segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

COISAS


Além do eu que inventa o falso dos meus dias,
Sou apenas coisa feita de coisas
Sabendo coisas que criam  coisas.

Sou a imaterialidade concreta das coisas...
E como são  misteriosas as coisas
Quando se é apenas uma coisa
No movimento e metamorfose das coisas!


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

DA COISA A PALAVRA


Não acredito naquilo que diz um nome.
As coisas não habitam o nome.
O nome diz apenas a realidade do ato de nomear,
testemunha a potencia da imaginação verbal
contra a realidade muda da coisa.
A palavra já  é em si uma realidade,
a materialidade de uma significação.


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

QUANDO OS LIVROS FOREM APENAS LIVROS


Quando os livros forem apenas livros
voltaremos a leitura do mundo
através do corpo
que escreve os dias.
Seremos notas de rodapé
no quase ilegível texto
tendente ao infinito da nossa condição humana.


DIZER O MUNDO

Leio o mundo até  me perder de mim mesmo,
Até  a possibilidade de escrever a vida
Como multiplicidade e indeterminação,
Jamais  como abstração ou verdade.

O mundo é  a matéria viva da escrita de ser.
É sujeito e objeto que me esclarece,
Enquanto me distraio  comigo 
Ignorando os olhos da morte. 

Meu mundo é  maior que o mundo 
E quase não cabe no ato de dizer.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A PALAVRA COMO HABITAT




Somos na modéstia de um dizer pequeno que re-apresenta o mundo através de um caco qualquer de realidade. Ele funda uma perspectiva, um modo de sentir e saber, que configura a existência como ethos, que define uma forma de vida, um dizível que dá forma ao invisível...

A palavra é nosso lugar de mundo. Através dela nos inventamos e reinventamos, sem nos dar plenamente conta do quanto a consciência é um ato de criação, não um reflexo do mundo como exterioridade, mas nossa própria lugar de ser em linguagem.

Em suma, habitamos palavras, desenraizados de nós mesmos.




quinta-feira, 21 de novembro de 2019

DIFERENÇA E DEVIR




A diferença transcende a ilusão da essência.
Ela expressa o plural, o impreciso e o dissonante
no movimento do diverso.

A diferença é o regime do inacabado
que estabelece o movimento da existência
como exercício de imanência e sentido
indiferente aos ritmos das permanências.

A diferença é o fluir das coisas
no quase ser da gente.

VERTIGEM PÓS MODERNA



É mais do que evidente a partir da segunda metade do século XX, a desintegração da pretensão pós iluminista de uma racionalidade global e totalizante vinculado a um projeto de emancipação do homem, até então visto como medida de todas as coisas desde da ofuscação racional dos oitocentos. Tamanha ilusão antroprocêntrica deu lugar a uma pluralidade de micro racionalidades  não mais condicionadas a construção de um sujeito do conhecimento ou de um teleológico processo histórico.

O que é menos evidente é a experiência de nosso mais imediato presente. Há uma multiplicidade de tempos dentro do tempo, um indeterminismo e irreducionismo a qualquer tendência totalizante de analise discursiva. É como se a possibilidade de interpretação e construção de sentido ficasse em segundo plano diante do relato raso da simples experiência de existir, de acontecer. Triunfa na contemporaneidade a vertigem do inacabado, do provisório e da verdade do ilusório  na sensação  cada vez mais concreta do abismo como conclusão, do simulacro como realidade bruta do fundo da superfície .

domingo, 17 de novembro de 2019

PALAVRA, CORPO E AMBIENTE

O corpo e a palavra,
Unidos através dos atos,
Inventam o possível e o imediato
Da minha presença 
Entre as coisas.

A Palavra é o corpo
Embriagado de sentido,
Vontade...

A palavra é o corpo comovido pelo exterior 
Que lhe abriga inventando a realidade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

SOBRE O DIZER MAIS QUE VERDADEIRO



O dizer mais que verdadeiro não se destina a afirmação da verdade, de uma ilusória correspondência entre as palavras e as coias. Ele não inventa nomes, mas desenha conceitos como alegorias do sem nome das coisas concretas e vividas; mesmo reduzindo o sentido a alma das narrativas.

O dizer mais que  verdadeiro não tem sujeito. É anônimo e terapêutico na afirmação da existência como obra de arte.


O DIZER DO SILÊNCIO


Um silêncio  fala através  de mim
Todas as coisas da vida.
É  através  dele que existo
No ato e na palavra
Que me procura
E me torna visível 
Entre os outros. 

O silêncio me escuta
E me faz dizer.
Guardo dentro dele
Todos os pensamentos.

No silêncio  não  há interdição, 
Nenhum segredo.