O DISCURSO E A MANUFATURA DA
VERDADE
A
arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os
temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os
próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras. Ela não trata o
discurso como documento, como signo de alguma coisa, como elemento que deveria
ser transparente, mas cuja opacidade importuna é preciso atravessar
frequentemente para reencontrar, enfim, aí onde se mantém a parte, a
profundidade do essencial; ela se dirige ao discurso em seu volume próprio, na
qualidade de monumento. Não se trata de uma disciplina interpretativa: não
busca um “outro” discurso mais oculto. Recusa-se a ser “alegórica”.
Michel Foucault in Arquelogia do Saber
O discurso é o conjunto de regras
e praticas que permitem a construção das representações e codificações da
realidade em um dado contexto sócio cultural. Como demonstrou Foucault em sua Arqueologia
do Saber, o discurso é o que define o que pode e não pode ser dito sem ser,
entretanto, uma copia do real, mas sua instrumentalização através de jogos de
verdade que estabelecem relações de poder.
O discurso precede os sujeitos na
produção de subjetividades. Jogos de verdade são jogos discursivos de poder. Eles
são práticas que constroem objetos dentro de um regime de verdade, um conjunto
de enunciados que integram a malha de poder.
Somos inventados pelas nossas
praticas discursivas. Quando alguém elabora
um discurso, em seu trabalho de escrita reúne um conjunto de vozes sociais, ideológicas e
históricas distinguindo-se assim de si mesmo como indivíduo. A imposição de
regras ao sujeito que fala impõe ao mesmo um papel pré definido na produção
discursiva. Parafraseando Foucault, devemos evitar imaginar um mundo que nos
apresenta uma face legível que apenas deveríamos decifrar.