Eu me escondo no silêncio
que cresce enquanto lhe falo
e desaparece quando me calo.
Ele é feito de tudo que ignoro,
daquilo que me escapa
nas coisas que acredito,
no tolo cultivo de pequenas certezas
que doméstica o desconhecido.
Sei que dentro dos meus pensamentos
crescem desertos até o infinito
da morte,
misturando convicções e desconhecimentos
na abstrata geografia dos enunciados e descrenças.
Nada do que fui ou serei persiste no devir do mundo.
Não há futuro para quem fui ou no que acreditei e disse.
Existir, afinal, é incerto e impreciso
na ilusão da vida.
Não habitamos mais em nossos enunciados.
Por isso estamos sempre nos escondendo no silêncio
contra o vazio de todos os discursos.