“Trata-se
(…) de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações (…)
captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais,
principalmente no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o
organizam e delimitam (…) Em outras palavras, captar o poder na extremidade
cada vez menos jurídica de seu exercício.” (FOUCAULT, Michel in Microfísica
do Poder, p.182).
O poder é mais um
efeito do que propriamente uma instituição ou uma ideologia. Ele é uma forma de
subjetivar as pessoas, conforma-las a um modo de ação e a uma identificação. Foucault
ocupou-se de forma realmente fecundo desta dimensão molecular que define o poder
como um saber articulado a práticas, a um jogo simbólico, poderíamos dizer,
entre um modo de codificar o real e de agir em função de tal codificação. O poder
não acontece de forma vertical, ele acontece em todas as perspectivas, pois é
um fluxo, algo indeterminado.
A norma é uma
exterioridade internizada, ela organiza
nossa espacialidade social exatamente na medida em que nos comportamos como
coordenadas dentro de um campo que nos reconhece como tal e no qual nos
reconhecemos.
O que poderíamos dizer
de forma sarcástica é que o poder é tão concreto, tão imediato, que ele não
existe de tão naturalizado.
Quando alguém se opõe
a um poder ironicamente tende a inventar um contra poder, a produzir sua luta
contra o poder como um poder. Fomos condicionados a não pensar fora do poder,
mesmo quando o negamos.
Ultrapassar as
praticas e jogos de poder que perpassam todas as nossas formas de existência
nos parece possível apenas através do lúdico. Tanto no sentido do jogo quanto da sátira, de um riso niilista, anárquico, que põe em xeque a própria significação
das coisas.
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