A pragmática de nossas cotidianas práticas discursivas resume-se a tagarelice. Falamos demais; poluímos tudo com palavras, discursos. Estamos sempre explicando, representando, conceituando. O mundo é o discurso e não a experiência do corpo, corpo que ignoramos como fonte de imaginação das coisas. É sempre a partir da norma que definimos o real, o experimentável ou simplesmente o existente e o verdadeiro como, antes de tudo, um ato verbal. Desde o século XIX habitamos uma imagem demasiadamente empobrecida e desencantada das coisas. Tudo foi reduzido a normativa, suas empirias e utilitarismos, as afetações dos discursos e disciplinas.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
O VAZIO DE NOSSAS PALAVRAS
A pragmática de nossas cotidianas práticas discursivas resume-se a tagarelice. Falamos demais; poluímos tudo com palavras, discursos. Estamos sempre explicando, representando, conceituando. O mundo é o discurso e não a experiência do corpo, corpo que ignoramos como fonte de imaginação das coisas. É sempre a partir da norma que definimos o real, o experimentável ou simplesmente o existente e o verdadeiro como, antes de tudo, um ato verbal. Desde o século XIX habitamos uma imagem demasiadamente empobrecida e desencantada das coisas. Tudo foi reduzido a normativa, suas empirias e utilitarismos, as afetações dos discursos e disciplinas.
IMPROVISO DELEUZEANO
A exuberância das incertezas, dos
desconfortos, da inadequação as cristalizações sedentárias e culturais, aos
modelos, é o que nos lança sempre e cada vez mais ao desafio de novos valores e
preceitos. O cultivo da veracidade, a vontade de verdade, já não nos assossega
ou seduz. Queremos a vida plena na transvaloração dos valores. Buscamos a superfície
dos acontecimentos, os efeitos incorporais da mistura dos corpos no limiar de
um devir-linguagem, de uma desteritoriarização verdejante. A nervura do real é
a dobra do lado de fora que constitui um dentro, que inventa esse vazio que é
aquilo que somos. A consciência discursiva de um pensar reverso de toda a história
da filosofia é o que nos resta contra o presente.
terça-feira, 31 de julho de 2018
A ARTE DE DECIFRAR
A arte de
decifrar confunde-se com a experiência da interpretação. Assim, combina
cumplicidade e imparcialidade na produção do sentido de um texto ou de uma
realidade. Mas não se trata de um exercício de dedução no melhor ou pior uso do
aparato caduco da tradição do pensamento. Trata-se de comprometimento, de
pensar onde não somos, de adentrar labirintos. A compreensão de qualquer coisa é
sempre interpretação e, portanto, pressupõe algo de falsificação, de reinvenção.
Não é a verdade das coisas que alcançamos, mas sua simulação. Não é o sujeito
fundante do Ser como pensamento que nos substitui no ato de decifrar. O enigma
inventa a si mesmo e já contem sua própria resposta. Desta forma, o sentido
possui sua soberania. Mas não remete a um significante ou a um significado, mas
a um revelar-se como exterioridade interiorizada, como um fora que se torna
dentro. Decifrar é movimento, é um estado e não um ato. Ele é o exercício de
uma mobilidade labiríntica.
segunda-feira, 30 de julho de 2018
A VERDADE E A MENTIRA SEGUNDO NIETZSCHE
Raramente nos damos conta do quanto o
fundamento de qualquer verdade é sempre uma não verdade. O dizer verdadeiro é
aquele que se inventa através de conceitos, este curioso artificio para dizer
as coisas como elas devem ser na ignorância de suas diferenças. A sombra do Nietzsche
de Sobre
a verdade e a mentira no sentido extra moral, cabe dizer que tomamos
a simbolização enunciativa do real como o próprio real, adivinhando, assim, uma
ordem nas coisas.Nietzsche define a verdade neste breve texto de 1873 da
seguinte maneira:
“O que é, pois, a verdade?
Um exercício móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, numa
palavra, uma soma de relações humanas que foram realçadas poética e
retoricamente, transpostas e adornadas, e que, após uma longa utilização,
parecem a um povo consolidadas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões
das quais se esqueceu que elas assim o são, metáforas que se tornaram
desgastadas e sem força sensível, moedas que perderam seu troquel e agora são
levadas em conta apenas como metal, e não mais como moedas.”
A verdade é a
obrigação de mentir socialmente através das convenções consolidadas, é também uma
inconsciência das metáforas intuitivas originais. Assim, ela é essencial ao espírito
gregário e a vida em rebanho. Afinal, a verdade tornou-se a principal lei da
legislação da linguagem depois que o intelecto, este artificio essencial a
sobrevivência dos seres menos
favorecidos, inventou a dissimulação como uma necessidade vital. Assim, através
dele, a própria linguagem se converteu em um artificio, em dissimulação
consagrando a ilusão do verdadeiro e do falso, uma arma, um mecanismo normativo
e, portanto, de controle.
