sexta-feira, 22 de abril de 2016

SENTIMENTO E CODIFICAÇÃO DE MUNDO

Esclarecer como os sentimentos  e emoções  se expressam através  das configurações  específicas  de uma dada codificação  cultural, é  a elementar premissa da  compreensão do acontecer humano em seu devir individual e coletivo.
Um modo de existir é  também  um modo de sentir; o sentir das coisas,  sua valoração,  é  também  uma forma de auto consciência. 
Assim, é  preciso levar sempre em consideração como dado imaginário constelado define o querer viver frente a inadaptação da consciência  a uma realidade objetivamente dada .

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SOBRE IMAGÉTICA E DECADÊNCIA DA LINGUAGEM

Uma imagem só é capaz de dizer mais que a palavra quando o pensar extrapola certezas e se dissipa na ambiguidade e fluidez de um devaneio. É preciso que o pensar se cale,  que o corpo se renda a uma impressão estética e a fantasia irracional de uma significação precária.  Mas nunca um quadro será capaz de nos atingir com a mesma intensidade de um bom romance. Assim me parece enquanto a existência exigir uma boa dose de reflexão. Entretanto, uma boa leitura pode ser substituída por um bom filme.

terça-feira, 19 de abril de 2016

UM DIA QUALQUER

Hoje é apenas um dia
Depois de ontem.
Provisório e pre definido
Como as linhas de um romance ruim.

Hoje é apenas mais um dia
Escrito na televisão e jornais.
Quem sabe amanhã

Não tenhamos melhor sorte?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

AUTONOMIA E SUBJETIVIDADE

É a carência de autonomia, a inversão entre os meios e os fins, a dissociação da unidade do sujeito e a implosão da subjetividade, que nos lança agora ao desvairado exercício de uma metacrítica da existência ordinária.


Quando a vida se torna refém de ficções coletivas e nos reduzimos a unidades de consumo impessoal, a própria ideia de sociedade perde substância e a reflexão não passa de mitificação vazia.

ESCREVA CONTRA O MUNDO...

O mundo vem se tornando cada vez mais monocromático, previsível e tedioso.

Nos esgotamos em nossas rotinas padronizadas, em nossos pensamentos domesticados de realidade. A singularidade humana, o espaço da privacidade e da construção permanente da singularidade, já não é uma questão com a qual a maioria se importe. Estamos nos esquecendo de ser... O mundo já não é mais habitado por indivíduos. Talvez nunca tenha sido.


Só resta a estratégia de uma  expressividade narrativa , de uma conversão de si mesmo em linguagem, na invenção de um universo abstrato de reflexões que nos  sirva de exílio do próprio real. Por isso escrever ainda faz sentido. 

terça-feira, 12 de abril de 2016

AQUELE RETRATO

Ainda guardo no bolso
Aquele retrato
De dias melhores,
De circunstâncias perdidas
Que nada mais comunicam
Ao aqui e agora.
Em nossos
Descaminhos de existência
Alimentamos passados
Para suportar o presente.
O futuro já não cabe
Em nossas vidas.
Apenas o imediato,
O agora e o fato.
Aquele retrato

Já não diz quem somos.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

DESVIO

A ordem das coisas, a ordem das aparências, não pode mais ser confiada a qualquer matéria de saber. O pensamento,  eu o quero paradoxal, sedutor- com a condição, evidentemente, de não tomar por sedução a manipulação aduladora, e sim como um desvio de identidade, um desvio de ser.”
JEAN BAUDRILLARD in SENHAS

O conhecimento hoje em dia  tornou-se antes de tudo objeto de si mesmo. Ele é seu próprio questionamento, um ato de desvio e duvida corrosiva sobre o sentido e significado das coisas. O conhecimento deve ser reduzido a sua premissa subjetiva e, como tal, declinar do seu valor de verdade objetiva. Tudo que fazemos  através da reflexão abstrata, afinal, é estabelecer e reinventar as bases das codificações humanas daquilo que conhecemos como realidade.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

NARRATIVAS BIOGRAFICAS E FANTASIA IDENTITÁRIA

Não sou capaz de falar sobre  o que para mim permaneceu invisível ao longo do acontecer da existência. Sou incapaz de qualquer releitura significativa das coisas que transcenda a simples auto percepção ou reivindique alguma “objetividade” ou simples distanciamento dos fatos.

Não posso me saber de um ponto externo ao meu peculiar sentimento de mundo. A existência particular é um dado irracional e aleatório que, apesar de todas seus condicionantes objetivos, escapa ao calculo e a avaliação racional. Por isso sou cético com relação a biografias.

Uma narrativa biográfica é uma fantasia pessoal onde são impostos significados e propósitos íntimos a acontecimentos e fatos artificialmente reconstruídos e contextualizados dentro de um dizer de mundo peculiar subjetivo.


 Mas há um profundo condicionante psíquico para tal esforço de balanço existencial que, na maioria dos casos, não é levado em consideração.  O silencio e o invisível de nossas ruinas ontológicas não se presta a teleologia vazia da unilateralidade de uma racionalidade  egóica.  Nossas representações são sempre fantasiosas e é justamente a reinvenção do real, e não sua objetivação , que torna a narrativa biográfica interessante.

terça-feira, 5 de abril de 2016

EM CASO DE DÚVIDA VIDE SCHOPENHAUER


Pensar é transcender a vontade como coisa em si e a necessidade de mundo como um imperativo biológico. Em caso de duvida, vide Schopenhauer...  Só sei que já estou farto da imbecibilidade cotidiana e dos lugares comuns da vida  da espécie. Já não suporto a necessidade como condição perversa da construção da minha ainda possível subjetividade. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O VAZIO DA EXISTÊNCIA

“Se deixarmos de contemplar o curso do mundo como um todo e, em particular, a efêmera e cômica existência de homens enquanto sucedem um ao outro rapidamente para observar a vida em seus pequenos detalhes: quão ridícula é a visão!

Impressiona-nos do mesmo modo como uma gota d’água, uma simples gota fervilhando de infusoria, é vista por um microscópio, ou um pedaço de queijo cheio de carunchos invisíveis a olho nu. Sua atividade e luta uns contra os outros em um espaço tão pequeno nos entretém grandemente. Acontece o mesmo no pequeno lapso da vida – uma grande e séria atividade produz um efeito irrisório.”

Arthur Schopenhauer in O vazio da Existência


O VAZIO DA EXISTÊNCIA

O que ainda resta a fazer enquanto o tempo passa?
Talvez apenas escrever sobre a incerteza de ser,
sobre nossas faltas e silêncios,
até que a noite nos cubra para sempre.
Nunca enxergamos as imperfeições ,
o disfuncional e vexatório de nossas vidas.
O banal nos escapa.
Por isso é fácil seguir a favor dos fatos.
que cada vez mais carecem de significados.