“O saber humano se espalha por todos os
lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima
parte daquilo que é digno de ser sabido.”
Arthur
Schopenhauer
Escrever não é
um ato tão naturalizado como o falar. Exige uma postura que pressupõe um
esforço para sistematização de um saber previamente articulado. Desta forma, o
autor nunca é livre no ato de escrever. Ele não é o agente da escrita. Ele replica o eco de vozes coletivas em seu
fazer discursivo através de suas referencias. É o ler que permite o escrever,
encadeando aleatoriamente discursos que se duplicam, que se dobram sobre si
mesmos.
Escrever é
sempre replicar um determinado saber. Mas longe de ser definido pela perícia
com que se reelabora um dado saber eleito, o que realmente define um texto são
os seus silêncios. Aquilo que é ignorado, paradoxalmente, torna um discurso viável.
Eis o segredo de sua coerência na pretensão a um dizer verdadeiro.
Se o saber é múltiplo
e diverso, irredutível a qualquer enunciado, todo discurso é parcial e introduz
uma instabilidade em nossa codificação coletiva da realidade. Cada texto é como
uma ferida aberta na gramatica do real, na multiplicidade das possibilidades do
dizível. Todo texto realmente
significativo deve anunciar seu próprio
desaparecimento, sua superação. Ele é a experiência de um abismo, de um
desassossego que nos afeta através das palavras. Escrever pressupõe um inacabamento
da possibilidade do dito, um confronto com o indeterminado de um devir que é a
própria linguagem.