Longe da soberba
do homem racional e sua leviana história universal, vivemos melhor quando
reinventamos nossos jogos de linguagem como exercícios metafóricos, quando
através da intuição afirmamos a vida subjetivando a existência como obra de
arte.
sexta-feira, 27 de julho de 2018
NOTA SOBRE DELEUZE E O CINEMA
“O fato moderno é que já não acreditamos
neste mundo. Nem mesmo nos acontecimentos que nos acontecem, o amor, a morte,
como se nos dissessem respeito apenas pela metade. Não somos nós que fazemos
cinema, é o mundo que nos aparece como um filme ruim.”
Gilles Deleuze
in A Imagem Tempo (Cinema 2)
No modo como Deleuze
fala sobre o cinema, tão influenciado pela filosofia de Bergson, o afeto não é um
dado da percepção ou da representação. Mesmo eventualmente relacionado ao passional
ou ao subjetivo, ele não se confunde com a ordem do pensamento. Ele é um outro
tipo de informação que instiga a perceber e pensar de forma diferente daquela a
qual estamos habituados, que parte da indiscernibilidade entre sujeito e objeto,
entre pensamento e corpo, estabelecendo
o impensado de um pensamento afeto através de dois regimes de imagem: a
Imagem-movimento e a Imagem-tempo. A própria matéria é um conjunto de imagens que
nos afeta sem qualquer distinção entre o virtual e o real. Em poucas palavras, o
cinema nos oferece a potência do falso... imagens que pensam.
A ESPIRAL DO CETICISMO
Sempre estou
disposto a saltar sobre mim mesmo,
Sobre o tempo
presente e a prisão dos fatos rasos.
Não para cair
adiante,
Sobre a ilusão
de futuros.
Mas para visitar
passados desconhecidos
E vislumbrar ausências
Questionando tudo
aquilo que nos tornamos.
SOBRE A CRIAÇÃO DE CONCEITOS
Descubra um plano de imanência sobre o qual construir e entrelaçar conceitos,
inventar-se em novas formas de subjetivação,
descobrir na paisagem abrigos, dobras e linhas de fuga....
terça-feira, 24 de julho de 2018
MAQUINAÇÕES ABSTRATAS
Pouco sei das
coisas que vejo agora.
Mas elas sempre
desenharam uma presença,
Uma invisibilidade
ativa em minha vida.
As coisas são consciência,
Entes em meu
pensamento
Revisando a história
do mundo.
Sei que sou como
vejo as coisas,
Que existo como penso meus atos
Através de
muitos dispositivos,
Em um eu
disperso no corpo invisível
De qualquer máquina abstrata
segunda-feira, 23 de julho de 2018
LINGUAGEM E ESCRITA
“O saber humano se espalha por todos os
lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima
parte daquilo que é digno de ser sabido.”
Arthur
Schopenhauer
Escrever não é
um ato tão naturalizado como o falar. Exige uma postura que pressupõe um
esforço para sistematização de um saber previamente articulado. Desta forma, o
autor nunca é livre no ato de escrever. Ele não é o agente da escrita. Ele replica o eco de vozes coletivas em seu
fazer discursivo através de suas referencias. É o ler que permite o escrever,
encadeando aleatoriamente discursos que se duplicam, que se dobram sobre si
mesmos.
Escrever é
sempre replicar um determinado saber. Mas longe de ser definido pela perícia
com que se reelabora um dado saber eleito, o que realmente define um texto são
os seus silêncios. Aquilo que é ignorado, paradoxalmente, torna um discurso viável.
Eis o segredo de sua coerência na pretensão a um dizer verdadeiro.
Se o saber é múltiplo
e diverso, irredutível a qualquer enunciado, todo discurso é parcial e introduz
uma instabilidade em nossa codificação coletiva da realidade. Cada texto é como
uma ferida aberta na gramatica do real, na multiplicidade das possibilidades do
dizível. Todo texto realmente
significativo deve anunciar seu próprio
desaparecimento, sua superação. Ele é a experiência de um abismo, de um
desassossego que nos afeta através das palavras. Escrever pressupõe um inacabamento
da possibilidade do dito, um confronto com o indeterminado de um devir que é a
própria linguagem.
domingo, 22 de julho de 2018
ALÉM DO TEMPO PRESENTE
Fugi da hiper realidade da simulação diária,
Da palavra fechada e disseminada,
Realizada por verdades de mão única.
Da palavra fechada e disseminada,
Realizada por verdades de mão única.
Procurei a reversão das genealogias,
Os labirintos do micro celular,
Do quase molecular.
Tudo que encontrei foi um grande vazio
Onde todas as coisas possíveis
Haviam definido mudas
Seu provisório lugar de quase não ser.
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