“O progresso da raça humana em compreender o universo estabeleceu uma pequena área de ordem num universo crescentemente desordenado.”
Stephen W. Hawking
Quando li pela primeira vez UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO do já lendário físico de Cambridge Stephen W Hawking, no inicio dos anos 90, tinha um pouco mais de 18 anos e apenas começava a definir meus interesses de estudo e eleger caminhos possíveis de vida e pensamento.
O tema pouco acessível, somado a popularidade do livro, que então já havia se convertido em um dos grandes best sellers de fins dos anos 80 e inicio dos 90, aguçou minha curiosidade. Através dele acabei, então, realizando meu primeiro contato com o denso universo da ciência contemporânea, sua linguagem e imagens vivas de significação de mundo. Posso hoje em retrospecto classificar como decisiva tal experiência em meus anos de formação como indivíduo. Pois esta foi uma das vivencias bibliográficas que alimentaram meu senso critico e radicais questionamentos em um momento de profundo questionamento das seguranças de fé e certezas metafísicas que o senso comum ingenuamente me oferecia.
É bem verdade que o livro em questão era ( e ainda é em grande parte) ilegível para o leigo no assunto que sou, mesmo que, como prudente obra de vulgarização não contenha aquelas cansativas e complicadas formulas matemáticas inerentes ao raciocínio de um físico teórico. Em que pesem meus limites de leigo, entretanto, creio que fiz na ocasião através dessa singular e ainda hoje clássica brochura uma descoberta deveras importante. Descobri o conhecimento humano como um processo, uma construção e desconstrução constante de teorias que confirmam e renovam em cada nova imagem de mundo que criam as potencialidades quase infinitas do intelecto humano. Em contra partida também aprendi que em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo mesmo nos beneficiando na vida diária cada vez mais dos produtos do avanço do desenvolvimento técnico-científico.
O fato é que ainda hoje a idéia de um universo em expansão, a teoria dos buracos negros, a teoria da corda e a utopia de uma teoria unificada me fascinam como testemunho do esforço humano de traduzir o universo em linguagem e superar seus mais arraigados limites.
Uma das grandes questões especulativas do livro de Hawking é justamente a busca de uma teoria unificada cuja implicações ele assim esclarece:
“ O que significaria se atualmente se descobrisse a teoria definitiva do universo? Como foi explicado no Capitulo 1, jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas. Mas se fosse matematicamente consistente e sempre fornecesse previsões que concordassem com observações, poder-se-ia ter razoável certeza de que seria a teoria correta. Colocaria um final no longo e glorioso capítulo da luta intelectual da história da humanidade para entender o universo. Mas também revolucionaria a compreensão comum que se tem das leis que governam o universo. No tempo de Newton era possível para uma pessoa culta abarcar todo o conhecimento humano, pelo menos em linhas gerais. Mas desde então, o ritmo do desenvolvimento da ciência tornou esse saber impossível. Dado que as teorias estão sempre sendo mudadas para dar conta de novas observações, não são nunca adequadamente digeridas ou simplificadas para que os leigos possam compreende-las. É necessário ser especialista, e mesmo assim pode-se esperar dominar apenas uma pequena proporção das teorias científicas. Além disso, a razão do progresso é tão acelerada que o que se aprende nas escolas e universidades já é sempre um pouco ultrapassado. Poucas pessoas podem fazer face às fronteiras do conhecimento que avançam rapidamente e é necessário devoção integral e se especializar numa pequena área. O restante da população tem apenas uma vaga idéia dos avanços que estão sendo feitos ou da excitação que eles estão gerando. Setenta anos atrás, acreditando-se em Eddington, apenas duas pessoas compreendiam a tória geral da relatividade. Atualmente cada dez em cem universitários graduados o fazem, e muitos milhões de pessoas tem pelo menos alguma familiaridade com a idéia. Se uma teoria completa unificada fosse descoberta, seria apenas uma questão de tempo até que ela fosse digerida e simplificada da mesma forma e ensinada nas escolas, pelo menos em linhas gerais. Seriamos então todos capazes de ter alguma compreensão das leis que governam o universo sendo responsáveis por nossa existência.”
