terça-feira, 2 de agosto de 2016

HANNAH ARENDT E A DIGNIDADE DA POLITICA

“Essa falta de significado não é um problema inventado. É um fato real que experimentaríamos todos os dias se nos déssemos ao trabalho de não apenas ler o jornal, mas também, por indignação com a balbúrdia em que se transformaram todos os problemas políticos, de levantar a questão de como, dada essa situação, as coisas poderiam ser feitas de forma melhor.”

ARENDT, Hannah. A Promessa da Política. Rio de Janeiro: DIFEL, 2008.

Qualquer intervenção em um mundo comprometido em suas significações deve recusar o terreno das idealizações e utopias sociais. Mais do que isso, deve partir do banal, da micro realidade do existir cotidiano, para recodificar o mundo que existe em cada indivíduo. Pois a simples manutenção da existência privada e o consumo de bens aprisionou o eu a suas próprias imagens, o afastou do plano da ação politica ao colocar-se no centro de nossas preocupações coletivas.


Quando o ciclo produtivo se tornou a suprema preocupação da sociedade moderna  a politica deixa de garantir a vida em seu sentido mais amplo, parou de se ocupar do mundo e se degenerou na simples consideração da produção e reprodução material da existência, afastando-se de qualquer ideal de liberdade.


A CONDIÇÃO PÓS MODERNA E O FLUXO DO AGORA

A imersão na contemporaneidade, no moderno como imediato agora onde o simples instante se faz eternidade submergindo a consciência, é o que nos induz ao transe da inflação de todos os cinco sentidos.

Tudo que importa é o fluxo frenético do raso de experiências que inventam subjetividades desfocadas.

A tradição e a verdade apodrecem na geladeira da História enquanto cozinhamos o futuro em fogo brando.

Nada mais importa muito, nem mesmo nossas vidas presas no espelho.


SOBRE O O LADO DE FORA DAS PALAVRAS

“A palavra não é desprovida de sentido, já que atrás dela existe uma operação categorial, mas ela não tem esse sentido, não o possui, é o pensamento que tem um sentido, e a palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é apenas um acompanhamento exterior do pensamento” 
Merleau-Ponty

 Nascemos do mundo e nascemos no mundo. Esta ambiguidade nos define como seres viventes inventando cotidianamente a realidade , antes de tudo, como um fato gramatical, como narrativa.
A palavra é o mundo que só existe na medida em que o digo, em que o significo. Existe , portanto, uma exraterrtoriedade da palavra que é sua dimensão de experiência, de consciencia da coisas. Mesmo que toda a possibilidade de ser só tem realidade através de nossos enunciados.


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

SOBRE A DECADÊNCIA DO DIÁLOGO

Uma condição para realização de um dialogo é o compartilhamento de determinados pressupostos comuns que tornem possível o entendimento mútuo. É necessário que o existe certa cumplicidade conceitual ou gramatical  entre os  interlocutores. Mas hoje em dia  tal coisa não acontece muito frequentemente na arena da vida  concreta. São cada vez mais diversas as possibilidades de codificação da realidade que chego a duvidar as vezes se habitamos todos o mesmo mundo. Por  isso predominam os dissensos  e antagonismos. Diálogos autênticos são cada vez mais raros...


quinta-feira, 28 de julho de 2016

ROMANTISMO E INQUIETUDE

Foram os poetas do velho romantismo europeu que nos legaram a nobre perícia de fazer a arte florescer através do difuso sentimento de que  padecemos da elementar dificuldade de viver em conformidade com o mundo.

Desde então,  através do cultivo da nossa frágil e jovem subjetividade , aprendemos a impossibilidade da estabilidade existencial na modernidade.


Desde então, oscilamos entre o tédio, a inquietude nervosa e a monotonia mecânica da vida cotidiana no desdizer dos fatos.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O QUE É A REALIDADE?

O conceito de realidade extrapola a dualidade clássica entre o inteligível e o sensível , ou entre aparência e essência, estabelecida pelo materialismo vulgar. Isso acontece  na medida em que por realidade entendemos  a totalidade de tudo aquilo que de algum modo existe, seja como produto da mente humana ou como um dado  objetivo e natural. Assim, o ficcional não é uma “falsificação”, um equivoco a ser desconsiderado, mas compreende certa modalidade do real que não deve ser negligenciado como tal.

