O mundo é o plano
dentro do qual existo
como corpo inscrito
nas palavras, nos atos
e estatísticas.
O olhar do outro
inventa meu rosto.
Mas quase não me enxerga.
Pois o outro é mundo
como eu sou o outro.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
O mundo é o plano
dentro do qual existo
como corpo inscrito
nas palavras, nos atos
e estatísticas.
O olhar do outro
inventa meu rosto.
Mas quase não me enxerga.
Pois o outro é mundo
como eu sou o outro.
De modo que, ao apontar para o século VII ou o século V antes da nossa era O indicador histórico de uma pretensa origem da filosofia, nós nos exportamos simplesmente ao ridículo de que sofre todo geneticismo. O geneticismo crê poder explicar o filho pelo pai, o ulterior pelo anterior; mas esquece, não sem futilidade, que se é verdade que o filho é resultado do seu pai- visto que não existe filho sem pai- a paternidade do pai decorre da existência do filho e que não existe pai se não houver filho Toda genealogia exige ser ser lida ao inverso ( é dessa maneira que acabamos nos dando conta de que a criatura é o autor de seu autor, que o homem fabricou Papai do Céu, tanto quanto o inverso).A origem da filosofia é hoje"
Jean François Lyotard in Por que Filosofia?
A consciência cria a verdade
como expressão da vontade,
de uma certeza de mundo
que não cabe na vida,
mas apenas na imaginação humana.
No comercio das palavras e dos gestos.
criamos verdades que nos inventam
escravos da ilusão das convicções e vontadesque tornam possível a vida.
“Tempo disso, tempo daquilo,
falta o tempo de nada!”
Carlos Drummond de Andrade
Com a segunda revolução industrial europeia do seculo XIX, sociedades como a da alemanha, Inglaterra e França, tornaram-se definitivamente urbanizadas e formatadas pelo tempo das fábricas ou do relógio mecânico. As relações sociais no Ocidente, desde então, passaram a ser reguladas pelos artifícios tecnológicos, tanto no âmbito publico quanto privado do viver coletivo.
O relógio mecânico, neste contexto, tornou-se um poderoso dispositivo de controle e normalização da vida, algo sem paralelos na história das sociedades humanas. O tempo antropologizado encarna o dia de 24 horas regrado pelas atividades produtivas e comerciais .O tempo do relógio é o tempo do trabalho, da alimentação e do descanso, como ethos formatador de novos saberes e relações de assujeitamento e poder biopolitico no controle da população e dos corpos nos recém estabelecidos territórios nacionais.
Mas o tempo do relógio e da domesticação através das horas é também o tempo do cansaço e do esgotamento universal. Afinal, contra o tempo do relógio, o corpo, como todo organismo vivo, possui um ciclo circadiano ( processo biológico de 24 horas que dita o rítmo de nossa existência biológica.). Toda forma de vida dependente da luz solar possui algum tipo de ciclo circadiano que lhe permite aproveitar o máximo a luz e a escuridão. É isso que popularmente é chamado de relógio biológico, no caso humano, localizado no hipotálamo. Mas todas as células do nosso corpo e órgãos corporais possuem seu próprio relógio biológico que são sincronizados pelo relógio principal localizado no cérebro. A falta de sintonia entre eles imposta racionalidade disciplinar do tempo do relógio nos adoece.
Em outras palavras, contra todas as ilusões de nosso cotidiano pós industrial, não é o tempo social do relógio que regula nossas vidas, mas o tempo natural definido pelo movimento da terra em torno de si e do sol.
O controle do tempo é um modo de se apropriar do espaço. O binário tempo/ espaço é, portanto, uma premissa do uso do relógio (ou horológios), enquanto dispositivos naturais de medida de um dado intervalo cronológico, menor do que uma noite ou um dia, para disciplinar a realização de alguma atividade prática.
É razoável supor que na antiguidade ou em períodos mais arcaicos da vida humana, o espaço de um dia ou de uma noite era mais do que o suficiente para se orientar no mundo. A necessidade de dividir os dias e as noites, ir além da orientação pelo movimento do sol e da lua, representou a construção disso que aqui chamamos de “tempo menor”, que é o tempo das horas, dos meses e dos anos. Ou seja, um tempo socialmente condicionado, derivado da manipulação humana.
