimento seria a gravação de Maybellene em 1955. Outra versão, entretanto, toma como seu primeiro marco a gravação do compacto Rocket 88 em 1951 por um conjunto de rhythm & blues chamado The King of Rhythm.
Como em seus primórdios o rock encontrava-se muito próximo de suas matrizes de origem a ponto de pouco diferenciar-se delas, é muito difícil precisar em que momento e através de quem ele se emancipou de suas raízes a ponto de constituir um estilo e personalidade musical própria. Afinal, as raízes do rock and roll são diversas. Suas influencias iniciais compreendem o blues tradicional, o rhythm & blues, a musica country, o folk, o boogie woogie e até mesmo um pouco de gospel. Se podemos defini-lo como uma musica rápida e dançante, baseada em três ou quatro acordes e interpretada de modo alucinado e jocoso, isso não é absolutamente suficiente para distingui-lo sem equívocos, por exemplo, do rhythm & blues.
De um modo ou de outro foi ao longo dos anos 50 que, impulsionado por uma poderosa industria cultural, o rock projetou-se como fenômeno diferenciado em meio ao rico cenário musical do período cativando um público de adolescentes que a partir dele construiu uma identidade e um universo próprio de questões e dilemas. De certo modo o rock reinventou as representações sociais do ser jovem e redefiniu seu lugar e espaço na sociedade ocidental ao relativamente libertá-lo do peso das tradições e costumes convencionais...
Segunda uma versão sacralizada o rock and roll teria sido “inventado” por Chuck Berry e sua certidão de nascimento seria a gravação de Maybellene em 1955. Outra versão, entretanto, toma como seu primeiro marco a gravação do compacto Rocket 88 em 1951 por um conjunto de rhythm & blues chamado The King of Rhythm.
Como em seus primórdios o rock encontrava-se muito próximo de suas matrizes de origem a ponto de pouco diferenciar-se delas, é muito difícil precisar em que momento e através de quem ele se emancipou de suas raízes a ponto de constituir um estilo e personalidade musical própria. Afinal, as raízes do rock and roll são diversas. Suas influencias iniciais compreendem o blues tradicional, o rhythm & blues, a musica country, o folk, o boogie woogie e até mesmo um pouco de gospel. Se podemos defini-lo como uma musica rápida e dançante, baseada em três ou quatro acordes e interpretada de modo alucinado e jocoso, isso não é absolutamente suficiente para distingui-lo sem equívocos, por exemplo, do rhythm & blues.
De um modo ou de outro foi ao longo dos anos 50 que, impulsionado por uma poderosa industria cultural, o rock projetou-se como fenômeno diferenciado em meio ao rico cenário musical do período cativando um público de adolescentes que a partir dele construiu uma identidade e um universo próprio de questões e dilemas. De certo modo o rock reinventou as representações sociais do ser jovem e redefiniu seu lugar e espaço na sociedade ocidental ao relativamente libertá-lo do peso das tradições e costumes convencionais...
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Mesmo sendo uma obra demasiadamente sintética e factual dada sua formatação, o ALMANAQUE DO ROCK: HISTÓRIAS E CURIOSIDADES DO RITMO QUE REVOLUCIONOU A MÚSICA de Kid Vinil é uma referência relevante para os estudiosos do rock na medida em que fornece um panorama da evolução e diversificação gradativa deste singular estilo musical ao longo do tempo. A obra abrange um período relativamente longo que compreende os primórdios nos anos 50 até o diversificado e complexo cenário dos anos 00, discutindo também suas perspectivas de então.
No que diz respeito especificamente ao rock dos anos 50, o autor nos lembra uma influencia normalmente ignorada na formação do rock and roll:o Bebop. Em suas próprias palavras:
“ O Bebop que apareceu com o fim das big bands, foi outra raiz do rock and roll. Era um tipo de jazz misturado ao blues feito pelos jovens negros, mas não era dançante como o som das swing bands. Nomes como o do saxofonista Charlie Parker e do trompetista Dizzy Gillespie destacaram-se nessa onda.”
( Kid Vinil. Almanaque do Rock: Histórias e curiosidades do ritmo que revolucionou a música. SP: Ediouro, 2008, p. 17 )
Ele também resgata o lugar do Doo-Wop como estilo de rock dos anos 50:
“Um estilo importante dentro do rock and roll dos anos 50 foi o doo-woop, uma espécie de exercício vocal feito por grupos de jovens negros e brancos, pobres e, às vezes, ítalos-americanos, que começaram a carreira cantando sem nenhum acompanhamento de instrumentos, naquilo que chamamos a capella. Nessa década, apareceram diversos grupos desse estilo, e alguns conseguiram certo sucesso, como The Crows, The Penguins, The Ravens e The Orioles. Mas outros também merecem destaque, entre eles: The Platters, The Clovers, The Spaniels, Flankie Lymon and The Teenagers, Dion, The Flamingos e The Drifters.
