terça-feira, 29 de novembro de 2016

LIBERDADE

A  liberdade é mais do que uma palavra.
É um claro caminho contra o tipo de  vida
Que nos é socialmente  imposta,
Contra as verdades dogmáticas, fé, certezas absolutas
E convicções vazias.
Ser livre é ser nômade,
Finito, quase impossível
E urgente.

A liberdade não é  social;
È essencialmente pessoal
E intrasferível.
Não pode ser ensinada.
Apenas conquistada por mentes inquietas
Que não se contentam
Com qualquer resposta.

A liberdade é um grito,
Um desespero e um desafio,
Quase um canto de morte
Ou um encontro com a insanidade.

A liberdade é o riso
Dos que aprendem a voar sem asas.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

SOBRE A TOLERÂNCIA

Tolerância é, em um contexto dialógico, escutar, responder e escutar de novo  sem apresentar conclusões. Afinal, nenhum parecer sobre a realidade é definitivo, assim como qualquer ponto de vista. A convicção de hoje pode ser o equivoco de amanhã. Por isso, infeliz daquele que só se sente a vontade entre os que pensam igual. Pois mesmo entre os seus pares não evitará divergências.



PÓS HISTÓRIA

Um grito ambivalente e plural
Nos trará novidades
Contra o passado que ainda nos aguarda
Na porta da frente.
É essencial desaprender o ontem
Para antecipar o futuro,
Ter varias opiniões e certeza alguma.
Atualmente, toda conclusão é precipitada,
Diante de acontecimentos cada vez mais aleatórios.


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O QUE É SIGNIFICADO?

O significado não é apenas o conteúdo como conceito, nem a afetividade cognitiva de uma imagem que se apresenta como a objetividade do significado na construção de qualquer narrativa.

O significado não se reduz a teleologia da racionalidade pragmática da comunicação.

 O significado é o veiculo do devir da consciência, é plural em suas formas de acontecer como experiência linguística e existencial. Nenhum logocentrismo racionalista dá conta disso.

O significado não se esgota na significação mental de um objeto, na sua compreensão. Ele vai além do domínio da representação.

O significado se estabelece em uma teia de significados, não significa isolado.

O significado é diferente de sentido.

O significado é ao mesmo tempo gramatica  e experiência indireta.

O significado é o próprio exercício de dizer
O significado é a indeterminação de quem diz e a autonomia do dizer como ato dialógico. Ele é por isso sempre impessoal.


O PARADOXO DA CONSCIÊNCIA

A dor multiplicada e interiorizada do acontecer de nossa consciência é definida pela inalienável incerteza de nos mesmos. Somos seres inconstantes, escravos do abstrato dos pensamentos, este bizarro artifício humano através do qual inventamos um mundo que somos mais o qual pouco compreendemos. Estar consciente é estar consciente de alguma coisa que se apresenta como representação de algo exterior a própria consciência. O que é o mesmo que dizer que não existe uma dimensão que pudéssemos definir como interioridade. O eu da consciência é um não lugar psicológico, um modo de estar fora de si  por dentro de si mesmo. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

SOBRE O PENSAMENTO

Um dos falsos dilemas da filosofia ocidental é aquele que desde Platão estabelece a desconfiança dos sentidos e aposta nas ideias ou no pensamento abstrato como matriz de nossas certezas e principio de realidade. Trata-se, de um modo mais amplo de uma recusa do corpo, do fisiológico, e idealização de nossa condição humana através de uma valorização desmedida da cultura como promotora da nossa espécie e do “espirito” como algo distinto do “físico”.

A premissa de que a realidade objetiva possui um sentido inato a ser desvelado, sustentou durante muito tempo o mito do conhecimento como culto a Verdade, como correspondência entre as palavras e as coisas.

A razão sempre gozou de um aspecto quase divino no ocidente que apenas se secularizou com o Iluminismo. Racionalismo e Metafisica sempre constituíram um casal feliz e que, de muitas formas, ainda celebram suas núpcias sempre que invocamos a superioridade do conhecimento objetivo sem considerar nossos filtros subjetivos e formatação da realidade. Cada um cria a realidade que observa e não há teoria que não invente seu próprio objeto.

No que diz respeito à arte de pensar, ao modo como o pensamento acontece em nós, devemos considera-lo como um fenômeno físico químico, como uma atividade propiciada pela experiência de nosso próprio corpo, estando, portanto, também associado ao seu metabolismo.  Mas só podemos dizer o que é o pensar através do próprio pensamento. Não existe um ponto externo que nos permita considera-lo de modo isento de seus próprios critérios.

O que aqui se coloca é um questionamento da própria racionalidade. Não seria ela tão somente apenas um artificio humano através do qual impomos sentidos e significados a fenômenos que simplesmente são indiferentes aos nossos s critérios e formas de codificação e formatação da realidade? Caso desconsiderássemos a racionalidade tão somente uma pueril  brincadeira humana para tornar nossa experiência  do real viável, não tento qualquer valor objetivo fora das convenções humanas, talvez estivéssemos mais próximos dos fatos. Os frutos do nosso pensamento, assim, não seriam muito diferentes ou mais convincentes do que os delírios de um doente mental.


O fato é que o pensar também é a expressão de uma vontade, a realização de uma compulsão que se tornou cada vez mais elaborada e refinada ao longo dos séculos e se desenvolveu a partir não de uma adaptação ao ambiente, mas de sua recusa e transformação através das realizações culturais. Assim, o pensamento serve antes de tudo ao prazer, a irracional compulsão humana para domesticar a realidade.

