quinta-feira, 4 de junho de 2009

CONTOS DE VIRGINIA WOOLF


A HAUTED HOUSE AND OTHER STORIES (Uma casa assombrada e outras histórias), segundo livro de contos de Virginia Woolf (1882-1941), organizado e publicado postumamente pelo seu marido Leonard Woolf, é uma peculiar e sedutora amostra do complexo e revolucionário universo ficcional da ilustre e sensível romancista do ciclo de Bloomsbury.
Pode-se dizer que os contos ocupam um lugar menor em sua vasta obra relacionando-se diretamente com a peculiar dinâmica de seu processo criativo. Pelo menos é o que sugere o prefácio de Leonard a coletânea de 1944:

“ MONDAY OR TUESDAY ( Segunda ou terça feira), o único livro de contos de Virginia Woolf a sair enquanto vivia, foi publicado há 22 anos, em 1921.Permaneceu esgotado durante muitos anos. Ao longo de toda a sua vida, vez por outra Virginia Woolf escreveu contos. Quando lhe ocorria alguma idéia para conto, costumava esboçá-lo em forma bastante rudimentar e depois guardava-o em uma gaveta. Posteriormente, quando acontecia que um editor lhe pedisse um conto, e quando ela se sentia disposta a escrever ( o que não era muito comum), tirava um dos esboços da gaveta e o reescrevia, por vezes exaustivamente. Quando julgava, como amiúde fez, que enquanto escrevia um romance precisava de um período de descanso mental através do trabalho de outro texto, escrevia ensaios críticos ou elaborava os esboços de contos.”

(Leonarde Woolof. Prefácio in Virginia Woolf.Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p.7)

Não deve, portanto, surpreender certo “sentimento de esboço ou inacabamento” que a leitura dos contos de Virginia por vezes nos despertam ao fim da leitura. Lidamos aqui na maioria das vezes realmente com elaborados esboços. Nem por isso deixamos de encontrar neles os temas chaves do complexo universo ficcional da autora: o tempo, o fluxo de imagens, percepções e reflexões subjetivas e uma sensibilidade única para as sutilezas do fazer-se cotidiano da existência.

Um dos contos mais interessantes da coletânea é o intitulado “Um Romance não escrito” onde por capricho do acaso penetramos na intimidade da anônima Minnie Marsh em uma aventura pelas paisagens humanas que nos cercam em silêncio no fluxo da multidão ocultando tramas, impasses e dilemas ordinários cuja substância é a de verdadeiros romances jamais escritos, mas dos quais não nos damos conta de tão mergulhados nos impasses de nossas próprias consciências individuais.
O conto inicia-se com uma cena corriqueira e significativa:

“Uma tal expressão de infelicidade por si só bastava para o nobre rosto da mulher-insignificante sem aquele olhar, com ele quase um símbolo do destino humano. A vida é o que se vê nos olhos das pessoas; a vida é o que elas aprendem e, depois que o aprenderam, jamais, embora procurem escondê-lo, deixarão de estar cientes- de que? De que, parece, a vida é assim. Cinco rostos frente a frente- cinco rostos maduros- e em cada rosto a consciência. Estranho, porém, como desejam dissimulá-la! Há sinais de reticência em todos os rostos: lábios cerrados, olhos sombrios, cada uma das cinco pessoas faz alguma coisa para esconder ou anular a consciência. Uma fuma; outra lê; as terceira verifica notas num livro de bolso; a quarta fita o mapa do trajeto no painel em frente; e a quinta – o mais terrível a respeito da quinta é que não faz absolutamente nada. Ela olha a vida. Ah, mas minha pobre e infeliz mulher, participe do jogo-por nossa causa dissimule!”

(Virginia Woolf. Um Romance não escrito in Uma casa Assombrada/tradução de Jose Antônio Arantes. RJ: Nova Fronteira, 1984, p. 15 )

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