( Stephen W. Hawking. Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros/ tradução de Maria Helena Torres. RJ: Rocco, 19° ed, 1989, p. 229-230 )
Stephen W. Hawking
Quando li pela primeira vez UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO do já lendário físico de Cambridge Stephen W Hawking, no inicio dos anos 90, tinha um pouco mais de 18 anos e apenas começava a definir meus interesses de estudo e eleger caminhos possíveis de vida e pensamento.
O tema pouco acessível, somado a popularidade do livro, que então já havia se convertido em um dos grandes best sellers de fins dos anos 80 e inicio dos 90, aguçou minha curiosidade. Através dele acabei, então, realizando meu primeiro contato com o denso universo da ciência contemporânea, sua linguagem e imagens vivas de significação de mundo. Posso hoje em retrospecto classificar como decisiva tal experiência em meus anos de formação como indivíduo. Pois esta foi uma das vivencias bibliográficas que alimentaram meu senso critico e radicais questionamentos em um momento de profundo questionamento das seguranças de fé e certezas metafísicas que o senso comum ingenuamente me oferecia.
É bem verdade que o livro em questão era ( e ainda é em grande parte) ilegível para o leigo no assunto que sou, mesmo que, como prudente obra de vulgarização não contenha aquelas cansativas e complicadas formulas matemáticas inerentes ao raciocínio de um físico teórico. Em que pesem meus limites de leigo, entretanto, creio que fiz na ocasião através dessa singular e ainda hoje clássica brochura uma descoberta deveras importante. Descobri o conhecimento humano como um processo, uma construção e desconstrução constante de teorias que confirmam e renovam em cada nova imagem de mundo que criam as potencialidades quase infinitas do intelecto humano. Em contra partida também aprendi que em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo mesmo nos beneficiando na vida diária cada vez mais dos produtos do avanço do desenvolvimento técnico-científico.
O fato é que ainda hoje a idéia de um universo em expansão, a teoria dos buracos negros, a teoria da corda e a utopia de uma teoria unificada me fascinam como testemunho do esforço humano de traduzir o universo em linguagem e superar seus mais arraigados limites.
Uma das grandes questões especulativas do livro de Hawking é justamente a busca de uma teoria unificada cuja implicações ele assim esclarece:
“ O que significaria se atualmente se descobrisse a teoria definitiva do universo? Como foi explicado no Capitulo 1, jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas. Mas se fosse matematicamente consistente e sempre fornecesse previsões que concordassem com observações, poder-se-ia ter razoável certeza de que seria a teoria correta. Colocaria um final no longo e glorioso capítulo da luta intelectual da história da humanidade para entender o universo. Mas também revolucionaria a compreensão comum que se tem das leis que governam o universo. No tempo de Newton era possível para uma pessoa culta abarcar todo o conhecimento humano, pelo menos em linhas gerais. Mas desde então, o ritmo do desenvolvimento da ciência tornou esse saber impossível. Dado que as teorias estão sempre sendo mudadas para dar conta de novas observações, não são nunca adequadamente digeridas ou simplificadas para que os leigos possam compreende-las. É necessário ser especialista, e mesmo assim pode-se esperar dominar apenas uma pequena proporção das teorias científicas. Além disso, a razão do progresso é tão acelerada que o que se aprende nas escolas e universidades já é sempre um pouco ultrapassado. Poucas pessoas podem fazer face às fronteiras do conhecimento que avançam rapidamente e é necessário devoção integral e se especializar numa pequena área. O restante da população tem apenas uma vaga idéia dos avanços que estão sendo feitos ou da excitação que eles estão gerando. Setenta anos atrás, acreditando-se em Eddington, apenas duas pessoas compreendiam a tória geral da relatividade. Atualmente cada dez em cem universitários graduados o fazem, e muitos milhões de pessoas tem pelo menos alguma familiaridade com a idéia. Se uma teoria completa unificada fosse descoberta, seria apenas uma questão de tempo até que ela fosse digerida e simplificada da mesma forma e ensinada nas escolas, pelo menos em linhas gerais. Seriamos então todos capazes de ter alguma compreensão das leis que governam o universo sendo responsáveis por nossa existência.”
( Stephen W. Hawking. Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros/ tradução de Maria Helena Torres. RJ: Rocco, 19° ed, 1989, p. 229-230 )
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