sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

VONTADE E LIBERDADE: A TRANSCENDÊNCIA DO OUTRO

Todo ato de liberdade é dialógico. Somos livres dos outros ou através dos outros. Nunca em relação exclusivamente a nos mesmos.  Por isso não vinculo a liberdade a um agir “responsável” medido por suas consequências, ou ainda  guiado pelos duvidosos preceitos de qualquer moral.

 As regras da liberdade pressupõe o conflito entre o eu e o outro e não a afirmação abstrata de valores ou princípios pretensamente universais. A liberdade é a vontade que se afirma com astúcia contra os imperativos dos fatos dados e das convenções.


A liberdade é um ato de criação e por isso se opõe a toda forma de conformismo. Não podemos  reduzi-la  a falácia da melhor escolha ou do comportamento ético como afirmam os conservadores. Ser livre é pertencer a si mesmo além do bem e do mal. O gozo é um ato privado e solitário. Por isso é livre aquele que na afirmação de si transcende o outro como premissa da afirmação positiva ou negativa de si mesmo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A VIDA COTIDIANA E O DEVIR DA VIDA

O cotidiano e suas micro realidades, é onde a vida acontece no jogo entre continuidades e mutações constantes. Tudo é perene e provisório no se fazer diário de nossos consensos de mundo como representação e rotina.

O domínio do efêmero e do banal é onde a existência ganha ás cores vivas de realidade através do imediatismo da experiência subjetiva. É onde efetivamente existimos, onde as abstrações racionais fazem pouco sentido.

O que torna a existência significativa é justamente a concretude do imediato mais corriqueiro, o existir gratuito como fluxo de momentos aleatoriamente encadeados. Atualmente, o refluxo do pensamento coletivo e das esperanças no progresso da humanidade, levam a um interesse cada vez maior pelo simples senso comum, pelo desenvolvimento de uma consciência do imediato e pelo calculo pragmático de curto prazo como as melhores estratégias para a plena vivencia pessoal da realidade.

A historicidade, enquanto sentido teleológico dos acontecimentos, já não é nítida e muito menos confiável.  Não caminhamos para um mundo melhor. Os anos apenas passam... A vida é o aqui e agora onde vários estilos cognitivos definem  a invenção cotidiana da realidade em suas diversas instancias. Na privacidade da vida domestica não adotamos as mesmas estratégias que norteiam o convívio social, tanto quanto também é diferente daquele que adotamos quando confrontados com nós mesmos e nossa solidão. É como se fossemos varias personas superpostas  que formam , assim, o mosaico que é nossa personalidade, somadas sua dimensão consciente e inconsciente.


terça-feira, 29 de novembro de 2016

LIBERDADE

A  liberdade é mais do que uma palavra.
É um claro caminho contra o tipo de  vida
Que nos é socialmente  imposta,
Contra as verdades dogmáticas, fé, certezas absolutas
E convicções vazias.
Ser livre é ser nômade,
Finito, quase impossível
E urgente.

A liberdade não é  social;
È essencialmente pessoal
E intrasferível.
Não pode ser ensinada.
Apenas conquistada por mentes inquietas
Que não se contentam
Com qualquer resposta.

A liberdade é um grito,
Um desespero e um desafio,
Quase um canto de morte
Ou um encontro com a insanidade.

A liberdade é o riso
Dos que aprendem a voar sem asas.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

SOBRE A TOLERÂNCIA

Tolerância é, em um contexto dialógico, escutar, responder e escutar de novo  sem apresentar conclusões. Afinal, nenhum parecer sobre a realidade é definitivo, assim como qualquer ponto de vista. A convicção de hoje pode ser o equivoco de amanhã. Por isso, infeliz daquele que só se sente a vontade entre os que pensam igual. Pois mesmo entre os seus pares não evitará divergências.



PÓS HISTÓRIA

Um grito ambivalente e plural
Nos trará novidades
Contra o passado que ainda nos aguarda
Na porta da frente.
É essencial desaprender o ontem
Para antecipar o futuro,
Ter varias opiniões e certeza alguma.
Atualmente, toda conclusão é precipitada,
Diante de acontecimentos cada vez mais aleatórios.


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O QUE É SIGNIFICADO?

O significado não é apenas o conteúdo como conceito, nem a afetividade cognitiva de uma imagem que se apresenta como a objetividade do significado na construção de qualquer narrativa.

O significado não se reduz a teleologia da racionalidade pragmática da comunicação.

 O significado é o veiculo do devir da consciência, é plural em suas formas de acontecer como experiência linguística e existencial. Nenhum logocentrismo racionalista dá conta disso.

O significado não se esgota na significação mental de um objeto, na sua compreensão. Ele vai além do domínio da representação.

O significado se estabelece em uma teia de significados, não significa isolado.

