Um dos falsos dilemas da
filosofia ocidental é aquele que desde Platão estabelece a desconfiança dos
sentidos e aposta nas ideias ou no pensamento abstrato como matriz de nossas
certezas e principio de realidade. Trata-se, de um modo mais amplo de uma
recusa do corpo, do fisiológico, e idealização de nossa condição humana através
de uma valorização desmedida da cultura como promotora da nossa espécie e do “espirito”
como algo distinto do “físico”.
A premissa de que a realidade
objetiva possui um sentido inato a ser desvelado, sustentou durante muito tempo
o mito do conhecimento como culto a Verdade, como correspondência entre as
palavras e as coisas.
A razão sempre gozou de um
aspecto quase divino no ocidente que apenas se secularizou com o Iluminismo.
Racionalismo e Metafisica sempre constituíram um casal feliz e que, de muitas
formas, ainda celebram suas núpcias sempre que invocamos a superioridade do conhecimento
objetivo sem considerar nossos filtros subjetivos e formatação da realidade. Cada
um cria a realidade que observa e não há teoria que não invente seu próprio
objeto.
No que diz respeito à arte de
pensar, ao modo como o pensamento acontece em nós, devemos considera-lo como um
fenômeno físico químico, como uma atividade propiciada pela experiência de
nosso próprio corpo, estando, portanto, também associado ao seu metabolismo. Mas só podemos dizer o que é o pensar através
do próprio pensamento. Não existe um ponto externo que nos permita considera-lo
de modo isento de seus próprios critérios.
O que aqui se coloca é um
questionamento da própria racionalidade. Não seria ela tão somente apenas um
artificio humano através do qual impomos sentidos e significados a fenômenos que
simplesmente são indiferentes aos nossos s critérios e formas de codificação e
formatação da realidade? Caso desconsiderássemos a racionalidade tão somente
uma pueril brincadeira humana para
tornar nossa experiência do real viável,
não tento qualquer valor objetivo fora das convenções humanas, talvez estivéssemos
mais próximos dos fatos. Os frutos do nosso pensamento, assim, não seriam muito
diferentes ou mais convincentes do que os delírios de um doente mental.
O fato é que o pensar também é a
expressão de uma vontade, a realização de uma compulsão que se tornou cada vez
mais elaborada e refinada ao longo dos séculos e se desenvolveu a partir não de
uma adaptação ao ambiente, mas de sua recusa e transformação através das realizações
culturais. Assim, o pensamento serve antes de tudo ao prazer, a irracional compulsão
humana para domesticar a realidade.