Tudo que podemos “conhecer” são nossas próprias representações da realidade e  codificações culturais, logo a realidade é, antes de tudo, mais  uma convenção social do que um dado fenomenológico. Tal enunciado, entretanto, só pode fazer sentido quando desatrelamos o conceito de realidade do conceito de verdade contrariando o senso comum. O que é o mesmo que dizer que realidade e imaginação não são termos excludentes já que do ponto de vista mais elementar nossa mente concebe a realidade fenomenológica através de imagens ainda não articuladas pelo pensamento dirigido dos signos gramaticais.


terça-feira, 26 de julho de 2016

SHOPENHAUER E O FRAGMENTO COMO PREMISSA DO PENSAR FILOSOFICO

Até onde eu sei o aforismo foi introduzido na filosofia por Arthur  Shopenhauer  em franca oposição aos enunciados dedutivos dos sistemas filosóficos como o de seu eterno desafeto Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Assim, podemos atribuir-lhe um modo novo de exercitar o pensamento filosófico que encontrou e Friedrich Wilhelm Nietzsche um dos mais fecundos herdeiros.
Não se trata apenas de uma questão de estilo, mas de uma consideração do particular, do fragmento, como uma estratégia discursiva que busca fugir a gaiola dourada dos conceitos e da narrativa monolítica de uma racionalidade estreita.
O fragmento se faz através de um “dizer aberto” onde o todo não é a soma das partes e se realiza no pressuposto de seus inacabamentos e silêncios.
As mais fecundas narrativas são como complexas tapeçarias artesanal e pacientemente tecidas em imaginações de caleidoscópio. Afinal, nossa própria condição de seres viventes é fragmentada, multifacetada e aberta a possibilidades quase infinitas de interpretações e reelaborações.


Em resumo, as lacunas de uma narrativa são tão necessárias quanto a sua intencionalidade. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

SOBRE VERDADE E VERACIDADE

A veracidade de um argumento não o faz verdadeiro. Tudo depende da qualidade de suas premissas. Uma boa argumentação pode se sobrepor a verdade mediante a persuasão de seus enunciados. Por isso, mesmo quando impotentes contra um bom argumento, não somos convencidos a aderir a ele e replica-lo.


Entendo aqui verdade não como uma correspondência entre as palavras e as coisas. O que só pode ser concebível em um plano ideal. A verdade não passa de um sentimento quanto a qualidade de determinado enunciado cuja validade nos parece evidente. Por isso não se deve concebe-la em termos absolutos. Há sempre enunciados paralelos e concorrentes sobre determinado assunto igualmente aptos a condição de verdade. Mas quando estamos certos de determinada coisa, não consideramos nossa parcialidade como premissa da convicção. Sempre julgamos nossa subjetividade um ato de objetividade.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

CONVITE A HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

A História do tempo presente nos desafia a reflexão sobre quem somos e sobre o que estamos vivendo. Toma para si a responsabilidade do agora na problematização dos seus impasses e possibilidades.

Cabe aqui considerar a seguinte ponderação a fim de inspirar uma consideração do tema:

 “Sobre os motivos que teriam levado ao desabrochar deste campo historiográfico, comentam Agnès Chauveau e Philippe Tétart que seriam a história renovada do político, o impacto de geração e o fenômeno concomitante de demanda social.4 Para estes dois autores, esta modalidade historiográfica seria tributária dos anos 1950, quando a sociedade demandava esclarecimentos a respeito dos traumas que vivera. Essa produção histórica, simétrica à demanda social, teria como raízes ainda o “aumento e a aceleração da comunicação, a renovação progressiva da imprensa e da edição, a elevação do nível de estudo e a força dos engajamentos ideológicos, morais, dos anos 50-60”.5 Agnès Chauveau e Philippe Tétart comentam que este campo se ampara no pressuposto metodológico de que a história não é somente o estudo do passado, mas também, “com um menor recuo e métodos particulares, o estudo do presente.”6 Meu objetivo aqui é identificar algumas medidas metodológicas para uma possibilidade – apenas uma dentre outras tantas – de um fazer histórico deste campo.”


Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho. Para uma História do Tempo Presente: o ensaio de nós mesmos. For a Present Time History: the essay of ourselves. In Fronteiras: Revista Catarinense de História, Florianópolis, n.17, 2009 p.137

quarta-feira, 20 de julho de 2016

PARMÊNIDES: A RAZÃO COMO PATHOS

Segundo Parmênides de Eleia, apenas o ser (positivo) é digno do pensamento. Pois o não ser (negativo), na medida em que não é, não pode ser pensado. Parmênides ignora o mundo sensível onde impera o devir e a contingência e estabelece o ser como uno e imutável.  

Para Parmênides  só o ser é e o não-ser não é”. Através de uma cosmologia abstrata ele afirma o primado do pensamento sobre a existência, estabelecendo a razão como caminho da verdade em termos metafísicos.

Sua filosofia afirma a unidade eterna de um ser absoluto. O que nos permite identifica-lo como o fundador da “metafísica”, precursor da afirmação da unilateraridade do intelecto diante do corpo e da experiência sensível. Em outras palavras, sua filosofia estabelece a razão como pathos do intelecto.