terça-feira, 17 de dezembro de 2019

O ESTRANHO SILENCIO DO DEVIR COTIDIANO CONTRA O DIZER DAS COISAS

A mudez do devir cotidiano desafia o dizer das coisas através das palavras e discursos que vagam entre nós.
Queremos a carne do verbo contra a metafísica dos saberes e dizeres eruditos.

Queremos a metapoesia anti discursiva das intensidades, a vida inteira em delírio quebrando a sobriedade da frase corriqueira, rasgando o texto do noticiário e  o livro da escola.

A mudez do devir cotidiano grita a anti matéria da linguagem, a vida em sua muda e indeterminada plenitude.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

NOVAS INFÂNCIAS

Ainda ontem éramos apenas crianças.
Pequenos rascunhos de gente
conformados a fantasia de uma vida inteira.

Agora somos  a voz do mundo
Contra as humanidades e modernidades
Que ameaçam a natureza  e toda possibilidade de futuro.

A insanidade do viver adulto destruiu nossa inocência,
Mas não  matou nossa esperança.
Reinventamos a infância contra os absurdos da história.

Um dia todos serão  apenas crianças...

.

domingo, 15 de dezembro de 2019

A ÉTICA DAS LETRAS


Não buscamos mais a palavra precisa,
A ilusão  metafísica de qualquer verdade universal.
Ignoramos o letramento ,
O logocentrismo do narcisismo ocidental.

Buscamos a imanência, 
O afeto e o corpo,
A terra e a anima mundi.

Sabemos por intuição a nervura
Do Ser da linguagem 
Na tela em branco.

Buscamos a existência,
A lisura e sujeira do pensamento,
A diferença,  a estridência 
E a dissonância do sentimento
Na experimentação  do mundo.

Já não há muito a dizer.
Produzimos e escrevemos
Formas de vida,
Éticas e estéticas,
Convertendo letras em gestos. 




MUSICA E IMANÊNCIA

Sinto saudades de mim.
Afinal, ao longo dos anos,
Já  fui tantos, 
Mediante diferentes modos de sentir,
Saber e existir através do mundo e dos outros, 
Que agora mesmo,
Não  me reconheço.  
Pouco sei de mim.

Há apenas o corpo
Através  das coisas
Fora da representação, 
Da palavra,
Convertendo o próprio pensamento
Em extensão. 
Há unidade apenas no virtual da memória,
No devir da saudade da ilusão  de ser,
De me confundir com o espaço. 

A composição  de uma vida 
É  como uma música que escuta,
Quase uma alucinação. 

Sou o eco de uma melodia que fui,
Que flui,
E, através  de mim,
Ainda ouve a si mesma
No compasso do tempo de sua escrita,
Do seu movimento e execução. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

MUITO ALÉM DA ESCOLA

Contra tudo que me ensinaram em uma cela de aula, aprendi a ser livre, por excesso de vitalidade.
Conservei-me selvagem, experimental e criança, 
Onde me queriam inteligente, obediente
E conformado ao rebanho.
Descobri que a vida é  uma experiência 
Que transborda 
Na intensidade dos corpos e das imaginações 






segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

COISAS


Além do eu que inventa o falso dos meus dias,
Sou apenas coisa feita de coisas
Sabendo coisas que criam  coisas.

Sou a imaterialidade concreta das coisas...
E como são  misteriosas as coisas
Quando se é apenas uma coisa
No movimento e metamorfose das coisas!


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

DA COISA A PALAVRA


Não acredito naquilo que diz um nome.
As coisas não habitam o nome.
O nome diz apenas a realidade do ato de nomear,
testemunha a potencia da imaginação verbal
contra a realidade muda da coisa.
A palavra já  é em si uma realidade,
a materialidade de uma significação.


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

QUANDO OS LIVROS FOREM APENAS LIVROS


Quando os livros forem apenas livros
voltaremos a leitura do mundo
através do corpo
que escreve os dias.
Seremos notas de rodapé
no quase ilegível texto
tendente ao infinito da nossa condição humana.


DIZER O MUNDO

Leio o mundo até  me perder de mim mesmo,
Até  a possibilidade de escrever a vida
Como multiplicidade e indeterminação,
Jamais  como abstração ou verdade.

O mundo é  a matéria viva da escrita de ser.
É sujeito e objeto que me esclarece,
Enquanto me distraio  comigo 
Ignorando os olhos da morte. 

Meu mundo é  maior que o mundo 
E quase não cabe no ato de dizer.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A PALAVRA COMO HABITAT




Somos na modéstia de um dizer pequeno que re-apresenta o mundo através de um caco qualquer de realidade. Ele funda uma perspectiva, um modo de sentir e saber, que configura a existência como ethos, que define uma forma de vida, um dizível que dá forma ao invisível...

A palavra é nosso lugar de mundo. Através dela nos inventamos e reinventamos, sem nos dar plenamente conta do quanto a consciência é um ato de criação, não um reflexo do mundo como exterioridade, mas nossa própria lugar de ser em linguagem.

Em suma, habitamos palavras, desenraizados de nós mesmos.