terça-feira, 26 de junho de 2018

UM GOLE DE FOUCAULT CONTRA A EMBRIAGUEZ DO PODER



Trata-se (…) de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações (…) captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam (…) Em outras palavras, captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu exercício.” (FOUCAULT, Michel in Microfísica do Poder, p.182).

O poder é mais um efeito do que propriamente uma instituição ou uma ideologia. Ele é uma forma de subjetivar as pessoas, conforma-las a um modo de ação e a uma identificação. Foucault ocupou-se de forma realmente fecundo desta dimensão molecular que define o poder como um saber articulado a práticas, a um jogo simbólico, poderíamos dizer, entre um modo de codificar o real e de agir em função de tal codificação. O poder não acontece de forma vertical, ele acontece em todas as perspectivas, pois é um fluxo, algo indeterminado.

A norma é uma exterioridade internizada, ela  organiza nossa espacialidade social exatamente na medida em que nos comportamos como coordenadas dentro de um campo que nos reconhece como tal e no qual nos reconhecemos.
O que poderíamos dizer de forma sarcástica é que o poder é tão concreto, tão imediato, que ele não existe de tão naturalizado.
Quando alguém  se  opõe a um poder ironicamente tende a inventar um contra poder, a produzir sua luta contra o poder como um poder. Fomos condicionados a não pensar fora do poder, mesmo quando o negamos.

Ultrapassar as praticas e jogos de poder que perpassam todas as nossas formas de existência nos parece possível apenas através do lúdico. Tanto no sentido do jogo quanto da sátira, de um riso niilista, anárquico, que põe em xeque a própria significação das coisas.





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