Sigo onde não há sujeito ou objeto. Apenas o devir de imagens, afetos e representações abstratas.
Sigo onde tudo é imperfeito...
A consciência é precária e se perde nos abismos da linguagem, nas falhas do meu dizer pequeno.
Conceitos e representações são como bolas de sabão.
Os discursos são paisagens, geografia existencial.
A narrativa é o lugar nenhum da existência como espelho de um corpo vivo.
Por isso pouco me importo com tudo aquilo que pode ser dito.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
O PROBLEMA CONTEMPORÂNEO DA AMIZADE
O cuidado com o outro é
indispensável ao cuidado de si. Por isso não é de surpreender o lugar
fundamental que a amizade ocupa na obra tardia
de Foucault. Em sua reflexão sobre sexualidade ele vai além da dicotomia
entre eros e philia e estabelece uma
ética da amizade que ultrapassa a perspectiva individual, a centralidade do
sujeito e do egocentrismo, avançando para praticas de subjetivação baseadas em novas modalidades relacionais não normativas.
Tal tema , que remonta a antiguidade, portanto, também afeta relacionamentos héteros,
embora no último volume da História da Sexualidade tenham privilegiado o homossexualismo. Afinal, a reflexão de
Foucault aponta para uma nova forma de sociedade não centradas no erotismo.
Se os vínculos orgânicos
definidos pelas relações sociais comunitárias baseadas no funcionalismo de
personas hoje já não fazem mais sentido, a amizade emerge como um campo de experimentações de vínculos
estabelecidos pelo prazer e, ao mesmo tempo, como reabilitação da sociabilidade
enquanto construção de si e de uma “cultura de existência”, como uma nova ética
que despersonificando os sujeitos inventa a vida como o desafio do inédito.
A amizade não é uma relação
privada, mas um campo de circulação de significados e sentidos coletivos onde
cada um de nós inventa o outro como parte de si mesmo.
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
AGENCIAMENTO E IMANÊNCIA
Em Deleuze o conceito de
agenciamento entrelaça um regime de signos com um conjunto de relações
materiais correspondentes. A existência, enquanto imanência, acontece através
de variados agenciamentos sociais
definidos por códigos específicos. Todo agenciamento remete ao campo do desejo,
sob o qual se constiui na polaridade entre a forma de maquina abstrata (instituições)
e das relações de força. Os agenciamentos produzem os enunciados que são um
jogo do fora de nós, do coletivo. Assim, não existe sujeito do enunciado.
Como Deleuze define em seus
Dialogos com Claire Parnet
“O que é um agenciamento? É uma multiplicidade que comporta muitos
termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das
idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do
agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma ‘simpatia’”.
Como experiência da imanência os
agenciamentos assim se caracterizam:
Não há fronteira definida entre o subjetivo e o
mecânico
na abstração do agente que intervém no mundo, que
estabelece seu
contorno através da construção do
sentido, através do vagante de mutações imagéticas
que
nos configuram em meio ao devir coletivo como
territorialização constantemente
impelida a sua própria
transcendência.
Todo desejo é maquinado ou agenciado revela o
estatuto paradoxal de qualquer acontecimento possível.
Como apontado no inicio,
o agenciamento remete a uma
reciprocidade entre a
forma do conteúdo (regime maquínico) e a forma de
A INFORMAÇÃO COMO CONTÁGIO E OPINIÃO
“ Os cegos não querem admitir que eu tenha olhos, e os surdos dizem que sou
mudo.”
“As verdadeiras verdades são
aquelas que se pode inventar.”
Karl Kraus in Aforismos
O comercio das opiniões obedece
ao princípio da afinidade. O familiar atrai o familiar de modo que as opiniões
não se comunicam entre si. Apenas se
replicam como uma espécie de vírus cuja a logica é o contágio e sua expansão
incondicional.
A possessão por opiniões é um dos
males da era da informação onde o real, como bem percebeu Baudrillard, deu
lugar a hiper realidade e ao virtual que nos pensa.
O próprio pensamento já não
pensa, convertido ao mimetismo de opiniões que circulam em busca de
hospedeiros. Cada um de nós e o seu meio de expansão e sobrevivência. Somos
todos suas vitimas. Como na peça de
Ionesco, nos tornamos rinocerontes diariamente no fluxo de informações. Mas não
nos damos conta disso. Ainda nos
iludimos com o Cogito.
