terça-feira, 7 de abril de 2020

POEMA PÓS EXISTENCIALISTA

Sei que não  posso fugir as metamorfoses e vertigens do instante, 
Ao falso problema de ser eu,
De quase saber o outro,
Frente ao incompreensível do mundo.

Sou simplesmente ninguém dentro da metafísica de cada palavra dita ou escrita
Entre o ser e o não  ser.

Sei que não posso escapar a angústia de um grito que me faz sorrir,
Ao virtual de um estrangeiro  existir  que me quer fazer explodir a alma do corpo,
Me fazer escapar dos limites do rosto e dos pensamentos.

Só  sei que há  uma grande saúde fora de mim,
Dentro de nós e suja de terra
Nos precipícios do mais banal da imanência, 
A margem de todo contrato social
Do outro lado de nossa brutal existência.

ENTRE OS OLHOS E DENTRO DA CABEÇA

Tenho futuros e sonhos dentro da cabeça 
Contra o tempo dos olhos,
 que adivinha na paisagem aberta 
A eternidade de um fugaz momento.

Tudo que é provisoriamente eterno passa entre os olhos 
Contra o absoluto futuro dentro da minha cabeça.

A vida marca o meu corpo com um desenho de morte
Entre as eternidades dos olhos e da minha cabeça 


domingo, 5 de abril de 2020

A JANELA

A janela reinventa a parede.
Sabe que algo aqui dentro
Está lá fora,
Que o mundo segue em movimento
Na imaginação  dos olhos.

DEVIR & INFINITO

Abomino o cotidiano,
A banalidade de nossas rotinas,
A lei e a ordem da mesmice
Que funda a moral, Estados e tradições.

Gosto do extraordinário,
Do incerto de cada dia,
Do medo e do inédito 
Que debocha de todo conformismo.

Amo o improviso,
O aleatório da invenção do artista, 
Nossa impermanência e vertigem.
Nossa diária morte secreta
Que sempre de novo 
Transforma a vida.

Sou no devir que me arrasta,
A imanência 
Que me consome e ensina,
A maravilha do infinito em movimento,
Que reduz o absurdo do universo 
Ao ilegível intenso da poesia.




sábado, 4 de abril de 2020

CEMITÉRIO DOS VIVOS

Tenho existido indecente,
Inconsequente,
Na cela  biográfica
Deste nosso Estado Prisão.

Tenho sido imprestável para sociedade,
Inadequado a moral vigente,
Inapto e delinquente em meus atos de imaginação. 

Tenho sido consumido pelo consumo,
Destruído pelo trabalho,
E aniquilado pelo progresso.

Tenho sido um morto vivo
Nesta sociedade de morte ativa 
Arbitrada pelo consumo,
Por hierarquias,
Verdades, autoridades 
E tecnologias.

Tenho sido educado para não  ser,
Para des-viver a criança 
Que fui um dia.
Para saber fracassos e melancolias. 

Tenho sido preparado para morrer
Sem nunca ter vivido.

terça-feira, 31 de março de 2020

O ÚLTIMO DIA DA HISTÓRIA

Talvez chegue sem aviso,
Quarquer dia destes,
A hora do esgotamento definitivo.
Do  cansaço absoluto
De ser e saber o mundo.

Será o colapso de todos os discursos,
A confusão dos afetos,
E a vitória do silêncio.

Chegará, tenho certeza, 
O dia da grande descrença, 
Da bela desgraça 
Da saturação de todos os propósitos e significados.

Tudo vai sair do controle,
Nada vai fazer sentido.
Todos irão  parar sem motivo
Para contemplar perplexos
 O infinito vazio da consciência.







sexta-feira, 27 de março de 2020

CONTRA HISTORIA DA HUMANIDADE

Recuso os territórios das invariâncias do tempo presente.
Busco a substância do imanente
Que sempre impertinente
Me foge das mãos. 

Desapareço  na potência do Virtual,
Do impessoal que me faz póstumo,
Ilegível e banal no nada do nada
Deste longo instante de não  natureza
Que foi toda inútil  historia da humanidade. 

segunda-feira, 23 de março de 2020

PRODUZIR A SI MESMO

Recuso a individualização totalizante,
a subjetividade assujeitada,
Rasa,
Conformada aos atos de confissão
De qualquer identidade social.

Prefiro a individuação que nasce do encontro,
Que funda o plural, a diferença, 
Na invenção do inédito de qualquer revolução natural.

Viver é  movimento e invenção 
De novas formas de vida,
Rebelião, 
Que sempre supera o presente
Através do intempestivo
Que esclarece as urgências da imaginação. 






sexta-feira, 20 de março de 2020

MUDANÇA


O mundo muda sem se importar com opiniões.
Tudo esta sempre a um passo do fim,
E cada instante é tão breve
que não deixa a marca de qualquer lembrança.
A mudança é cega e selvagem.

Ela não pondera,
não negocia.
simplesmente,
de repente,
o que parecia eterno vira cinza.


A vida é a grande festa
de um fazer e desfazer permanente
das coisas todas.


quarta-feira, 18 de março de 2020

FILOSOFIA DO NÃO SER

A vida é  como um segredo intransmissível do corpo. E o que pode o corpo como parte da natureza?

 A vida não nos pertence,  ela acontece através  do corpo, esta composição  complexa de coisas diversas, que se articula em um plano imanente que é  a própria natureza/mundo.

O que somos nós? Como podemos ser algo diverso das coisas e não  as próprias coisas? Eis a contradição  da linguagem como artifício ontológico.

Há uma alma do mundo na ausência de nosso espírito, na mistura do orgânico e do inorgânico. A  consciência não  nos define na experiência das coisas. O mundo acontece no múltiplo e no diverso contra nosso ideal de existência,  contra a ilusão  do ser. Vida e não vida são grandezas equivalentes.