Em 1954, um dos grupos precursores foram os canadenses do Crew Cuts que chegaram ao primeiro lugar em algumas paradas com a musica “Sh’Boom”, que consistia em um arranjo vocal dos quatro integrantes. No ano seguinte emplacaram mais uma: “Earth Angel”, regravação dos The Pingüins.
The Crows foi o primeiro grupo vocal a tocar em rádios de brancos em 1954, com a música “Gee”. Entretanto, um dos grupos mais bem sucedidos foi o The Clovers, que se emplacou 13 sucessos entre 1951 e 1954. Sem contar o The Platers, grupo de dôo-eoop que entrou nas principais paradas com “The Great Pretender” em dezembro de 1955.”
( Idem p. 15)
“Um estilo importante dentro do rock and roll dos anos 50 foi o doo-woop, uma espécie de exercício vocal feito por grupos de jovens negros e brancos, pobres e, às vezes, ítalos-americanos, que começaram a carreira cantando sem nenhum acompanhamento de instrumentos, naquilo que chamamos a capella. Nessa década, apareceram diversos grupos desse estilo, e alguns conseguiram certo sucesso, como The Crows, The Penguins, The Ravens e The Orioles. Mas outros também merecem destaque, entre eles: The Platters, The Clovers, The Spaniels, Flankie Lymon and The Teenagers, Dion, The Flamingos e The Drifters.
Em 1954, um dos grupos precursores foram os canadenses do Crew Cuts que chegaram ao primeiro lugar em algumas paradas com a musica “Sh’Boom”, que consistia em um arranjo vocal dos quatro integrantes. No ano seguinte emplacaram mais uma: “Earth Angel”, regravação dos The Pingüins.
The Crows foi o primeiro grupo vocal a tocar em rádios de brancos em 1954, com a música “Gee”. Entretanto, um dos grupos mais bem sucedidos foi o The Clovers, que se emplacou 13 sucessos entre 1951 e 1954. Sem contar o The Platers, grupo de dôo-eoop que entrou nas principais paradas com “The Great Pretender” em dezembro de 1955.”
( Idem p. 15)
quinta-feira, 4 de junho de 2009
CONTOS DE VIRGINIA WOOLF
A HAUTED HOUSE AND OTHER STORIES (Uma casa assombrada e outras histórias), segundo livro de contos de Virginia Woolf (1882-1941), organizado e publicado postumamente pelo seu marido Leonard Woolf, é uma peculiar e sedutora amostra do complexo e revolucionário universo ficcional da ilustre e sensível romancista do ciclo de Bloomsbury.
Pode-se dizer que os contos ocupam um lugar menor em sua vasta obra relacionando-se diretamente com a peculiar dinâmica de seu processo criativo. Pelo menos é o que sugere o prefácio de Leonard a coletânea de 1944:
“ MONDAY OR TUESDAY ( Segunda ou terça feira), o único livro de contos de Virginia Woolf a sair enquanto vivia, foi publicado há 22 anos, em 1921.Permaneceu esgotado durante muitos anos. Ao longo de toda a sua vida, vez por outra Virginia Woolf escreveu contos. Quando lhe ocorria alguma idéia para conto, costumava esboçá-lo em forma bastante rudimentar e depois guardava-o em uma gaveta. Posteriormente, quando acontecia que um editor lhe pedisse um conto, e quando ela se sentia disposta a escrever ( o que não era muito comum), tirava um dos esboços da gaveta e o reescrevia, por vezes exaustivamente. Quando julgava, como amiúde fez, que enquanto escrevia um romance precisava de um período de descanso mental através do trabalho de outro texto, escrevia ensaios críticos ou elaborava os esboços de contos.”
(Leonarde Woolof. Prefácio in Virginia Woolf.Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p.7)
Não deve, portanto, surpreender certo “sentimento de esboço ou inacabamento” que a leitura dos contos de Virginia por vezes nos despertam ao fim da leitura. Lidamos aqui na maioria das vezes realmente com elaborados esboços. Nem por isso deixamos de encontrar neles os temas chaves do complexo universo ficcional da autora: o tempo, o fluxo de imagens, percepções e reflexões subjetivas e uma sensibilidade única para as sutilezas do fazer-se cotidiano da existência.
