segunda-feira, 13 de abril de 2020

QUASE FIM DO MUNDO

Era só  mais uma tarde
De sol e preguiça 
Em um dia banal
De coisas perdidas. 

Era só  a vida
Brincando no tempo
Indiferente a nossa existência suja
E tão poluída.

Era só  a beleza 
De um quase fim do mundo,
No meio de tudo,
Entre causas perdidas.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

PALAVRAS ANTIGAS

Palavras anônimas  ecoam no vento.

São palavras que nasceram com os mortos
E jamais foram escritas.
Pois foram feitas para bocas & danças. 

Elas pertencem ao dizer pequeno e cotidiano
De um existir criança 
Que por nós  foi extinto.

 Habitam as letras de velhas canções de  roda,
Mas já não  sabemos dança-las,
Ouvi-las com os pés  descalços.
Por isso deixamos que sigam com o vento.
Serão para sempre palavras perdidas,
No deserto de nossas vidas.









quarta-feira, 8 de abril de 2020

OS PERIGOS DA REALIDADE

A realidade escapa aos discursos, as narrativas que circulam e conformam consciências. 
Ela se confunde com o silêncio que dorme no fundo de tudo que é  dito ou escrito contra o caos e a loucura.
A realidade é  aquilo que nos confunde, que tenciona, perturba, e permanece selvagem e a margem da civilização que desenha nossos hábitos. 
A realidade é  o inominável que transborda toda confissão  de um mundo verdade.

terça-feira, 7 de abril de 2020

POEMA PÓS EXISTENCIALISTA

Sei que não  posso fugir as metamorfoses e vertigens do instante, 
Ao falso problema de ser eu,
De quase saber o outro,
Frente ao incompreensível do mundo.

Sou simplesmente ninguém dentro da metafísica de cada palavra dita ou escrita
Entre o ser e o não  ser.

Sei que não posso escapar a angústia de um grito que me faz sorrir,
Ao virtual de um estrangeiro  existir  que me quer fazer explodir a alma do corpo,
Me fazer escapar dos limites do rosto e dos pensamentos.

Só  sei que há  uma grande saúde fora de mim,
Dentro de nós e suja de terra
Nos precipícios do mais banal da imanência, 
A margem de todo contrato social
Do outro lado de nossa brutal existência.

ENTRE OS OLHOS E DENTRO DA CABEÇA

Tenho futuros e sonhos dentro da cabeça 
Contra o tempo dos olhos,
 que adivinha na paisagem aberta 
A eternidade de um fugaz momento.

Tudo que é provisoriamente eterno passa entre os olhos 
Contra o absoluto futuro dentro da minha cabeça.

A vida marca o meu corpo com um desenho de morte
Entre as eternidades dos olhos e da minha cabeça 


domingo, 5 de abril de 2020

A JANELA

A janela reinventa a parede.
Sabe que algo aqui dentro
Está lá fora,
Que o mundo segue em movimento
Na imaginação  dos olhos.

DEVIR & INFINITO

Abomino o cotidiano,
A banalidade de nossas rotinas,
A lei e a ordem da mesmice
Que funda a moral, Estados e tradições.

Gosto do extraordinário,
Do incerto de cada dia,
Do medo e do inédito 
Que debocha de todo conformismo.

Amo o improviso,
O aleatório da invenção do artista, 
Nossa impermanência e vertigem.
Nossa diária morte secreta
Que sempre de novo 
Transforma a vida.

Sou no devir que me arrasta,
A imanência 
Que me consome e ensina,
A maravilha do infinito em movimento,
Que reduz o absurdo do universo 
Ao ilegível intenso da poesia.




sábado, 4 de abril de 2020

CEMITÉRIO DOS VIVOS

Tenho existido indecente,
Inconsequente,
Na cela  biográfica
Deste nosso Estado Prisão.

Tenho sido imprestável para sociedade,
Inadequado a moral vigente,
Inapto e delinquente em meus atos de imaginação. 

Tenho sido consumido pelo consumo,
Destruído pelo trabalho,
E aniquilado pelo progresso.

Tenho sido um morto vivo
Nesta sociedade de morte ativa 
Arbitrada pelo consumo,
Por hierarquias,
Verdades, autoridades 
E tecnologias.

Tenho sido educado para não  ser,
Para des-viver a criança 
Que fui um dia.
Para saber fracassos e melancolias. 

Tenho sido preparado para morrer
Sem nunca ter vivido.

terça-feira, 31 de março de 2020

O ÚLTIMO DIA DA HISTÓRIA

Talvez chegue sem aviso,
Quarquer dia destes,
A hora do esgotamento definitivo.
Do  cansaço absoluto
De ser e saber o mundo.

Será o colapso de todos os discursos,
A confusão dos afetos,
E a vitória do silêncio.

Chegará, tenho certeza, 
O dia da grande descrença, 
Da bela desgraça 
Da saturação de todos os propósitos e significados.

Tudo vai sair do controle,
Nada vai fazer sentido.
Todos irão  parar sem motivo
Para contemplar perplexos
 O infinito vazio da consciência.







sexta-feira, 27 de março de 2020

CONTRA HISTORIA DA HUMANIDADE

Recuso os territórios das invariâncias do tempo presente.
Busco a substância do imanente
Que sempre impertinente
Me foge das mãos. 

Desapareço  na potência do Virtual,
Do impessoal que me faz póstumo,
Ilegível e banal no nada do nada
Deste longo instante de não  natureza
Que foi toda inútil  historia da humanidade.