Atualmente o viver coletivo ou
compartilhado entre outros indivíduos é feito mais de esquecimentos do que de
lembranças. A informação ultrapassa nossa capacidade de fixar memórias de longo
prazo. Precisamos de uma arqueologia das coisas perdidas. Não para resgata-las,
mas para compreender o esquecimento como modalidade de significação. Por outro
lado, nem sempre o mais importante é o que foi lembrado. Não escolhemos nossas
memorias. Ela nos serve como um filtro que seleciona arbitrariamente aquilo que
se perpetua.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 27 de setembro de 2016
O ACONTECIMENTO E O FATO
O essencial da representação
ficcional esta na impossibilidade do momento. Mas tal impossibilidade pode
acontecer não apenas em função de sua condição de não acontecimento, mas também
por sua conversão a memória e a vestígio.
Quanto mais distante um
acontecimento se faz na linealidade cronológica da modernidade, mais nítido ele
se torna enquanto ocorrência imagética,
um re-vivenciar daquilo que jamais foi vivido, mas permanece no caminho de
todos nós como uma pegada. É preciso mostrar aquilo que não vimos, reinventa-lo como
experiência presente. O que só é possível
mediante a transcendência do fato bruto.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
NOTA SOBRE A SIGNIFICAÇÃO DA REALIDADE
Broquear o sujeito como fluxo de expressão
e instancia de significação. Eis um objetivo no mínimo inusitado, mas urgente
do ponto de vista de uma experiência mais crua do ato de cognição e codificação
do mundo pela consciência/autoconsciência.
Existir é viver do significado
das coisas menos do que de sua experiência imediata. Sabemos ou inventamos a
realidade através do filtro de dada configuração cultural específica, o que
significa que não compartilhamos a mesma imagem de mundo, mas existimos naquela
que nos foi possível dentro daquele lugar especifico onde vivemos.
Quando a significação leva em
conta a experiência direta do devir dos fenômenos, sem prefigura-lo em demasia,
de acordo com nosso arcabouço cultural, estranhamos o familiar e
redimensionamos nossa percepção do real.
SUJEITO INDETERMINADO
Ao longo de toda minha biografia,
talvez tenha tido a oportunidade de conhecer e conviver com uma centena de
pessoas ao longo dos vários períodos da minha existência. Certamente cada uma
delas guarda uma imagem diferente de mim condicionada ao compartilhamento de um
momento especifico da minha trajetória pessoal. O somatório destas impressões
pessoais provavelmente não levaria a qualquer imagem muito precisa do ser
humano que fui ao longo dos anos. Mas o que me causa mais estranhamento é o
quanto hoje em dia me desconheço nas muitas versões de mim acumuladas nos anos.
Sou um estranho entre meus eus espalhados pelo tempo. Esta indeterminação me
define.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
POR UM NOVO ESPIRITO CIENTÍFICO
O caráter normativo e judicativo
das ciências sociais, que hoje se mostra estéril e desgastado na construção de
suas narrativas, precisa ser superado ou, pelo menos, confrontado por uma
ontologia existencial ou fenomenologia que devolva a existência ao acontecer das coisas. Falo de uma superação
do raciocínio sistêmico e baseado em conceitos fechados. Proponho narrativas abertas
que transcendam a superfície das formas de organização social e mergulhe nas
entranhas da experiência do real, não pressupondo um observador isento, mas em
comunhão simbólica. A construção do sentido e do significado pressupõe tal
envolvimento.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
INDIVÍDUO E COMPORTAMENTO NA CONTEMPORÂNEIDADE
Ao individuo contemporâneo,
reduzido a si mesmo, cabe promover a recusa do seu acontecer social formatado
pela integração de personas, das mascaras impostas pelos padrões de
sociabilidade e identidade cristalizados pela tradição.
Atualmente, cada um pode reaprender-se
através de todas as lacunas de sua existência concreta, pelos devaneios do “poderia-ser”.
Não se trata da reivindicação de qualquer egoísmo utópico ou idealista, mas da
simples constatação de que todas as verdades coletivas deixaram de fazer pleno
sentido.
Já não existem respostas as nossas angustias e
ansiedades privadas que não passe por uma reinvenção das sociabilidades. As
formas tradicionais de estar entre os outros perderam a hegemonia e já não existe um roteiro social pré definido
por um ethos universal.
O comportamento do individual nunca foi tão
livre para reconfigurar-se sem o peso de um dever ser. Os insondáveis meandros
da liberdade de cada um definir
autonomamente suas estratégias de significação do mundo. A individuação está na
ordem do dia do acontecer social.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO
O ato da
leitura, tal como o da escrita, é uma atividade criativa. A interpretação de um
texto literário, sua re codificação como experiência do leitor, é uma reinvenção
ou recomposição daquilo que é lido e não a simples e passiva atividade assimilativa
de uma narrativa.
Um texto literário deve nos dizer algo tanto
quanto nos permitir uma leitura de nós mesmos de uma perspectiva não ordinária.
Ou seja, ele não é “informativo”, mas “simbólico”, no sentido em que nos revela
alguma coisa que transcende o que é simplesmente dito.
Eis o que nos
proporciona a interpretação: a possibilidade de redimensionar uma narrativa a
ponto de incorpora-la a nossa própria
experiência vivida através de uma
projeção psicológica.
Quando uma obra nos
provoca uma releitura de nossa própria experiência do real, quando nos
identificamos com seu conteúdo simbólico e imagético a ponto de dramatiza-lo no
plano de nossos dilemas e emoções intimas, ampliamos nosso campo de
significações e codificações do real.
Assim sendo, a
leitura tem, em certa medida, um efeito passional ou afetivo, e nos leva a
experiência de imagens e ideias das quais já “participamos”. Diria que
geralmente nos interessamos por autores que nos dizem algo que responde as
nossas inquietudes.
Ler
é uma forma de evasão...
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
ESTRANHAMENTO
Ontem foi um dia banal.
Apenas lidei com o previsível dos fatos mornos,
Com o fardo do sempre igual.
O tempo passou miúdo e abstrato
Entre os meus vazios.
E eu quase me surpreendi outro
No estranhamento do meu próprio rosto.
No fundo é muito esquisito
Tudo aquilo que tomo
Como familiar.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
COISAS DITAS
De que modo o dito pode ser desdito?
As palavras ditas se cristalizam,
Mesmo quando esquecidas.
Possuem surpreendente autonomia
Sobre as intenções de seus autores.
Por isso cuidado,
Seja responsável ao dizer qualquer coisa,
Pois as palavras se
fecham em si mesmas
Depois de pronunciadas.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
ALÉM DA DICOTOMIA SUJEITO E OBJETO
A objetivação da realidade
através do conhecimento cientifico apenas nos faz prisioneiros de conceitos abstratos e
pragmáticos. Ela formatou a realidade de tal maneira que nos fez subestimar a dimensão irracional de nossas representações
do mundo. Somos movidos pela
vontade e ela, em ultima instância, molda
o modo como percebemos objetivamente a realidade. Pensar é também um modo de
perceber e ter consciência das coisas, é
o que define a vontade como um continuo impulso para além de si mesmo. Pensar e
querer equivalem na apreensão do mundo. Pois tudo que concebemos como realidade
objetiva é representação, parte de nosso
próprio acontecer no mundo enquanto ente. Assim, a realidade é uma configuração
subjetiva e pouco faz sentido a clássica dicotomia entre sujeito e objeto, pois
ambos coincidem enquanto gramatica de mundo e no ato cognitivo na medida em que
o sujeito define o objeto e ambos existem como ato linguístico.
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