Calendários e relógios são dispositivos independentes e complementares. A divisão dos dias em 24 horas surgiu por volta de 5.000 a.C. na Babilônia tendo por referência a noção de meio dia, ou seja , o momento do dia em que, a estrela a pino no céu, não projeta sombra. O relógio do Sol baseava-se justamente na trajetória da sombra ao longo do dia. Pode-se dizer que toda medida ou controle do tempo é uma experiência espacial, como os relógios naturais expressam em seus usos.
Também se pode dizer que o tempo medido pelo relógio (ou horológios) é um “tempo menor” ( antropológico) dentro do ‘tempo maior” (natural) da longa duração dos anos e das épocas. Antes dos primeiros relógios ou horológios naturais (clepicida, ou relógio d’agua, e ampulheta, ou relógio de areia) , as estrelas e constelações serviam para medir o tempo das estações e dos ciclos da natureza. Dai, pode-se deduzir que o céu foi sempre o espelho do tempo. Desta forma, ao contrário , do que sugere o senso comum, tempo é extensão, movimento. Ele é expressão de uma relação com o espaço e não um fluir abstrato, impreciso e imaterial.
Embora no ocidente o Papa Silvestre II ( 905-1003) seja considerado por alguns o inventor do relógio mecâncio, há registros que contradizem tal hipótese. No caso do ocidente o relógio mecânico muito provavelmente originou-se entre as ordens religiosas para regular a rotina de orações e de culto. Eram máquinas movidas por pesos que tocavam periodicamente uma campainha. Assim surgiram os seguintes intervalos cronológicos para normalizar o tempo:
a “Hora Prima” (nascer do sol / 3 badaladas; 3) a “Hora Tertia” (meio da manhã / 2 badaladas); 4) a “Hora Sexta” ou “Meridies” (meio dia / 1 badalada); 5) a “Hora Nona” (meio da tarde / 2 badaladas); 6) as “Vésperas” (por do sol / 3 badaladas) e 7) as “Completas” (anoitecer / 4 badaladas)
Até onde se sabe, o primeiro relógio mecânico teria sido fabricado em 1386 por Henry de Vicky sob encomenda do rei da França. Entretanto, ele foi instalado na Catedral de Salisbury, na Inglaterra.
Após descobrir o isocronismo dos pêndulos, em torno de 1600, Galileu adaptou o pêndulo ao funcionamento dos relógios mecânicos, contribuindo, assim, para aumentar sua precisão.
Seja como for, a invenção do relógio mecânico só impactaria sobre o modo como lidamos e controlamos o tempo depois das revoluções industriais e do maquinismo moderno. Mas a invenção do relógio mecânico, talvez no século XIII, iniciou uma significativa mudança nos métodos de medição de tempo, ao criar uma dinâmica baseada na repetição de processos oscilatórios, como o balanço de um pêndulo. Um relógio passa a ser, a partir de então, um conjunto de peças que operam juntas para realização de determinada tarefa. No caso, dividir o tempo, antropomorfiza-lo.
Na mitologia grega Cronos era a palavra atribuída ao tempo físico, linear e cronológico que consome todas as coisas. Mais novo entre os titãs, Chronos Era filho caçula de Gaia (terra) e de Urano (céu). Kairos, por sua vez, representa na mitologia grega um tempo que escapa ao de Cronos. Ele é o deus do tempo oportuno, do momento certo. Filho menor de Zeus e da deusa Oportunidade (Tyche). O tempo normalizado pelo relógio não é, evidentemente, nem o tempo de Cronos ou o de Kairos. Mas o tempo dos homens, que se faz sob o signo da finitude. Numa interpretação bastante pessoal, diria que existe, ainda, o tempo dos mortos, que é o tempo da memória ou da História. O “tempo menor” do relógio é o tempo do cotidiano, da sociedade e da atualização constante do tempo presente.
Minha identidade é não estar preso a qualquer definição,
é não ser no rosto,
no provisório dos enunciados
e, muito menos, nas volúveis vontades inúteis
que me rasgam o peito em segredo.
Minha identidade é recusar rótulos,
tribos e princípios.
Não me conheço o suficiente
para dizer a mim mesmo
Em toda minha multiplicidade.