Considero o tempo a memória em
movimento, consciência corporal das coisas, que não se restringe ou se enquadra
no tempo linear, cronológico e artificialmente imposto pelas configurações
modernas. O tempo da consciência é formatado pelo lembrar, que une passado e
presente em uma continuidade de experiências abstratas. A organização temporal
da mente não é um dado natural, mas cultural. O tempo é uma experiência mental
que espontaneamente se realiza através de um fluxo de acontecimentos
cumulativos onde a consciência expressa a justaposição de todos os três
momentos temporais (passado, presente, futuro). A imanência é contemporânea de
todo momento temporal, através dela eles coincidem em um só fluxo ou instante
que é a nossa própria pre-sença no mundo. O momento de agora modifica tanto o
antes quanto o depois ao afirmar-se como algo constante e mutável.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 4 de julho de 2016
TÉDIO E EXISTÊNCIA
Tenho me explorado através do tédio
Atravessando todos os abismos de mim mesmo,
Me deslocado de todos os eus,
Dos meus pré moldados cotidianos.
Nenhuma definição dá conta de mim;
Sou como a soma errada de todas as faces que o tempo me
impôs.
Duvido de qualquer determinação ou objetividade
Como fundamento da existência.
Pois em tudo somos indeterminada consciência das coisas.
Mas o que me diz a existência é este intimo mal estar,
O tédio natural de viver desta precariedade de estar no
mundo
Quase a margem de mim mesmo e soterrado na vida.
sexta-feira, 1 de julho de 2016
ALEGORIA E IMAGINAÇÃO
As palavras abrem caminho em
direção ao paradoxo,
tentam dizer o que não pode ser
dito sobre a verdade,
estão quase despidas de seu
próprio significado,
prostituídas pela luxuria da
alegoria.
Melhor não esperar muito de
qualquer narrativa
E se render ao apelo afetivo da
imagem
Que invade a consciência
Como um convite onírico.
A vida se reduz a um exercício de
imaginação.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
O SILÊNCIO DA HUMANIDADE
Em algum ponto da
terra
Pode ser que a humanidade inteira
Se cale,
Que não faça mais diferença
Os juízos, as conclusões e os fatos.
Em algum ponto da Terra
Pode ser que a vida persista
Sem o insano de tanta humanidade,
Princípios, regras e autoridades.
quarta-feira, 29 de junho de 2016
NOTA SOBRE O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
A individuação enquanto processo arquetípico, tal como formulado por
C.G.Jung, estabelece que cada indivíduo naturalmente tende em sua experiência
subjetiva a alcançar a condição de self, a coincidência entre consciente e
inconsciente, mediante a integração de conteúdos da psique objetiva. Trata-se
evidentemente de uma meta que se confunde com o próprio caminho.
A personalidade em individuação
revela a si mesma, paradoxalmente, a dimensão coletiva ou impessoal de sua condição
fenomenológica de modo compensatório e peculiar considerando sua situação
pessoal e cultural. A própria “condição-de-eu” conduz para além de si mesma
através da elaboração de fantasias.
Assim, nossas mais caras
convicções, positiva ou negativamente, longe de expressar um exercício independente
do intelecto e da racionalidade, projetam em grande medida o dinamismo deste
processo irracional e ontológico através do qual nossa condição humana se faz
um verdadeiro quebra cabeça.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
TEMPO ÍNTIMO
Habito um passado
Onde apenas eu existo,
Que jamais foi partilhado
Com aqueles que são parte
Do meu tempo vivido.
Pois cada um existe
Em seu próprio mundo
E intima memoria das coisas.
Cada um porta
solitariamente
O registro de sua
existência.
domingo, 26 de junho de 2016
O MÍNIMO DA EXISTÊNCIA
Minha vida mudou tanto nos últimos anos, que já não me reconheço nela. Quem eu sou ficou no passado. E o tempo presente é apenas o agora dos cacos de vontades, de afetos e especulações existenciais que habitam a orbita de algumas incertezas e acasos.
Tudo que sei é que sou este corpo, cada vez mais desgastado, no aqui e agora. Nada mais do que isso.
Talvez a existência seja uma mera ilusão da consciência.
sexta-feira, 24 de junho de 2016
SOBRE O EU LÍRICO CONTEMPORÂNEO
O transitório, o efêmero e o
contingente são hoje em dia lugares comuns para definir nossa condição humana
nos cenários definidos pela cultura e sensibilidades contemporâneas. Eternidade e permanência, referenciais
negativos da modernidade de um eu lírico em crise foram, ao contrário, superados .
Diferente da modernidade, a
contemporaneidade não tem como questão a crise do sujeito, mas, simplesmente,
seu deslocamento e desaparecimento como lugar de produção de um discurso
articulado a partir do hiato estabelecido entre o passado e o presente.
O passado e o presente foram
nivelados a simulacro, e, enquanto referencias de articulação de eu discursivo,
reduzidos a imagens de evasão e negação.
O eu lírico contemporâneo é um
desenraizado de si mesmo que persegue o quebra cabeça que é sua própria condição de existente vindo
de um passado que hoje assombra o onírico e um presente estático e vazio de
significados.
O fragmento, o nonsense, o
silêncio e até mesmo a imagem crua são sua forma de expressão. Para ele tudo
que resta são as ruinas da literatura e o cadáver do futuro.
UM POUCO DE POESIA
Gostaria de um pouco de poesia,
Deste inútil artificio de desencantados
Para suportar a rotina,
Os gritos do sentir mais fundo.
Preciso de alguns versos
Para lidar com esta
desesperada necessidade
De ir contra tudo e todos.
Sei que o ser não tem consistência,
O quão frágil é a palavra
E o significado das coisas
Que me sustentam.
É transitando entre o nada
E o nada
Que constantemente me reinvento.
quinta-feira, 23 de junho de 2016
SOBRE A PERCEPÇÃO DAS COISAS
O eu esta no objeto que a nós se
apresenta como realidade do mundo.
A consciência é sempre um
acontecer fora, uma ausência de si mesmo através da percepção. Por isso não há
como chegar a qualquer conclusão sobre a experiência humana da realidade. Pois
nunca conseguiremos concebe-la “de fora”. Só é possível dizer que a percepção
não é mimese, não apresenta a realidade a partir de sua objetividade, mas de
acordo com nossa forma de perceber as coisas. Em outros termos, o corpo é a
condição do pensamento. O intelecto é um
acontecimento físico e não um vago e indeterminado processo metafisico. Estamos
o tempo todo através do espaço inventando e reinventando a realidade. Só que
não nos damos conta disso. Mas a constância é ilusória. A descontinuidade é uma
premissa da percepção, por mais que nos confrontemos o tempo todo com um mundo
de experiências que se repetem.
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