segunda-feira, 7 de março de 2016

ESTRATÉGIAS DE SUBJETIVIDADE

Enquanto a vida passa
de um dia ao outro
vou me relendo ao longo do tempo.
Não me reconheço hoje
naquilo que acreditava ontem.
Não quero mais ser  na ilusão
de qualquer outro.
Prefiro viver livre
dos pressupostos,
dos cálculos e objetivos
de um futuro que nunca será.
a vida está apenas passando
e o tempo já não me diz
coisa alguma.
Preciso respirar em espaços abertos,
provar o  vento
e reinventar distâncias.


AS ESTRATÉGIAS DA INDIVIDUALIDADE

Existe um paradoxal dialogo entre o improvável e o inevitável que obscurece o alcance de nossas opções subjetivas.  Nossas escolhas estão condicionadas a representações coletivas e jogos intersubjetivos. Não somos livres das convenções e circunstancias interpessoais. No exercício de nossa autoconsciência e posicionamentos mais irracionais e circunscritos em nossas configurações privadas de mundo e realidade, apenas em nossa desfuncionalidade podemos nos considerar relativamente autônomos diante da existência coletiva.

O exercício da individualidade, suas  estratégias de construção, a operacionalidade privada inspirada em alguma não muito clara noção de interioridade, não é um problema muito simples. Mas precisa ser enfrentado.

Na sociedade ocidental /contemporânea cada individuo  tende a apostar no improvável contra o inevitável do curso de uma trama de acontecimentos. Somos  inspirados pelo desejável de um arranjo feliz das coisas vividas. Mas isso nos conduz normalmente a decepção e a frustração.


sexta-feira, 4 de março de 2016

ELOGIO A JEAN BAUDRILLARD

Enxergamos o mundo através dos objetos, da sua sedução e capacidade de formatar a realidade.  Movidos pela necessidade que se produz e se reproduz continuamente através dos nossos corpos, vivemos no fluxo das coisas, no intimo acontecer dos signos e símbolos que estruturam abstratamente a própria vida.

Em grande medida, viver é apenas um ato de imaginação.  Inventamos o mundo através das coisas que criamos e, cada vez mais, as coisas se justapõem ao humano na orgia dos objetos.


quinta-feira, 3 de março de 2016

TRANSVALORAÇÃO

Falta a palavra agora
a possibilidade da novidade,
a capacidade de redizer o mundo
através de uma única frase
antes que o cotidiano
definitivamente nos mate.
Talvez seja tarde
para dizer o que transcende
a verdade.


terça-feira, 1 de março de 2016

EU E OS OUTROS

Não importa o que eu faça,
minha existência apenas acontece
sob o olhar dos outros.
Os outros tem sempre a palavra,
a realidade na ponta da língua
enquanto o  mundo me aperta a cabeça
no dizer do meu próprio pensamento.
Preciso ir embora,
fechar a porta e abrir a janela.
Nada será diferente depois de amanhã.
Só preciso dormir um pouco

na contramão dos outros.

REALIDADE ILEGIVEL

Todos os discursos me parecem vazios e limitados
no opaco de todo significado e possibilidades de enunciados.
Estamos saturados de palavras,
afogados em frases feitas, conceitos, valores
e filosofias.
Já estamos fartos de  verdades.
O que ainda pode ser escrito,
fazer sentido e não ser banal?
As palavras não mudam o mundo,
não transformam a vida.

Nada esta acontecendo agora...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

VIVER PARA SI MESMO

A personalidade consciente é uma espécie de satélite da consciência coletiva personificado pelo arquetípico da persona. O ego, entretanto, pode romper a tendência a identificar-se com ela na medida em que se conecta a conteúdos de fantasia que sob certas circunstancias emergem do inconsciente e, contrariando as formatações culturais e sociais em que se inscreve determinado indivíduo,  joga luz sobre possibilidades novas  e afetivas que transformam a consciência que ele tem de si mesmo. Assim, individuar-se é um viver  “para- si” diante de todas as imposições do gênero humano.


LEMBRANÇAS DE VIDA

Minha memória pessoal  extrapola acontecimentos através da experiência radical dos objetos midiáticos. Assim, minha sensibilidade, a  lembrança de determinada época,  confunde-se com a experiência de series televisivas, consoles de vídeo games, musicas e toda sorte de impessoalidade artificial. Quase já não lembro mais de mim mesmo.

Nossa existência é rala, como provam os lugares de nossa memória pessoal.  Não vivemos em uma cultura  na qual a lembrança é de fato valorizada enquanto estratégia de individuação.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O TEXTO ABERTO

O texto aberto,
sem fim ou começo
cresce em direção ao horizonte.
Não diz nada de importante,
apenas cresce a cada palavra,
a cada equivoco, angustia
e duvida.
O texto aberto lê minha existência,
contempla minha falência
e de ante mão sabe

que eu não existo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

NOTA SOBRE O SISTEMA DOS OBJETOS DE JEAN BAUDRILLARD

Para Baudrillard o consumo é o fundamento de todo sistema cultural, um modo ativo de relação, a totalidade virtual de todos os objetos e mensagens, uma atividade de manipulação sistemática de signos,  o consumo é a própria relação. Neste sentido,  quando  pensamos o mundo moderno e contemporâneo,

“Vemos que tipo novo de habitante se propõe como modelo: O “homem de arranjo” nem é proprietário nem simplesmente usuário e sim um informante ativo da ambiência. Dispõe do espaço como de uma estrutura de repartição e através do controle deste espaço detém todas as possibilidades de relações recíprocas e portanto a totalidade de papeis que os objetos podem assumir.”( Ele mesmo dever ser portanto ‘funcional’, homogêneo como este espaço caso queira que as mensagens do arranjo possam partir dele e para ele voltar.). Não é nem a posse nem a satisfação  e sim a responsabilidade que lhe importa no sentido próprio em que arranja a possibilidade permanente de ‘respostas’. Sua  práxis é exterioridade completa. O habitante moderno não ‘consome’ seus objetos. (...) Ele os domina, os controla, os ordena. Encontra-se dentro da manipulação e do equilíbrio tático de um sistema.”

(Jean Baudrillard. O sistema dos Objetos. SP: Editora Perspectiva, 2002, p.32)

O consumo,em sua dimensão simbólica,confunde-se com o próprio mundo como devir infinito de intercâmbios e possibilidades, como arranjo quase infinito de possibilidades, como movimento e fluxo constante de coisas.


Mas tal reflexão corresponde a um momento da obra de Baudrillard anterior as suas  formulações  sobre as “Estrategias Fatais"  e a “troca impossível" ...