O cuidado com o outro é
indispensável ao cuidado de si. Por isso não é de surpreender o lugar
fundamental que a amizade ocupa na obra tardia
de Foucault. Em sua reflexão sobre sexualidade ele vai além da dicotomia
entre eros e philia e estabelece uma
ética da amizade que ultrapassa a perspectiva individual, a centralidade do
sujeito e do egocentrismo, avançando para praticas de subjetivação baseadas em novas modalidades relacionais não normativas.
Tal tema , que remonta a antiguidade, portanto, também afeta relacionamentos héteros,
embora no último volume da História da Sexualidade tenham privilegiado o homossexualismo. Afinal, a reflexão de
Foucault aponta para uma nova forma de sociedade não centradas no erotismo.
Se os vínculos orgânicos
definidos pelas relações sociais comunitárias baseadas no funcionalismo de
personas hoje já não fazem mais sentido, a amizade emerge como um campo de experimentações de vínculos
estabelecidos pelo prazer e, ao mesmo tempo, como reabilitação da sociabilidade
enquanto construção de si e de uma “cultura de existência”, como uma nova ética
que despersonificando os sujeitos inventa a vida como o desafio do inédito.
A amizade não é uma relação
privada, mas um campo de circulação de significados e sentidos coletivos onde
cada um de nós inventa o outro como parte de si mesmo.