A ARTE DA CITAÇÃO E O AVESSO DA TRADIÇÃO

O empaledecimento do original é uma pré condição da paródia, da repetição, enquanto estratégia de criação. Não somos originais. Sofremos o peso de nossas heranças e lhe somos fieis na exata medida em que buscamos supera-las e inventar o inédito através de sua replicação. A cópia nunca é fiel ao original. Citar é traduzir, inventar versões.


Mesmo em nosso conservadorismo sofremos o imperativo do devir. Assim, o original é sempre uma referencia virtual constantemente atualizada pela contemporaneidade de nossa interpretação.  Os contextos em que determinada obra  ou referencia de cultura é produzida reduz seu sentido ao instante de sua origem. 

domingo, 20 de novembro de 2016

A ARTE DA BOA CONVERSA

Em toda boa conversação é necessário reservar uma cota de voluntárias omissões. É tamanho o desacordo entre os seres humanos que o melhor é não ser demasiadamente franco quanto as próprias opiniões.

Nunca diga tudo o que pensa e nunca escute tudo que lhe dizem. Ninguém nunca esta disposto a escutar aquilo que não lhe cabe nos ouvidos. O comércio entre os indivíduos  não passa de um grande teatro cujo objetivo não é o entendimento mutuo, mas a troca superficial de frases convencionais no mais egoísta entretenimento.

HUIZINGA, MAFFESOLI E O LÚDICO DO COTIDIANO


Herdeiro intelectual de Gilbert Durant, Michel Maffesoli é um sociologo que incorpora a sua reflexão sobre a sociedade o não lógico e o não racional como componente essencial de nossa condição humana e da construção da sociabilidade. Sua obra A CONQUISTA DO PRESENTE é por isso um contundente questionamento de nossos lugares comuns, pois propõe, através de uma reflexão arguta sobre o nosso mais imediato cotidiano, algum tipo de "reencantamento do mundo".

Para Maffesoli, dialogando diretamente com Huizinga e seu HOMO LUDENS, a astúcia  estrutural e corriqueira do jogo social é ritualísta e imagética em sua polifonia lúdica  no além do olhar totalizante do cientificismo da sociologia convencional.  A estruturação da vida cotidiana, o  aqui e agora, é estruturado pelo imaginal em suas várias mascaras e matrizes ontológicas. Desde o vestuário, do gestual até as formas mais complexas do acontecer social.

Trata-se sempre de um jogo. Nas palavras do autor,

"É fácil reconhecer a importância  do jogo na estruturação do social, mesmo que, desta forma se despreze o seu impácto nas ocupações 'serias' (produção, politica), aceitando-o, mais facilmente, sob a noçãop de competição. Assim, seja em seu aspecto agonal, seja sob a forma do desafio ou ainda do mimetismo, seja na teatralização da vida pública (politica, consumo, espetáculo), o jogo é elemento fundamental de toda  sociedade. De fato, mais do que falar de jogo, seria melhor dizer, 'em jogo'. A vida é um jogo, a vida está em jogo. Essa é a relação com o destino, é o que liga estreitamente  a seriedade ao riso."
 (Michel Maffesoli. A Conquista  do presente. RJ: Rocco, 1984, p.160)

Nossa aventura existencial é uma negociação constante  com a alteridade do social que definem os jogos de sociedade entre a regra e o lúdico através da dialética da criação e da repetição. A teatralidade do cotidiano funda a ritualistica da vida comum, nos mantem coesos, apesar da constante iminência do caos.
Nesta parte é interessante remeter ao HOMO LUDENS de Huizinga,

"Sempre que nos sentimos presos de vertigem, perante a secular interrogação sobre a diferença entre o que é sério e o que é jogo, mais uma vez encontraremos no domínio da ética o ponto de apoio que a lógica é incapaz de oferecer-nos. Conforme dissemos desde o inicio, o jogo está fora  desse domínio da moral, não é em si mesmo nem bom nem mau. Mas sempre que tivemos que decidir se qualquer ação a que somos levados por nossa vontade é um dever que nos é exigido ou é licito como jogo, nossa consciência moral prontamente nos dará a resposta. Sempre que nossa decisão de agir depende da verdade ou da justiça, da compaixão ou dá consciência, o problema deixa de ter sentido."
(Johan Huizinga. Homo Ludens: O Jogo  como elemento da Cultuira. SP: Perspectiva, 2012-7ºEd., p. 236)

O fato é que não somos tão racionais como a ingenuidade do culto a razão  herdada do séc. XVIII supôs. A designação de nossa espécie como Homo Sapiens é no minimo equivocada e seria mais adequada a nossa qualificação como Homo Ludens. Em todas as nossas decisões cotidianas oscilamos entre o arquetípico e estereótipo . O jogo é a repetição factual em uma ordem absoluta que nos conduz a permanência constante do insignificante. Mas quando com a dimensão ética, o lúdico nos inspira o simplesmente viver, o mergulho na alteridade e na pluralidade instantânea que nos afasta do caos que nos espreita.


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AFORISMOS SOBRE A ARTE DA LEITURA

Um bom leitor jamais se torna um cúmplice de seu autor preferido.

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Um bom livro é aquele que supera seu autor e a intencionalidade que tenta domestica-lo.
Todo bom livro é selvagem...

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Nenhum livro deve ser lido ao pé da letra.

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Toda leitura é um dialogo solitário...

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O agramatical, o desvio imagético é o que torna uma narrativa interessante.

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Autor e leitor se confrontam na aventura de um bom texto. Pois o texto escrito nunca coincide com o texto lido.

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Saber ler e escrever não faz de ninguém um bom leitor.

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Ler é também um ato criativo.

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Um bom livro precisa ser relido periodicamente...
Há muitas camadas em uma boa narrativa.

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A experiencia de qualquer enunciado é essencialmente interpretativa.