Mas o que somos nós no além de tudo aquilo que nos parece real? A vida, afinal, não tem o pensamento como objetivo. Ele não passa de uma de suas secundárias consequências, como a consciência não é mais do que um efeito do agir do corpo, de suas ambiências.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
domingo, 19 de abril de 2020
CORPO E PENSAMENTO
O pensamento é uma forma de ação, uma situação física, na materialidade da imaginação que nos define o mundo como imagem e semelhança de um eu abstrato e irreal.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
DISCURSO E NARRATIVA
Normalmente, é preciso falar em demasia até que algo seja efetivamente dito. É comum que uma única frase defina para um um ouvinte todo conteúdo de um longo discurso. Não como sua síntese, mas como o que realmente é relevante. É como um riff de guitarra dentro de uma performance musical ou como o reconhecimento de uma epígrafe. Em qualquer narrativa retemos apenas o que nos interessa, o que de algum modo nos afeta em particular. Em contra partida, todo narrador leva algum tempo para ser penetrado pelo andamento do seu próprio discurso, para perceber como ele se encadeia , se articula, e estabelece seu próprio ritmo e sentido, disperso em velocidades e intensidades diversas, que o transformam em narrativa.
As palavras possuem uma respiração e pulsação secreta. Nós apenas a descobrimos através do exercício de uma narrativa, seja na condição de autor ou de ouvinte de um discurso . Ambos são momentos do próprio discurso, do seu modo de composição e expressão, que nunca é linear, mas labiríntico, descontínuo. Sempre há várias narrativas dentro de um único discurso cuja unidade é apenas aparente. Além disso, o fundamento de um discurso é sempre o próprio discurso. Nunca uma exterioridade objetiva . Nenhuma narrativa é descritiva, abstrata. Mas como um corpo que dança e faz dançar um discurso. A narrativa é o movimento do dizer, o discurso sua forma. Ambos se alternam e confundem o tempo todo. Mesmo que qualquer manual acadêmico diga coisa totalmente diversa sobre o assunto.
segunda-feira, 13 de abril de 2020
QUASE FIM DO MUNDO
Era só mais uma tarde
De sol e preguiça
Em um dia banal
De coisas perdidas.
Era só a vida
Brincando no tempo
Indiferente a nossa existência suja
E tão poluída.
Era só a beleza
De um quase fim do mundo,
No meio de tudo,
Entre causas perdidas.
sexta-feira, 10 de abril de 2020
PALAVRAS ANTIGAS
Palavras anônimas ecoam no vento.
São palavras que nasceram com os mortos
E jamais foram escritas.
Pois foram feitas para bocas & danças.
Elas pertencem ao dizer pequeno e cotidiano
De um existir criança
Que por nós foi extinto.
Habitam as letras de velhas canções de roda,
Mas já não sabemos dança-las,
Ouvi-las com os pés descalços.
Por isso deixamos que sigam com o vento.
Serão para sempre palavras perdidas,
No deserto de nossas vidas.
quarta-feira, 8 de abril de 2020
OS PERIGOS DA REALIDADE
A realidade escapa aos discursos, as narrativas que circulam e conformam consciências.
Ela se confunde com o silêncio que dorme no fundo de tudo que é dito ou escrito contra o caos e a loucura.
A realidade é aquilo que nos confunde, que tenciona, perturba, e permanece selvagem e a margem da civilização que desenha nossos hábitos.
A realidade é o inominável que transborda toda confissão de um mundo verdade.
terça-feira, 7 de abril de 2020
POEMA PÓS EXISTENCIALISTA
Sei que não posso fugir as metamorfoses e vertigens do instante,
Ao falso problema de ser eu,
De quase saber o outro,
Frente ao incompreensível do mundo.
Sou simplesmente ninguém dentro da metafísica de cada palavra dita ou escrita
Entre o ser e o não ser.
Sei que não posso escapar a angústia de um grito que me faz sorrir,
Ao virtual de um estrangeiro existir que me quer fazer explodir a alma do corpo,
Me fazer escapar dos limites do rosto e dos pensamentos.
Só sei que há uma grande saúde fora de mim,
Dentro de nós e suja de terra
Nos precipícios do mais banal da imanência,
A margem de todo contrato social
Do outro lado de nossa brutal existência.
ENTRE OS OLHOS E DENTRO DA CABEÇA
Tenho futuros e sonhos dentro da cabeça
Contra o tempo dos olhos,
que adivinha na paisagem aberta
A eternidade de um fugaz momento.
Tudo que é provisoriamente eterno passa entre os olhos
Contra o absoluto futuro dentro da minha cabeça.
A vida marca o meu corpo com um desenho de morte
Entre as eternidades dos olhos e da minha cabeça
domingo, 5 de abril de 2020
A JANELA
A janela reinventa a parede.
Sabe que algo aqui dentro
Está lá fora,
Que o mundo segue em movimento
Na imaginação dos olhos.
DEVIR & INFINITO
Abomino o cotidiano,
A banalidade de nossas rotinas,
A lei e a ordem da mesmice
Que funda a moral, Estados e tradições.
Gosto do extraordinário,
Do incerto de cada dia,
Do medo e do inédito
Que debocha de todo conformismo.
Amo o improviso,
O aleatório da invenção do artista,
Nossa impermanência e vertigem.
Nossa diária morte secreta
Que sempre de novo
Transforma a vida.
Sou no devir que me arrasta,
A imanência
Que me consome e ensina,
A maravilha do infinito em movimento,
Que reduz o absurdo do universo
Ao ilegível intenso da poesia.
sábado, 4 de abril de 2020
CEMITÉRIO DOS VIVOS
Tenho existido indecente,
Inconsequente,
Na cela biográfica
Deste nosso Estado Prisão.
Tenho sido imprestável para sociedade,
Inadequado a moral vigente,
Inapto e delinquente em meus atos de imaginação.
Tenho sido consumido pelo consumo,
Destruído pelo trabalho,
E aniquilado pelo progresso.
Tenho sido um morto vivo
Nesta sociedade de morte ativa
Arbitrada pelo consumo,
Por hierarquias,
Verdades, autoridades
E tecnologias.
Tenho sido educado para não ser,
Para des-viver a criança
Que fui um dia.
Para saber fracassos e melancolias.
Tenho sido preparado para morrer
Sem nunca ter vivido.
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