Um dos contos mais interessantes da coletânea é o intitulado “Um Romance não escrito” onde por capricho do acaso penetramos na intimidade da anônima Minnie Marsh em uma aventura pelas paisagens humanas que nos cercam em silêncio no fluxo da multidão ocultando tramas, impasses e dilemas ordinários cuja substância é a de verdadeiros romances jamais escritos, mas dos quais não nos damos conta de tão mergulhados nos impasses de nossas próprias consciências individuais.
O conto inicia-se com uma cena corriqueira e significativa:
“Uma tal expressão de infelicidade por si só bastava para o nobre rosto da mulher-insignificante sem aquele olhar, com ele quase um símbolo do destino humano. A vida é o que se vê nos olhos das pessoas; a vida é o que elas aprendem e, depois que o aprenderam, jamais, embora procurem escondê-lo, deixarão de estar cientes- de que? De que, parece, a vida é assim. Cinco rostos frente a frente- cinco rostos maduros- e em cada rosto a consciência. Estranho, porém, como desejam dissimulá-la! Há sinais de reticência em todos os rostos: lábios cerrados, olhos sombrios, cada uma das cinco pessoas faz alguma coisa para esconder ou anular a consciência. Uma fuma; outra lê; as terceira verifica notas num livro de bolso; a quarta fita o mapa do trajeto no painel em frente; e a quinta – o mais terrível a respeito da quinta é que não faz absolutamente nada. Ela olha a vida. Ah, mas minha pobre e infeliz mulher, participe do jogo-por nossa causa dissimule!”
(Virginia Woolf. Um Romance não escrito in Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p. 15 )
Pode-se dizer que os contos ocupam um lugar menor em sua vasta obra relacionando-se diretamente com a peculiar dinâmica de seu processo criativo. Pelo menos é o que sugere o prefácio de Leonard a coletânea de 1944:
“ MONDAY OR TUESDAY ( Segunda ou terça feira), o único livro de contos de Virginia Woolf a sair enquanto vivia, foi publicado há 22 anos, em 1921.Permaneceu esgotado durante muitos anos. Ao longo de toda a sua vida, vez por outra Virginia Woolf escreveu contos. Quando lhe ocorria alguma idéia para conto, costumava esboçá-lo em forma bastante rudimentar e depois guardava-o em uma gaveta. Posteriormente, quando acontecia que um editor lhe pedisse um conto, e quando ela se sentia disposta a escrever ( o que não era muito comum), tirava um dos esboços da gaveta e o reescrevia, por vezes exaustivamente. Quando julgava, como amiúde fez, que enquanto escrevia um romance precisava de um período de descanso mental através do trabalho de outro texto, escrevia ensaios críticos ou elaborava os esboços de contos.”
(Leonarde Woolof. Prefácio in Virginia Woolf.Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p.7)
Não deve, portanto, surpreender certo “sentimento de esboço ou inacabamento” que a leitura dos contos de Virginia por vezes nos despertam ao fim da leitura. Lidamos aqui na maioria das vezes realmente com elaborados esboços. Nem por isso deixamos de encontrar neles os temas chaves do complexo universo ficcional da autora: o tempo, o fluxo de imagens, percepções e reflexões subjetivas e uma sensibilidade única para as sutilezas do fazer-se cotidiano da existência.
Um dos contos mais interessantes da coletânea é o intitulado “Um Romance não escrito” onde por capricho do acaso penetramos na intimidade da anônima Minnie Marsh em uma aventura pelas paisagens humanas que nos cercam em silêncio no fluxo da multidão ocultando tramas, impasses e dilemas ordinários cuja substância é a de verdadeiros romances jamais escritos, mas dos quais não nos damos conta de tão mergulhados nos impasses de nossas próprias consciências individuais.
O conto inicia-se com uma cena corriqueira e significativa:
“Uma tal expressão de infelicidade por si só bastava para o nobre rosto da mulher-insignificante sem aquele olhar, com ele quase um símbolo do destino humano. A vida é o que se vê nos olhos das pessoas; a vida é o que elas aprendem e, depois que o aprenderam, jamais, embora procurem escondê-lo, deixarão de estar cientes- de que? De que, parece, a vida é assim. Cinco rostos frente a frente- cinco rostos maduros- e em cada rosto a consciência. Estranho, porém, como desejam dissimulá-la! Há sinais de reticência em todos os rostos: lábios cerrados, olhos sombrios, cada uma das cinco pessoas faz alguma coisa para esconder ou anular a consciência. Uma fuma; outra lê; as terceira verifica notas num livro de bolso; a quarta fita o mapa do trajeto no painel em frente; e a quinta – o mais terrível a respeito da quinta é que não faz absolutamente nada. Ela olha a vida. Ah, mas minha pobre e infeliz mulher, participe do jogo-por nossa causa dissimule!”