O significado é diferente de sentido.

O significado é ao mesmo tempo gramatica  e experiência indireta.

O significado é o próprio exercício de dizer
O significado é a indeterminação de quem diz e a autonomia do dizer como ato dialógico. Ele é por isso sempre impessoal.


O PARADOXO DA CONSCIÊNCIA

A dor multiplicada e interiorizada do acontecer de nossa consciência é definida pela inalienável incerteza de nos mesmos. Somos seres inconstantes, escravos do abstrato dos pensamentos, este bizarro artifício humano através do qual inventamos um mundo que somos mais o qual pouco compreendemos. Estar consciente é estar consciente de alguma coisa que se apresenta como representação de algo exterior a própria consciência. O que é o mesmo que dizer que não existe uma dimensão que pudéssemos definir como interioridade. O eu da consciência é um não lugar psicológico, um modo de estar fora de si  por dentro de si mesmo. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

SOBRE O PENSAMENTO

Um dos falsos dilemas da filosofia ocidental é aquele que desde Platão estabelece a desconfiança dos sentidos e aposta nas ideias ou no pensamento abstrato como matriz de nossas certezas e principio de realidade. Trata-se, de um modo mais amplo de uma recusa do corpo, do fisiológico, e idealização de nossa condição humana através de uma valorização desmedida da cultura como promotora da nossa espécie e do “espirito” como algo distinto do “físico”.

A premissa de que a realidade objetiva possui um sentido inato a ser desvelado, sustentou durante muito tempo o mito do conhecimento como culto a Verdade, como correspondência entre as palavras e as coisas.

A razão sempre gozou de um aspecto quase divino no ocidente que apenas se secularizou com o Iluminismo. Racionalismo e Metafisica sempre constituíram um casal feliz e que, de muitas formas, ainda celebram suas núpcias sempre que invocamos a superioridade do conhecimento objetivo sem considerar nossos filtros subjetivos e formatação da realidade. Cada um cria a realidade que observa e não há teoria que não invente seu próprio objeto.

No que diz respeito à arte de pensar, ao modo como o pensamento acontece em nós, devemos considera-lo como um fenômeno físico químico, como uma atividade propiciada pela experiência de nosso próprio corpo, estando, portanto, também associado ao seu metabolismo.  Mas só podemos dizer o que é o pensar através do próprio pensamento. Não existe um ponto externo que nos permita considera-lo de modo isento de seus próprios critérios.

O que aqui se coloca é um questionamento da própria racionalidade. Não seria ela tão somente apenas um artificio humano através do qual impomos sentidos e significados a fenômenos que simplesmente são indiferentes aos nossos s critérios e formas de codificação e formatação da realidade? Caso desconsiderássemos a racionalidade tão somente uma pueril  brincadeira humana para tornar nossa experiência  do real viável, não tento qualquer valor objetivo fora das convenções humanas, talvez estivéssemos mais próximos dos fatos. Os frutos do nosso pensamento, assim, não seriam muito diferentes ou mais convincentes do que os delírios de um doente mental.


O fato é que o pensar também é a expressão de uma vontade, a realização de uma compulsão que se tornou cada vez mais elaborada e refinada ao longo dos séculos e se desenvolveu a partir não de uma adaptação ao ambiente, mas de sua recusa e transformação através das realizações culturais. Assim, o pensamento serve antes de tudo ao prazer, a irracional compulsão humana para domesticar a realidade.

A ARTE DA CITAÇÃO E O AVESSO DA TRADIÇÃO

O empaledecimento do original é uma pré condição da paródia, da repetição, enquanto estratégia de criação. Não somos originais. Sofremos o peso de nossas heranças e lhe somos fieis na exata medida em que buscamos supera-las e inventar o inédito através de sua replicação. A cópia nunca é fiel ao original. Citar é traduzir, inventar versões.


Mesmo em nosso conservadorismo sofremos o imperativo do devir. Assim, o original é sempre uma referencia virtual constantemente atualizada pela contemporaneidade de nossa interpretação.  Os contextos em que determinada obra  ou referencia de cultura é produzida reduz seu sentido ao instante de sua origem. 

domingo, 20 de novembro de 2016

A ARTE DA BOA CONVERSA

Em toda boa conversação é necessário reservar uma cota de voluntárias omissões. É tamanho o desacordo entre os seres humanos que o melhor é não ser demasiadamente franco quanto as próprias opiniões.

Nunca diga tudo o que pensa e nunca escute tudo que lhe dizem. Ninguém nunca esta disposto a escutar aquilo que não lhe cabe nos ouvidos. O comércio entre os indivíduos  não passa de um grande teatro cujo objetivo não é o entendimento mutuo, mas a troca superficial de frases convencionais no mais egoísta entretenimento.