quinta-feira, 16 de abril de 2020

DISCURSO E NARRATIVA

Normalmente, é  preciso falar em demasia até  que algo seja efetivamente dito. É comum que uma única frase defina para um um ouvinte todo conteúdo de um longo discurso. Não  como sua síntese, mas como o que realmente é  relevante. É  como um riff de guitarra dentro de uma performance musical ou como o reconhecimento de uma epígrafe. Em qualquer narrativa retemos apenas o que nos interessa, o que de algum modo nos afeta em particular. Em contra partida, todo narrador leva algum tempo para ser penetrado pelo andamento do seu próprio discurso, para perceber como ele se encadeia ,  se articula,  e estabelece seu próprio ritmo e sentido, disperso em velocidades e intensidades diversas, que o transformam em narrativa.
As palavras possuem uma respiração e pulsação   secreta. Nós  apenas a descobrimos através do exercício de uma narrativa, seja na condição de autor ou de ouvinte de um discurso . Ambos são  momentos  do próprio discurso, do seu modo de composição  e expressão, que nunca é  linear, mas labiríntico, descontínuo.  Sempre há  várias narrativas dentro de um único discurso cuja unidade é apenas aparente.  Além disso, o  fundamento de um discurso é  sempre o próprio discurso. Nunca uma exterioridade objetiva . Nenhuma narrativa é  descritiva, abstrata. Mas como um corpo que dança e faz dançar um discurso. A narrativa é  o movimento do dizer, o discurso sua forma. Ambos se alternam e confundem o tempo todo. Mesmo que qualquer manual acadêmico diga coisa totalmente diversa sobre o assunto. 




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