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
CULTURA CONTEMPORÂNEA
A visibilidade dos artefatos de
cultura define o consumo de simulacros que nos configuram a consciência das
coisas. Os usos do corpo e do espírito adquirem formas abstratas e imprecisas
no fluir de nosso existir nômade.
Já não buscamos qualquer grande
objetivo, qualquer perspectiva, que não seja maior do que o simples dispor de
si mesmo entre os outros. Queremos sobreviver e colecionar um pouco de prazer.
Nisso se resume tudo aquilo que nos define provisoriamente nos dias do agora.
Não me perguntem mais quem eu
sou. Pois eu existo como uma função das coisas, como instancia de significação.
Sou um objeto, talvez uma coisa, um corpo estranho na geografia da existência.
Sou apenas meu próprio lugar de construção de símbolos e sentidos. Eu sou
apenas um lugar.
A VERDADE DO SUJEITO
O sujeito tornou-se erroneamente a medida de todo o saber possível.
Como portador do sentido, arquiteto de significações formatadas por uma
codificação epistemológica que o antecedem, ele inventa a si mesmo como elemento do próprio discurso. Mas o
sujeito é virtual, ele é um não lugar, funciona como um paradoxo da linguagem.
O eu que escreve estas linhas é uma ilusão. Me procurem onde eu não estou, pois é lá que sempre poderei ser visto. Desde o princípio estive condenado a inventar minha própria destruição.
O eu que escreve estas linhas é uma ilusão. Me procurem onde eu não estou, pois é lá que sempre poderei ser visto. Desde o princípio estive condenado a inventar minha própria destruição.
POR UMA VIDA MAIS VERDADEIRA DO QUE A VERDADE
A luta contra os fascismos
cotidianos a qual nos convida Foucault no prefácio de 1977 a edição norte
americana do Anti Edipo, é uma luta contra as microdominações cotidianas. Ele nos convida a inventar outros jogos de
força contra o saber verdade.
Ainda não guilhotinamos o rei das
disciplinas da verdade, das normativas
abstratas que nos condenam aos meta enunciados de dominação comportamental.
Precisamos de novas formas de pensamento e existência onde a autonomia de si se
torne objeto de um cuidado, de uma estética, a ponto de transformar a vida em
obra de arte. Para tanto, é preciso negar-se como sujeito. Não se fixar em auto
referências e definições.
Quando em fins dos anos setenta
do século XX Foucault nos fala de uma
valorização ética e estética da existência ele propõe uma redefinição da
experiência de si, romper com tudo aquilo que nos condiciona ao sedentarismo de
si mesmo. Trata-se de “uma constituição
do sujeito como fim ultimo para si mesmo, pela prática e exercício da verdade”
em um processo de auto subjetivação e
não mais uma atividade de subjetivação. Precisamos nos libertar das
internalizações que nos reduziram a seres desejantes e nos afastaram do cuidado
de si como premissa da experiência de si.
Viver é devir e não se fixa em
qualquer normativa. Pressupõe sempre a abertura para o inédito, para o
imprevisto, através da exegese de si
para si.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO
Posso intuir o evanescente nada que nos inspira, as vezes,
uma certa sensação de irrealidade. Posso senti-lo dentro de uma frase, de um
pensamento ou, simplesmente de um gesto. É como se eu fosse uma ficção produzida
pela gramatica através da qual me faço mundo através do mundo. Quase não vejo
distancia entre a ficção e a vida neste movimento impreciso entre a consciência
e as coisas como jogo gramatical. Arrebatado pela força da linguagem tento
inventar meu lugar de viver como verbo.
Os fatos não existem fora da
linguagem. Nem mesmo minha voz vive fora dos enunciados que se confundem com
meu sentimento de mundo. Percebo que sou onde se quer existo. Este é o segredo
do grande nada que nos reduz a significados.
TEMPO
O
corpo é súdito do tempo
E o tempo é a geografia do
existente,
É espaço e matéria,
O rei dos atos.
O tempo é o que nos sustenta
Em constante movimento
Contra o próprio tempo.
Tempo é movimento...
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
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