segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A MUDEZ DO MUNDO


Os pássaros ignoram o vidro,
Como ignoramos a prisão  das palavras,
Os limites do dito e do sentido.

A liberdade está no silêncio,
No aberto horizonte do nada,
No pensamento indiferente
As coisas e acontecimentos.

O corpo grita na ausência de enunciados
Toda imensidão e diversidade
De nossa experiência de realidade.
Mas quase nunca nos damos conta de que o mundo é  mudo,
que a vida é sensação e afeto.

MEMÓRIA SOCIAL


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

SOBRE O DEVIR COTIDIANO



“Aqueles que falam de revolução e de luta de classes sem se referir à vida cotidiana, sem compreender aquilo que há de subversivo no amor, de positivo na recusa do constrangimento, estes carregam na boca um cadáver.”
Raoul Vaneigem


A coerência do mundo é obra do cotidiano. Através das pequenas coisas do dia a dia a vida se inventa como uma complexa rede de integração de corpos diversas que se movem em simetrias, oposições e composições.

Recusamos uma definição do cotidiano como habito, como sinônimo de senso comum. O cotidiano é antes de tudo o espaço de vivencias imediatas na duração do estantaneo.
 
Ele é feito de um único instante que se desdobra em infinitas variações de si mesmo. O que  faz o instante devir é o movimento dos corpos e suas múltiplas composições e recomposições.
Tempo é extensão e duração.

Natureza é
movimento.


QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS



O momento do pensamento pressupõe a preexistência da realidade.Mas a realidade é um ato de pensamento. Realidade e pensamento são expressão da consciência como fronteira entre o orgânico e o inorgânico. Cada um de nós é o próprio mundo observado. A falsa dualidade entre sujeito e objeto sustenta a tagarelice logocêntrica do pensamento ocidental. Afasta de forma absurda os saberes de nossa presença no mundo. Não existe momento do pensamento que não seja instante do corpo onde o eu é toda experiência de mundo.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

DUALISMO E CORPOREIDADE



O corpo/natureza nada tem em comum com o corpo/sociedade. Os dois coincidem na mesma extensão, mas são absolutamente diversos. Ambos definem o eu onde se escreve esta presença que sou. Mas um só é visível na ausência do outro.

O corpo/natureza é múltiplo e provisório arranjo de moléculas, células e órgãos.
O corpo/sociedade é desejo domado, habito  e pensamento. Ele é pura abstração.

Ambos fluxo, desejo ....
Em nenhum deles eu existo.
Mas estou em ambos,
Vivo e morto.


A RESPOSTA




A resposta mora na próxima pagina.
Mesmo que agora
Você já esteja lendo a próxima pagina.

Nunca pare de ler.
Busque sempre a resposta.
Ela espera na próxima pagina,
Na nota de rodapé
do livro seguinte,
No próximo leitor.

Não duvide!
Leia!

segunda-feira, 29 de julho de 2019

SABER E POESIA



Estamos sempre atentos a palavra, a verbarrogia, ao dizer continuo sobre todas as coisas. Nos entupimos de informação, de respostas, significações.

Estamos sempre cheios de verdades, de versões da realidade, de convicções afetivas e eletivas.

Mas todas as opiniões somadas não definem o mundo ou a vida. Sevem apenas as ilusões e normas da civilização.

É no silencio que existimos como vivente,na composição do orgânico e do inorgânico, do ser e do não ser.

Precisamos ouvir mais o silêncio, sentir a realidade como coisa vivida que extrapola o pensado e o representado.  

O saber mais autentico é o a poesia que não serve a nenhum poder sobre pessoas e coisas, pois se propõe a nada dizer no falar de tudo. 

sábado, 27 de julho de 2019

A ARTE DE VIVER E CONVIVER


Partilhar o mundo é compartilhar um juízo estético. Por isso a arte é  mais importante à existência do que qualquer ciência.

A partilha possível de uma sensação  abstrata de prazer é  o que define o contágio dos afetos entre os diferentes.

Partilhar o mundo é viver singularidades de modo impessoal e íntimo na construção  social da subjetividade. É saber o outro no prazer de ser, de produzir presença, compor vivências através  daquilo que nos co-transforma.

O dialogo inventa o sentido como expressão afetiva de uma experiência comum. 

Somos como arvores dançando um vento....

sexta-feira, 26 de julho de 2019

O SILÊNCIO DA PALAVRA ESCRITA



Estou ausente da palavra que me escapa do punho.
Ela é meu modo de não dizer nada,
De fugir de mim mesmo,
Enquanto o tempo  mata
E apaga tudo que existe.

Apenas ausências sustentam a escrita
como um dizer que não fala,
Que reinventa a si mesmo
como forma e enigma
Na vertigem do pensamento.

O texto é pura performance de ausências.
A palavra não comunica,
Não explica.
Se quer tem objeto.

Ela traduz o vazio em toda sua complexidade
Construindo segredos em cada verso,
construindo simulacros e desvios
no corpo de mil  narrativas.
Tudo isso apenas para registrar silêncios
no desdizer da vida.



MULTIPLICIDADE E EXISTÊNCIA


Invento a mim mesmo sempre incompleto,
Contraditório e aberto ao outro.

Porque sou sempre todos os outros que me povoam.
Mesmo sem conhece-los vivo dentro deles,
Incapaz de ser eu mesmo.

O indeterminado me define como processo,
Como anônima expressão de gente
Que não se conforma ao seu próprio rosto.