quinta-feira, 5 de julho de 2018

NAUFRÁGIO



GEOGRAFIA EXISTENCIAL




Quem existe é o meio no qual me movimento.
É toda esta multiplicidade de objetos, processos,
Que transformam qualquer lugar em um acontecimento.

A singularidade é uma espacialidade dada que comporta o corpo.
Corpo onde o dentro e o fora inventam consciência das coisas.

Sou em todos os sentidos esta singularidade,
Este movimento que se transforma em lugar de existência.

Assim, a Terra inventa o universo como abstração
E duvido de tudo aquilo que me define a existência.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

JUNG E BERGSON: APROXIMAÇÕES



O "bergsionismo", mesmo aquele proposto por Deleuze, apresenta a intuição como um procedimento metódico que se destina a apreensão da materialidade movente das durações.

Ele se inventa contra a descontinuidade de momentos espalhados pelo indefinitivamente divisível (quantitativo), oferece como alternativa um tempo que corre indivisível (qualitativo) e que se prolonga como uma melodia, como um devir sem suporte e sempre em transição. Para Bergson esta duração é a essência do Ser, do absoluto. A mudança é indivisível e substancial. Fluxo é sinônimo de duração. A intuição como método é justamente a apreensão desta substância, o método filosófico de uma nova metafísica, que vislumbra  um além da condição humana.

Não seria descabido tentar aproximar as formulações de Bergson sobre memória do conceito de inconsciente coletivo de Jung. Afinal, para o filosofo da intuição, a memoria é uma força imaterial que evoca uma realidade transpessoal (espirito) que não é incompatível com o conceito de psique objetiva ou inconsciente coletivo. Afinal, os arquetípicos são informes. Apenas sabemos seu conteúdo através das imagens arquetípicas manifestas no campo da consciência de modo dinâmico e plástico. Através delas o homem arcaico e moderno coincidem em uma única experiência de realidade que poderíamos considerar intempestiva, pois pressupõe um devir manifesto através de manifestações históricas.

A memória é um acontecimento coletivo que nos atravessa e comove no plano mais intimo e pessoal porque nos oferece a percepção de nosso lugar no ininteligível do drama da própria espécie humana. Eis, talvez,  a medida de nossa criatividade....


O ACONTECIMENTO FILOSOFICO

O acontecimento filosófico não é uma busca pela verdade, por uma abstrata razão das coisas que nunca dá conta da multiplicidade e do caos que nos define o imediaticidade da existência.


A filosofia é a busca de uma ética,  de um  a imagem de mundo que revela um modo de habitar as coisas, uma prática de vida.

A prática filosófica é um modo de individuação e construção consciente e ativa de um cotidiano. Desta forma, filosofia é  imanência. É um modo de acontecer nas coisas contra as ilusões do Ser.

SABER E DEVIR

Entre diálogos e monólogos,
Invento meu próprio silêncio,
Investigo o real em sua nervura,
Sofro suas dobraduras
Nos labirintos da imaginação criadora.

A arte é natureza,
O dizer um vento
Dentro da música que anima o corpo.

O verdadeiro e o falso se nivelam.
revelando o erro como caminho,
como constante atualização do incerto.

O cérebro é o dentro através do fora.
E tudo acontece em irredutível movimento.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

SOBRE O DIZÍVEL E O VISÍVEL


Cores e cheiros me fazem lembrar antigos lugares.
Posso quase sentir atmosferas afetivas,
Abrigos de pensamento,
Códigos vivos de banal existência....
Deleuze, em seu curso de 1985 sobre Foucault,
Nos lembra a diferença entre o descrever e o enunicar.
Afinal, dizer não é ver e isso não é um cachimbo.
Os  espaços definem visibilidades,
Mas nenhum enunciado diz estes espaços.
As dizibilidades acontecem nos lugares
Capturando o visível.


SOBRE O VER E O DIZER


O ver e o dizer se articulam e transcendem a percepção. Remetem ao nosso modo de agir ou fazer a vida acontecer através de seus ritos coletivos. Nosso comportamento não tem nada de natural. É, ao contrário, um mero artifício.

Mas, ao mesmo tempo, ver e dizer, é também um ato de criação, uma forma de adquirir substancia através da experiência de uma discursividade que cria sentido. É isso que nos define, sempre provisoriamente, entre os outros e através de todos.

terça-feira, 26 de junho de 2018

PLANO DE IMANÊNCIA E PENSAMENTO NÔMADE



"O plano de imanência é, entre outras coisas, uma espécie de solo intuitivo, cujos "movimentos infinitos" são fixados pelas "coordenadas" construídas pelo movimento finito do conceito. O plano de imanência, despovoado de conceito, é cego (no limite é puro Caos); o conceito, extraído de seu "elemento" intuitivo (no sentido de atmosfera) é vazio. Acrescentaria, ainda, que, assim como Kant atribui à imaginação transcendental a função de mediação, que permite a subsunção da intuição ao conceito, Deleuze introduz a instância intermédia dos "personagens conceituais", na passagem dos "traços diagramáticos" do plano às "coordenadas intensivas" do conceito."


Bento Prado Jr in A IDEIA DE  PLANO DE IMANÊNCIA

Segundo Deleuze & Guattari, um plano de imanência é sempre um horizonte de acontecimentos, onde os problemas se colocam e os conceitos habitam contra o caos. Através deles a filosofia torna-se um trabalho para cartógrafos. Pois os conceitos acoplam-se uns aos outros, reinventam-se na medida em que se relacionam entre eles  compondo, assim, o próprio plano. O pensar é movimento, fluxo. Estabelece-se através de pontos, coordenadas, campos de força.

A imanência não remete a algo exterior. Ela exclui toda transcendência na medida em que é movimento, velocidade. Não há tempo para se fixar em nada, para qualquer versão de eternidade ou de transcendência.  

UM GOLE DE FOUCAULT CONTRA A EMBRIAGUEZ DO PODER



Trata-se (…) de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações (…) captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam (…) Em outras palavras, captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu exercício.” (FOUCAULT, Michel in Microfísica do Poder, p.182).

O poder é mais um efeito do que propriamente uma instituição ou uma ideologia. Ele é uma forma de subjetivar as pessoas, conforma-las a um modo de ação e a uma identificação. Foucault ocupou-se de forma realmente fecundo desta dimensão molecular que define o poder como um saber articulado a práticas, a um jogo simbólico, poderíamos dizer, entre um modo de codificar o real e de agir em função de tal codificação. O poder não acontece de forma vertical, ele acontece em todas as perspectivas, pois é um fluxo, algo indeterminado.

A norma é uma exterioridade internizada, ela  organiza nossa espacialidade social exatamente na medida em que nos comportamos como coordenadas dentro de um campo que nos reconhece como tal e no qual nos reconhecemos.
O que poderíamos dizer de forma sarcástica é que o poder é tão concreto, tão imediato, que ele não existe de tão naturalizado.
Quando alguém  se  opõe a um poder ironicamente tende a inventar um contra poder, a produzir sua luta contra o poder como um poder. Fomos condicionados a não pensar fora do poder, mesmo quando o negamos.

Ultrapassar as praticas e jogos de poder que perpassam todas as nossas formas de existência nos parece possível apenas através do lúdico. Tanto no sentido do jogo quanto da sátira, de um riso niilista, anárquico, que põe em xeque a própria significação das coisas.





ALICE NOS LABIRINTOS DO JARDIM