(Virginia Woolf. Um Romance não escrito in Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p. 15 )
COTIDIANA UTOPIA
Seduzido
Por um perfume distante
De dia novo
Deixo para trás
Posses perdidas,
Paisagens e dores
Para explorar horizontes virgens.
Dou adeus a antiga casa,
A roupa rota
E aos silêncios da vida.
Mendigo de risos
Acompanho uma esperança
Com a inocência de crianças.
Mas tudo,
Eu sei,
Não é mais que um sonho
Do qual em, segundos
Despertarei.
Por um perfume distante
De dia novo
Deixo para trás
Posses perdidas,
Paisagens e dores
Para explorar horizontes virgens.
Dou adeus a antiga casa,
A roupa rota
E aos silêncios da vida.
Mendigo de risos
Acompanho uma esperança
Com a inocência de crianças.
Mas tudo,
Eu sei,
Não é mais que um sonho
Do qual em, segundos
Despertarei.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
MULTIDÃO
Toda emoção se fez
De repente
Vaga percepção
Das coisas em profusão,
Parcial realização
Do entremecimento da vida
Diante do mundo.
O tempo sustenta a existência
Precariamente.
Quase me vejo em silêncio
Inerte no fluxo da multidão.
Tudo é puro e difuso
Sentimento
Sem objetos, objetivos
Ou futuro...
De repente
Vaga percepção
Das coisas em profusão,
Parcial realização
Do entremecimento da vida
Diante do mundo.
O tempo sustenta a existência
Precariamente.
Quase me vejo em silêncio
Inerte no fluxo da multidão.
Tudo é puro e difuso
Sentimento
Sem objetos, objetivos
Ou futuro...
CRONICA RELÂMPAGO LV
As mudanças e pormenores dos dias passados invadem o momento apagando o presente. Considero todas as possibilidades perdidas em minhas irrefletidas escolhas de ocasião. Percebo que me tornei o incômodo silêncio de apagadas oportunidades somadas.
Assombra-me o fantasma do outro sepultado em meus atos. Mas sei que sou quem deveria ser na virtual paisagem de infinitas alternativas. Sei que me tornei em cada passo de tempo o que de alguma forma sempre fui...
Assombra-me o fantasma do outro sepultado em meus atos. Mas sei que sou quem deveria ser na virtual paisagem de infinitas alternativas. Sei que me tornei em cada passo de tempo o que de alguma forma sempre fui...
terça-feira, 2 de junho de 2009
CRÔNICA RELÂMPAGO LIV
Respiro uma manhã corriqueira sem grandes planos ou projetos de dia. Tudo corre em rotinas, vãs expectativas e incertezas de futuros que talvez jamais existam como o melhor presente possível de mim mesmo.
Apenas me perderei daqui a pouco na paisagem urbana cumprindo ritos banais de existência indiferente a mim mesmo e diluído entre os outros.
Ao fim do dia voltarei ao ponto de partida, mergulharei no privado da existência comum sem perceber em minha face o consolo de um rosto. Surpreenderei em mim apenas minha auto imagem de fantasia a dizer o ínfimo ponto de oceano humano que involuntariamente sou.
Apenas me perderei daqui a pouco na paisagem urbana cumprindo ritos banais de existência indiferente a mim mesmo e diluído entre os outros.
Ao fim do dia voltarei ao ponto de partida, mergulharei no privado da existência comum sem perceber em minha face o consolo de um rosto. Surpreenderei em mim apenas minha auto imagem de fantasia a dizer o ínfimo ponto de oceano humano que involuntariamente sou.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
MINUTE
Vejo vazios
Correndo sob o céu estrelado
No corpo do vento,
Transmutando espaços
Na falsa melancolia
Dos silêncios.
Um deserto rebelado
Percorre o frio da noite
Dentro de mim.
Ofereço ao nada
Palavras de sono
Sondando os sentimentos
Vivos
Da madrugada aberta
In a minute...
Correndo sob o céu estrelado
No corpo do vento,
Transmutando espaços
Na falsa melancolia
Dos silêncios.
Um deserto rebelado
Percorre o frio da noite
Dentro de mim.
Ofereço ao nada
Palavras de sono
Sondando os sentimentos
Vivos
Da madrugada aberta
In a minute...
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