terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O RELÓGIO E A ANTROPOLOGIZAÇÃO DO TEMPO II

 

Tempo disso, tempo daquilo,

falta o tempo de nada!”

Carlos Drummond de Andrade


Com a segunda revolução industrial europeia do seculo XIX, sociedades como a da alemanha, Inglaterra e França, tornaram-se definitivamente urbanizadas e formatadas pelo tempo das fábricas ou do relógio mecânico. As relações sociais no Ocidente, desde então, passaram a ser reguladas pelos artifícios tecnológicos, tanto no âmbito publico quanto privado do viver coletivo.

O relógio mecânico, neste contexto, tornou-se um poderoso dispositivo de controle e normalização da vida, algo sem paralelos na história das sociedades humanas. O tempo antropologizado encarna o dia de 24 horas regrado pelas atividades produtivas e comerciais .O tempo do relógio é o tempo do trabalho, da alimentação e do descanso, como ethos formatador de novos saberes e relações de assujeitamento e poder biopolitico no controle da população e dos corpos nos recém estabelecidos territórios nacionais.

Mas o tempo do relógio e da domesticação através das horas é também o tempo do cansaço e do esgotamento universal. Afinal, contra o tempo do relógio, o corpo, como todo organismo vivo, possui um ciclo circadiano ( processo biológico de 24 horas que dita o rítmo de nossa existência biológica.). Toda forma de vida dependente da luz solar possui algum tipo de ciclo circadiano que lhe permite aproveitar o máximo a luz e a escuridão. É isso que popularmente é chamado de relógio biológico, no caso humano, localizado no hipotálamo. Mas todas as células do nosso corpo e órgãos corporais possuem seu próprio relógio biológico que são sincronizados pelo relógio principal localizado no cérebro. A falta de sintonia entre eles imposta racionalidade disciplinar do tempo do relógio nos adoece.

Em outras palavras, contra todas as ilusões de nosso cotidiano pós industrial, não é o tempo social do relógio que regula nossas vidas, mas o tempo natural definido pelo movimento da terra em torno de si e do sol.



Nenhum comentário: